sábado, 11 de abril de 2015

Cerveja: as grandes marcas brasileiras omitem que o que você bebe é milho


Cerveja: o transgênico que você bebe? Sem informar consumidores,

Ambev, Itaipava, Kaiser e outras marcas trocam cevada pelo milho 

e podem estar levando à ingestão inconsciente de OGMs

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Flavio Siqueira Júnior e Ana Paula Bortoletto, Outras Palavras
Vamos falar sobre cerveja. Vamos falar sobre o Brasil, que é o 3º maior produtor de cerveja 
do mundo, com 86,7 bilhões de litros vendidos ao ano e que transformou um simples ato de
 consumo num ritual presente nos corações e mentes de quem quer deixar os problemas de
 lado ou, simplesmente, socializar.
Não se sabe muito bem onde a cerveja surgiu, mas sua cultura remete a povos antigos. Até 
mesmo Platão já criou uma máxima, enquanto degustava uma cerveja nos arredores do
 Partenon quando disse: “era um homem sábio aquele que inventou a cerveja”.
E o que mudou de lá pra cá? Jesus Cristo, grandes navegações, revolução industrial,
 segunda guerra mundial, expansão do capitalismo… Muita coisa aconteceu e as mudanças 
foram vistas em todo lugar, inclusive dentro do copo. Hoje a cerveja é muito diferente daquela 
imaginada pelo duque Guilherme VI, que em 1516, antecipando uma calamidade pública, 
decretou na Bavieira que cerveja era somente, e tão somente, água, malte e lúpulo.
Acontece que em 2012, pesquisadores brasileiros ganharam o mundo com a publicação de 
um artigo científico no Journal of Food Composition and Analysis, indicando que as cervejas
 mais vendidas por aqui, ao invés de malte de cevada, são feitas de milho.
Antarctica, Bohemia, Brahma, Itaipava, Kaiser, Skol e todas aquelas em que consta como 
ingrediente “cereais não maltados”, não são tão puras como as da Baviera, mas estão de 
acordo com a legislação brasileira, que permite a substituição de até 45% do malte de cevada
 por outra fonte de carboidratos mais barata.
Agora pense na quantidade de cerveja que você já tomou e na quantidade de milho que ela
 continha, principalmente a partir de 16 de maio de 2007.
Foi nessa data que a CNTBio inaugurou a liberação da comercialização do milho transgênico
 no Brasil. Hoje já temos 18 espécies desses milhos mutantes produzidos por MonsantoSyngentaBasf,BayerDow Agrosciences e Dupont, cujo faturamento somado é 
maior que o PIB de países como Chile,Portugal e Irlanda.
Tudo bem, mas e daí?
E daí que ainda não há estudos que assegurem que esse milho criado em laboratório seja
 saudável para o consumo humano e para o equilíbrio do meio ambiente. Aliás, no ano 
passado um grupo de cientistas independentes liderados pelo professor de biologia 
molecular da Universidade de Caen, Gilles-Éric Séralini, balançou os lobistas dessas 
multinacionais com o teste do milho transgênico NK603 em ratos: se fossem alimentados
 com esse milho em um período maior que três meses, tumores cancerígenos horrendos 
surgiam rapidamente nas pobres cobaias. O pior é que o poder dessas multinacionais é tão 
grande, que o estudo foi desclassificado pela editora da revista por pressões de um novo 
diretor editorial, que tinha a Monsanto como seu empregador anterior.
Além disso, há um movimento mundial contra os transgênicos e o Brasil é um de seus
 maiores alvos. Não é para menos, nós somos o segundo maior produtor de transgênicos do
 mundo, mais da metade do território brasileiro destinado à agricultura é ocupada por essa controversa tecnologia. Na safra de 2013 do total de milho produzido no país, 89,9% era
 transgênico. (Todos esses dados são divulgados pelas próprias empresas para mostrar 
como o seu negócio está crescendo)
Enquanto isso as cervejarias vão “adequando seu produto ao paladar do brasileiro” pedindo 
para bebermos a cerveja somente quando um desenho impresso na latinha estiver colorido, disfarçando a baixa qualidade que, segundo elas, nós exigimos. O que seria isso se não 
adaptar o nosso paladar à presença crescente do milho?
Da próxima vez que você tomar uma cervejinha e passar o dia seguinte reinando no banheiro,
 já tem mais uma justificativa: “foi o milho”.
Dá um frio na barriga, não? Pois então tente questionar a Ambev, quem sabe eles não estão
 usando os 10,1% de milho não transgênico? O atendimento do SAC pode ser mais atencioso
 do que a informação do rótulo, que se resume a dizer: “ingredientes: água, cereais não 
maltados, lúpulo e antioxidante INS 316”.
Vai uma, bem gelada?
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