Mesmo afastado de suas funções de presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), emplacou, na quinta-feira, mais dois aliados no coração do governo de Michel Temer: a Casa Civil, comandada pelo ministro Eliseu Padilha. Felipe Cascaes e Erick Vidigal terão o mesmo cargo, de subchefes adjuntos da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, e trabalharão na mesma sala.
Cunha já tinha emplacado o deputado André Moura (PSC-SE) como líder do governo.
Cascaes era nomeado assistente técnico de gabinete da presidência da Câmara quando Cunha era presidente. Vidigal é filho do ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Edson Vidigal e escreveu recentemente artigo defendendo Cunha e afirmando que beneficiários de trusts não são necessariamente seus proprietários — tese de defesa do peemedebista. Ele trabalhava com Gustavo Rocha, advogado de Cunha igualmente recém-nomeado para a Casa Civil.
Pela Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ) passam todos os atos e decretos da Presidência da República. O antigo chefe da SAJ era Jorge Messias, que ficou conhecido como “Bessias”, por conta do vazamento de conversas da presidente afastada Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula em torno da assinatura prévia de um termo de posse — que seria levado por Messias.
Procurados, Vidigal e Cascaes não foram encontrados. A Casa Civil e a Secretaria de Comunicação da Presidência não se manifestaram sobre o caso.
NEM “UM ALFINETE”
No Conselho de Ética, Cunha disse que não indicou nem “um alfinete” para o governo Michel Temer. Foi uma reação ao deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), que mencionou a indicação de ex-advogados de Cunha para o Executivo.
— Vossa Excelência não vai me constranger. Se eu, porventura, achar que devo ou que tenho que fazer gestão por indicação, eu faria. Não o fiz. Não tem um alfinete indicado neste governo por Eduardo Cunha. Agora, se as pessoas que são meus correligionários, as pessoas com quem tenho convivência, ocupam postos, não quer dizer que Eduardo Cunha indicou. E se indicasse, não teria problema nenhum.
Coube ao presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), fazer uma crítica à escolha de André Moura, um dos principais aliados de Cunha na Câmara, para a liderança do governo. Renan levantou a dúvida de como Moura poderia colaborar para o aperfeiçoamento institucional do Legislativo com o Palácio do Planalto.
— As pessoas perguntam sempre: o André Moura para quê? É isso que tem que ficar claro. Quais são os compromissos? O que é que ele vai fazer para colaborar com o Brasil no aperfeiçoamento institucional? O que vai poder fazer?
Horas depois, Moura rebateu a crítica feita e afirmou que Renan não é “a pessoa mais apropriada para criticar alguém”.
— Se ele criticou eu tenho que respeitar, mas eu acho que o senador Renan Calheiros não é a pessoa mais apropriada para criticar alguém. Eu respeito, não só ele, como qualquer outro — disse Moura.
Cunha também trocou farpas com Renan. O deputado afastado citou investigações em andamento contra Renan, e o senador respondeu que Cunha tem “obsessão” com ele.
O novo líder do governo já tenta desvincular sua imagem da de Cunha. Por orientação de auxiliares de Temer e de deputados do chamado centrão, que lhe serviram de cabos eleitorais, Moura passou a sustentar o discurso de que não discutirá os temas da Câmara com Cunha e que agirá afinado apenas com o governo e a base.
Ao GLOBO, o novo líder afirmou que há “zero de chance” — uma expressão regularmente usada por Cunha — de agir no cargo por orientação do colega:
— Zero de chance. Quem vai estar à frente da liderança sou eu, com apoio dos líderes e da base aliada. Sou líder do governo Michel Temer e devo satisfação somente ao presidente da República e aos seus ministros. Fora isso, não sigo orientação de absolutamente ninguém.
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