Semana marcada por cortes drásticos na Folha e no Estado terminou com uma parceria entre o governo federal e o Facebook para levar internet gratuita a 200 mil pessoas na favela de Heliópolis, em São Paulo; "A escalada de demissões de profissionais da imprensa nos últimos dias, Folha 50 jornalistas, Estadão 100, Jornal Nacional despencando sua audiência, mostra que o setor está arruinando numa velocidade inimaginável", diz o jornalista e escritor Laurez Cerqueira; "A internet deu voz a todo mundo, criou verdadeiras praças, que são as redes sociais, tribunas eletrônicas com liberdade de expressão quase absoluta e a possibilidade de checar informações"; "Sobreviverá nessa selva eletrônica quem produzir informações confiáveis, um jornalismo honesto, e que tenha bons intérpretes da realidade"
11 DE ABRIL DE 2015 ÀS 11:29
Pensando alto e em rascunho
(*) Laurez Cerqueira
A escalada de demissões de profissionais da imprensa nos últimos anos e nos últimos dias, 50 jornalistas da Folha, 100 do Estadão, Jornal Nacional e outros telejornais despencando as audiências, mostra que o setor está arruinando numa velocidade inimaginável.
Grandes grupos como Estado, Abril, SBT e outros estão colocando à venda patrimônios, maquinários, antenas, rotativas gigantescas, e não conseguem compradores. O destino delas pode ser os museus.
O Grupo Abril, por exemplo, fechou várias revistas, demitiu 150 funcionários, desocupou metade do prédio, sede da empresa. O jornal O Sul deixou de circular a edição impressa recentemente, editores de revistas semanais já discutem manter apenas a edição eletrônica.
O Brasil, segundo o IBGE, é o país onde mais cresce o acesso à internet no mundo. No final de 2014 chegou a 108 milhões de internautas. Superou o Japão.
É também o 6º país com o maior número de smartphones. Isso quer dizer que os conteúdos estão na palma da mão e não mais na banca de revista ou na tv da sala.
Ou seja, grandes grupos de comunicação estão agora disputando espaço na rede em condições iguais com qualquer outro estabelecido ou que queira se estabelecer.
A questão é a capacidade instalada de produzir conteúdo. Pequenas equipes podem gerar grandes negócios.
A queda de audiência e das tiragens dos impressos fizeram com que os anunciantes buscassem outros meios para veiculação da propaganda de seus produtos, migraram na internet ou criaram seus próprios sites.
Com isso as receitas dos meios tradicionais, TVs, jornais, revistas e rádio despencaram. Começou a ganhar força a desconcentração da publicidade e a pulverização para alcance de maior número de internautas.
Um importante jornal de Brasília, em 2010, tinha uma tiragem de 70 mil exemplares no domingo, numa população de mais de dois milhões de habitantes. Hoje não passa de 30 mil.
Isso por que a internet chegou para ficar e está colocando em xeque um modelo, principalmente de imprensa, que sofre como nunca a perda de credibilidade, conforme apontam pesquisas de opinião.
A internet deu voz a todo mundo, criou verdadeiras praças, que são as redes sociais, tribunas eletrônicas com liberdade de expressão quase absoluta e a possibilidade de checar informações instantaneamente, caso haja dúvida da publicação.
Cada um pode montar seu canal de comunicação. Tamanho agora não é documento. No Congresso Nacional, por exemplo, a onda agora são os parlamentares chamarem seus eleitores nas redes sociais para vê-los falar no Plenário ou nas comissões.
Os mais versados no uso do WhatsApp e em outras redes, são acompahados de um assessor de imprensa munido de celular que filma, edita e posta os pronunciamentos ou entrevistas curtas de opinião deles sobre qualquer assunto.
Além das redes sociais, eles têm seus sites onde postam todas as informações que consideram importantes para seus eleitores.
A decadência dos grandes grupos atingiu também o jornalismo ficcionista, a manipulação da informação, hoje frequentemente desmentida na internet.
A chamada grande imprensa, guardadas devidas excessões, anda desmoralizada e, nesse vácuo, surge com força um novo modelo de imprensa, ainda tentando se equilibrar.
As redações tradicionalmente centralizadas estão sendo fragmentadas, dando lugar às assessorias de imprensa, que crescem nos órgãos públicos e nas empresas.
Sem falar na imensa diversidade de sites especializados, cresce o número de blogs de analistas dos mais variados assuntos: de política, economia, artes, a comportamento de cães.
O que está se desenhando é que sobreviverá nessa selva eletrônica quem produzir informações confiáveis, um jornalismo honesto, com bons intérpretes da realidade, para ajudar a sociedade a entender as transformações do mundo e poder avançar na afirmação da cidadania e na democracia.
Afinal, a credibilidade é a essência do jornalismo.
O fato é que ainda estamos sob impacto do surgimento das novas mídias. A revolução tecnológica nos meios de comunicação ainda é muito recente. Tudo isso está se decantando.
O setor de comunicação é tão importante para o desenvolvimento do país quanto os setores de transporte, indústria, agricultura. Mas não costuma ser tratado com a devida consideração.
Os estudos para verificar o que representa esse setor na composição do PIB ainda são insuficientes, pelo fato de estar passando por intensa transformação.
O governo Dilma vai anunciar em breve um projeto, que está sendo finalizado no Ministério das Comunicações, chamado de Banda Larga para Todos, de universalização da internet para 98% dos domicílios até 2018, com velicidade de 25 Mbps. Hoje a média é de 2,9 Mbps.
Com isso o Brasil se equipara aos países mais desenvolvidos do mundo em oferta de internet de alta velocidade.
Serão investidos R$ 50 bilhões. O governo entra com R$ 15 bilhões e as operadoras com R$ 35 bilhões. Os recursos são do FISTEL – Fundo de Fiscalização das Telecomunicações que tem hoje em caixa R$ 47 bilhões.
É um setor que precisa de um marco regulatório para organizá-lo do ponto de vista econômico, social, cultural e político, pela importância estratégica que representa para a construção da nação democrática e soberana que desejamos.
Creio que seremos capazes de criar meios comprometidos com a civilização para que possamos superar a barbárie.
(*) Laurez Cerqueira é autor, entre outros trabalhos, de Florestan Fernandes
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