Tunísia aproximou do Fórum movimentos como Occupy e Indignados
Um mês depois de ocorrido, o Fórum Social Mundial (FSM) 2013 que teve lugar em Túnis, capital da Tunísia, continua a motivar discussões sobre as formas coletivas de resistência e a busca de alternativas à lógica dominante do capitalismo neoliberal.
Maurício Hashizume
Diversos balanços sobre o Fórum Social Mundial 2013 (26 a 30 de março) - que reuniu cerca de 60 mil participantes, segundo os organizadores - coincidem quanto à relevância da esperada aproximação e da solidariedade recíproca entre o processo do FSM e a Primavera Árabe - como vem sendo chamada a série de mobilizações populares que vêm pressionando e destronando ditaduras nas regiões do Norte da África e do Oriente Médio.
Uma das outras “novidades” deste Fórum foi a participação de integrantes de alguns movimentos que ganharam força nos últimos anos com grandes mobilizações sociais, como os Indignados (15M) reunidos em diversos países da Europa e os ativistas do Occupy que alcançaram projeção internacional com manifestações na América do Norte, no “centro nervoso” do sistema. Ambos estouraram especialmente a partir do agravamento da crise atual e impulsionaram milhões a sair às ruas em protesto. A escolha da Tunísia como sede do FSM 2013 foi uma motivação a mais para este estreitamento de relações, de acordo com os próprios integrantes dos referidos movimentos, que não esconderam a intenção de “ver, acompanhar e sentir de perto” o ambiente de agitação política no país que ficou conhecido como o berço da Primavera Árabe com a queda do ditador Ben Ali, em janeiro de 2011.
Marisa Holmes, uma das agentes na base do Occupy Wall Street (que também teve o seu período de maior intensidade em 2011), afirmou à Carta Maior que o contato com experiências similares como as mobilizações dos Indignados (15M) na Europa e os levantes da região do Magrebe e Maxereque visa a formação de parcerias estratégicas que têm como horizonte a ampliação de ações conjuntas. Além da presença em Túnis, por meio de um espaço aberto no meio da Universidade El Manar que foi batizado de Global Square, ativistas que fazem parte do Occupy também passaram por pontos da Europa justamente para reforçar esse intercâmbio.
A participação no Fórum, sustenta Marisa, teve ainda o intento inegável de conferir maior visibilidade aos movimentos, além de tentar “radicalizar” o encontro das alternativas, fazendo um contraponto de horizontalidade às muitas organizações “profissionais”, de lógica mais hierárquica, que circularam por Túnis.
Na opinião de Maria Poblet, que é militante do Occupy Oakland (na costa oeste dos EUA), esta edição de 2013 demonstrou, contrariando a perspectiva de céticos que vinham questionando o próprio sentido de existência do FSM, a importância da continuidade do processo “É um espaço de troca e aprendizado, que enriquece as nossas reflexões sobre os passos seguintes às ocupações de espaços públicos”, defendeu. A convivência com a população que vive no Norte da África também foi crucial, segundo ela, para perceber as conseqüências problemáticas da interferência norte-americana na região, especialmente no que se refere ao apoio a Israel
Lutas internas
Já do ponto de vista de ativistas europeus que fazem parte dos Indignados (15M), a situação parece ser mais complicada. Oscar Simón, da Intersindical Alternativa de Catalunha (IAC), considera “muito difícil” o aprofundamento das articulações dos movimentos em escala transnacional, principalmente por conta da carga imposta pelas lutas internas em cada país. “Estamos tomando muita pancada. Até conseguimos dar alguns passos, mas os donos do poder seguem vencendo e impondo a agenda deles”, conta.
No entendimento dele, os 30 anos de neoliberalismo e os cinco anos de austeridade na Espanha fomentaram um cenário de intensa desilusão. “As pessoas estão sem muita confiança na busca por alternativas”, lamenta. Ainda assim, estão previstas grandes mobilizações ainda neste primeiro semestre de 2013, especialmente relacionadas à aprovação do orçamento público. Em outubro, estão previstos ainda atos conjuntos do 15M com movimentos da Primavera Árabe, ligando as duas margens do Mar Mediterrâneo.
Observador atento ao processo do FSM, o professor Teivo Teivanen, da Universidade de Helsinque (Finlândia), vê o surgimento de “novos problemas, inclusive teóricos” na esteira destes cruzamentos. O movimento heterogêneo do Occupy, por exemplo, tem diante de si uma questão complexa quanto às práticas de representação e delegação.
