Tese de doutorado do Instituto de Economia aponta que produtividade das atividades cresceu na região por causa da ocupação de novas áreas
MANUEL ALVES FILHO
MANUEL ALVES FILHO
De acordo com Vivian, embora o rendimento das três atividades tenha aumentado, em razão da adoção de manejos adequados e de tecnologias avançadas, como o uso de novos cultivares, é a ocupação de novas áreas que tem impulsionado o crescimento da produção no Centro-Oeste. O avanço em direção à região, conforme a pesquisadora, tem sido estimulado por diversos fatores. Entre eles está a disponibilidade de terras. “São Paulo continua sendo o maior produtor de cana-de-açúcar do país, mas o Estado já está saturado. Assim, a alternativa encontrada pelas usinas para atender à crescente demanda por etanol, por exemplo, é levar a cultura para outras áreas, notadamente os estados do Centro-Oeste”, explica.
IMPACTO AMBIENTAL
Se o segmento econômico experimentou avanços em alguns municípios do Centro-Oeste a partir desse movimento, o mesmo não se pode dizer do meio ambiente, conforme constatou a investigação promovida por Vivian. A autora da tese afirma que a expansão das três atividades analisadas no seu trabalho, notadamente a plantação de cana, tem provocado mudanças na região. Uma delas diz respeito à substituição de culturas. O arroz e o feijão, que foram importantes para a região, perderam espaço para os canaviais. Além disso, a própria pecuária extensiva, que também sempre se destacou naquele pedaço do país, tem sido gradativamente substituída pela cana.
Nas entrevistas que fez com políticos e gestores públicos, Vivam diz ter apurado dois pontos fundamentais em relação à questão da degradação do meio ambiente. Um deles é o fato de não haver uma consciência ambiental difundida entre as sociedades locais. “O prefeito de Quirinópolis, por exemplo, reforçou que ele quer mais é que a cana tome mesmo conta das áreas agrícolas do município. A preocupação mais imediata é com o crescimento econômico e a geração de empregos”, conta. O outro ponto refere-se à inexistência de políticas de zoneamento econômico e ecológico no Centro-Oeste como um todo. Com exceção de Mato Grosso do Sul, que conta com zoneamento próprio, os outros dois estados, Mato Grosso e Goiás, não dispõem de legislação nesse sentido.
Vivian explica que esse tipo de instrumento legal é indispensável porque ajuda a orientar as atividades produtivas. “O zoneamento não tem a finalidade de proibir que se produza isso ou aquilo neste ou naquele ponto. Entretanto, ele aponta quais são as áreas mais sensíveis e que, portanto, não são adequadas para receber determinados empreendimentos agrícolas. Isso é importante porque a inobservância ao zoneamento faz com que uma usina, por hipótese, não receba financiamento do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para a construção da sua planta industrial”, exemplifica a pesquisadora.
Em Goiás, conforme a autora da tese, a questão do zoneamento econômico e ecológico somente agora está sendo discutida. Em Mato Grosso, a legislação chegou a ser criada, mas ela foi posteriormente embargada a pedido do Ministério Público, que identificou falhas na sua formulação. “Vale reforçar que o zoneamento é importante para identificar as áreas sensíveis e as que podem ser exploradas. Existe uma legislação federal relacionada ao tema e um decreto federal que determina critérios para que os estados estabeleçam os parâmetros para essa distinção”, informa. Em seu trabalho, Vivian também analisou o papel desempenhado pelos conselhos municipais de Meio Ambiente, previstos na legislação. De acordo com a pesquisadora, nem todas as cidades contam com esse tipo de órgão. “Os que existem não têm competência para tratar de assuntos relevantes como a expansão da cana-de-açúcar, por exemplo. Normalmente, eles deliberam sobre questões menores como a exploração de areia ou a implantação de uma pequena planta industrial. Entretanto, não exercem qualquer influência quando o assunto é a instalação de uma grande usina na cidade”, assinala.
No contato que manteve com produtores do Centro-Oeste, Vivian diz ter identificado, ainda, dois outros aspectos. De acordo com o depoimento dos pecuaristas, o confinamento do rebanho não é uma alternativa para conter a expansão de áreas para a criação de pastagens. “O que eles informaram é que esse modelo de produção é somente uma estratégia de mercado. Ele é usado para engordar o gado em menor período, principalmente na época da entressafra”. Alguns pecuaristas também revelaram à pesquisadora que o sistema produtivo que integra lavoura e pecuária, apontado como uma medida que contribui para preservar a terra, ainda é pouco difundido . A característica predominante na região é a adoção de grandes áreas para a produção pecuária e o plantio de monoculturas. “Além disso, somente os pecuaristas bem capitalizados é que conseguem adotar alternativas como o pasto rotacionado, técnicas de manejo adequadas e produção intensiva”.
A metodologia empregada por Vivian em sua tese considerou, entre outros aspectos, a revisão bibliográfica sobre a expansão da agropecuária no Centro-Oeste e entrevistas com prefeitos, técnicos, produtores e gestores públicos. A fim de aperfeiçoar a constatação da redução de áreas de pastagens e de matas na região, bem como visualizar a alteração total da área agricultável utilizada por uma determinada atividade, a pesquisadora utilizou o modelo Efeito Escala (EE) e Efeito-Substituição (ES), a partir de dados de área plantada fornecidos pelos censos agropecuários de 1995 e 2006.
Conforme a autora do trabalho, trata-se de um método indicativo – não determinístico –, que supõe que todos os produtos que tiveram expansão de área substituíram proporcionalmente aqueles que os precederam. Também foi utilizado o modelo de Contribuição de Área e Contribuição de Rendimento para a análise sobre o padrão de crescimento das produções de soja e cana-de-açúcar na região.
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