Clayton Grillo Pinto comentou em: 10/05/2013 10:44
VALOR AGREGADO AO CAFÉ: DA FAZENDA À XÍCARA
Alguns números (médios) que podemos usar e alguns cálculos (elementares) que podemos fazer sem medo de errar:
1- Uma saca de 60 kg (peso líquido) rende 48 kg de café torrado.
2- Um kg de café torrado rende 100 xícaras da bebida. Portanto, 48 kg torrados renderão 4.800 xícaras (10 gramas de café por xícara).
3- Uma xícara é vendida na praça a preços de R$ 0,50 a R$ 4,50, entre o cafezinho coado na garrafa e um bom espresso.
4- A esses valores, uma saca de café gera de R$ 2.400,00 a R$ 21.600,00 ao final da cadeia.
5- Considerando o novo preço mínimo do café (R$ 307,00 “é melhor do que nada”: essa foi demais...):
5.1- R$ 2.400,00 / R$ 307,00 = 7,8 sacas. São 6,8 sacas ou 680% a mais, em relação a uma saca tomada por base.
5.2- R$ 21.600,00 / R$ 307,00 = 70,3 sacas. Pelo mesmo raciocínio, são 69,3 sacas ou 6.930% a mais.
Isso pode ser chamado de VALOR AGREGADO e mostra o seguinte: o problema do cafeicultor não está relacionado ao preço mínimo, nem ao alongamento de dívidas, nem à liberação de recursos para custeio, colheita e estocagem, nem às opções de vendas públicas, nem ao PEPRO, etc. Essas são medidas paliativas e que quase sempre, quando chegam, chegam atrasadas e não resolvem o problema.
Não resolvem porque não existem políticas sérias que ofereçam suporte às “galinhas dos ovos de ouro”.
Observando esses números nessa análise elementar, tem-se a impressão de que os cafeicultores estão é pedindo esmola, e na verdade eles não precisam disso.
A pergunta é:
Por que o CNC (em conjunto com as lideranças afins) não reúne todas as suas cooperativas e as transforma em fortes agroindústrias?
Paralelamente, como extensão do mesmo projeto, seria criada uma rede de vendas em pontos estratégicos para vender, além do pó de café e dos grãos para espresso, xícaras e mais xícaras da melhor bebida social e ambientalmente correta, com identificação de origem e selo de qualidade reconhecido internacionalmente. E mais: a preços inferiores aos praticados por quem vende café 6.930% acima do preço pago ao produtor.
Alguém, em nome do CNC ou que faça parte da liderança da cafeicultura poderia responder com absoluta clareza às questões acima colocadas?
Finalizando, algumas colocações soltas (só para pensar):
1- Se for feito um trabalho sério em defesa da cafeicultura, uma boa parte do valor agregado a uma saca de café (680% a 6.930%) poderia ficar com quem a produz. Não pode ficar tudo com o cafeicultor, pois, para colocar um pacotinho ou uma xícara de café nas mãos do consumidor final existem custos, e não são baixos.
2- Cooperativa de café tem muitos donos: são seus cooperados cafeicultores. Se o cooperativismo for posto em prática, boa parcela dos especuladores e atravessadores será eliminada.
3- Não se pode ter medo dos gigantes que dominam o mercado de café no mundo. Gigantes? Gigante é o Brasil (está até na letra do Hino Nacional). Eles é que deverão ter medo, se o país maior produtor mundial aprender a elaborar seu produto (da fazenda à xícara) e deixá-los “chupando os dedos”. No mínimo terão de pagar o preço posto pelo produtor, ou que busquem matéria prima em outros países.
4- Falar do impacto de aumentos do preço pago ao cafeicultor na inflação é asneira. Numa xícara de espresso bem quente vendida a R$ 4,50 tem R$ 0,064 de café e R$ 4,44 de água, fumaça e valor agregado. Basta dividir R$ 307,00 por 48.000 gramas de café torrado e multiplicar por 10 gramas por xícara.
5- Nem sempre nos 10 gramas de pó por xícara tem só café. Por isso os lucros ao longo da cadeia são maiores do que se imaginam. E onde fica o respeito ao consumidor?
6- Chega. Corrijam-me se escrevi algo sem fundamento. Conheço pouco do assunto e estou curioso, com vontade de saber melhor a respeito e ver onde estão os “furos”.
Abraços a todos!
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