Por Beth Koike | De São Paulo
A Igreja Metodista está negociando a venda de cinco de suas oito instituições de ensino superior por um valor estimado em R$ 250 milhões, segundo fontes próximas à transação.
Entre os ativos que podem ser vendidos estão a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), Faculdade de Birigui, Centro Universitário Izabela Hendrix, em Belo Horizonte, Centro Universitário de Porto Alegre (IPA) e a Faculdade Metodista Santa Maria, ambas no Rio Grande do Sul. Essas cinco instituições têm juntas cerca de 25 mil alunos - o que representa quase metade dos 53 mil estudantes da rede Metodista. A negociação não engloba o patrimônio imobiliário, apenas os alunos e a mantença (CNPJ) das instituições.
Cerca de seis ou sete grupos nacionais e estrangeiros estão analisando a transação. Segundo o Valor apurou, entre eles estão a Ser Educacional, Cruzeiro do Sul, Laureate e Whitney. Porém, esses mesmos grupos também estão de olho na Uniasselvi, universidade de ensino a distância que a Kroton colocará à venda por exigência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) na fusão com a Anhanguera. Em 2011, a Kroton pagou R$ 510 milhões pela Uniasselvi e que agora deve ser negociada por cifras maiores.
O processo da Metodista está sendo coordenado pela KPMG e encontra-se em fase de diligência. Até meados de setembro os interessados devem enviar suas propostas oficiais.
Trata-se da primeira transação no setor de educação envolvendo entidades mantidas pela Igreja. Outras universidades confessionais são a PUC, ligada à Igreja Católica, e o Mackenzie, da Igreja Prespiteriana, entre outras.
A Metodista enfrenta problemas financeiros há pelo menos dez anos. A Unimep - a segunda maior universidade do grupo com 12 mil alunos e o principal ativo à venda - tem um alto passivo tributário gerado após a universidade perder o certificado de filantropia. Segundo uma fonte do setor, o endividamento fiscal equivale a três vezes o valor do faturamento.
Os 12 mil alunos da Unimep pagam em média R$ 1,1 mil de mensalidade, o que geraria uma receita de cerca de R$ 13 milhões. Mas esse valor deve ser inferior, uma vez que a universidade concede bolsas de estudo para 20% dos seus alunos, conforme exige a legislação para instituições filantrópicas. Mesmo sem a isenção de impostos, a Metodista continua concedendo o benefício e discute o caso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em 2006, a Unimep demitiu quase 150 professores, alegando que 82% da receita era destinada a salários e encargos trabalhistas. Na época, a dívida bancária somava R$ 30 milhões.
Além das dívidas, a Unimep enfrenta um problema de posicionamento de mercado. A universidade com campi em Piracicaba, Santa Barbara D'Oeste e Lins, concorre com outras faculdades de cidades próximas, como Ribeirão Preto e Campinas, que têm um melhor reconhecimento acadêmico.
Nas negociações junto aos grupos investidores, uma das possibilidades é a Igreja Metodista vender as instituições sem incluir as dívidas, e alugar os imóveis para o novo dono e, assim, gerar receita.
Procurada pelo Valor, a Metodista comunicou que prefere não se pronunciar e as outras instituições informaram que não comentam rumores de mercado.
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