“Há dois ou três anos, justamente quando se intensificaram os movimentos Occupy, Indignados e Primavera Árabe, o Fórum Social Mundial foi visto como a ‘velha escola’ que havia sido superada no papel de ponta de lança do movimento internacional por alternativas. No entanto, todos tiveram interesse em vir à Tunísia”, observa Teivo. Em conversas com integrantes dos citados movimentos, o pesquisador da área, que acompanhou a reunião do Conselho Internacional (CI) nos dois dias posteriores ao FSM, identificou que parece estar se sedimentando a ideia de que o compartilhamento de idéias e experiências no âmbito do Fórum pode ser complementar com a formulação e efetivação de iniciativas mais localizadas (como a ocupação de praças e de outros espaços públicos). “Esteve no ar em Túnis uma sensação contagiante de que ‘alguma coisa está acontecendo’. Senti-me um pouco como em Porto Alegre, nas edições iniciais do Fórum. Foi um misto de renovação e certo retorno”.
Esse trânsito de movimentos – que atravessaram Oceanos para estar na Tunísia – mostrou uma “nova geração mobilizada” e foi um dos pontos fortes do FSM 2013, avalia Gustave Massiah, do Attac francês. Sobretudo, o encontro foi impactante para a sociedade local: aproximadamente 1,7 mil do total de 5,4 mil organizações cadastradas no encontro eram da própria Tunísia. Houve, conforme o ativista, interesse e participação popular na principal avenida da cidade quando das divulgações dos resultados de algumas das assembléias, no último dia do FSM; além disso, houve debates concretos sobre propostas na área econômica no que se refere à criação de emprego e proteção social. “Mas a realidade no país é contraditória. E o Fórum também não deixou de refletir isso”, salientou. Enquanto isso, entre as opções que parecem existir concretamente até o momento, ganha corpo a possibilidade de que o próximo FSM seja realizado mais uma vez na Tunísia.
Uma das outras “novidades” deste Fórum foi a participação de integrantes de alguns movimentos que ganharam força nos últimos anos com grandes mobilizações sociais, como os Indignados (15M) reunidos em diversos países da Europa e os ativistas do Occupy que alcançaram projeção internacional com manifestações na América do Norte, no “centro nervoso” do sistema. Ambos estouraram especialmente a partir do agravamento da crise atual e impulsionaram milhões a sair às ruas em protesto. A escolha da Tunísia como sede do FSM 2013 foi uma motivação a mais para este estreitamento de relações, de acordo com os próprios integrantes dos referidos movimentos, que não esconderam a intenção de “ver, acompanhar e sentir de perto” o ambiente de agitação política no país que ficou conhecido como o berço da Primavera Árabe com a queda do ditador Ben Ali, em janeiro de 2011.
Marisa Holmes, uma das agentes na base do Occupy Wall Street (que também teve o seu período de maior intensidade em 2011), afirmou à Carta Maior que o contato com experiências similares como as mobilizações dos Indignados (15M) na Europa e os levantes da região do Magrebe e Maxereque visa a formação de parcerias estratégicas que têm como horizonte a ampliação de ações conjuntas. Além da presença em Túnis, por meio de um espaço aberto no meio da Universidade El Manar que foi batizado de Global Square, ativistas que fazem parte do Occupy também passaram por pontos da Europa justamente para reforçar esse intercâmbio.
A participação no Fórum, sustenta Marisa, teve ainda o intento inegável de conferir maior visibilidade aos movimentos, além de tentar “radicalizar” o encontro das alternativas, fazendo um contraponto de horizontalidade às muitas organizações “profissionais”, de lógica mais hierárquica, que circularam por Túnis.
Na opinião de Maria Poblet, que é militante do Occupy Oakland (na costa oeste dos EUA), esta edição de 2013 demonstrou, contrariando a perspectiva de céticos que vinham questionando o próprio sentido de existência do FSM, a importância da continuidade do processo “É um espaço de troca e aprendizado, que enriquece as nossas reflexões sobre os passos seguintes às ocupações de espaços públicos”, defendeu. A convivência com a população que vive no Norte da África também foi crucial, segundo ela, para perceber as conseqüências problemáticas da interferência norte-americana na região, especialmente no que se refere ao apoio a Israel
Lutas internas
Já do ponto de vista de ativistas europeus que fazem parte dos Indignados (15M), a situação parece ser mais complicada. Oscar Simón, da Intersindical Alternativa de Catalunha (IAC), considera “muito difícil” o aprofundamento das articulações dos movimentos em escala transnacional, principalmente por conta da carga imposta pelas lutas internas em cada país. “Estamos tomando muita pancada. Até conseguimos dar alguns passos, mas os donos do poder seguem vencendo e impondo a agenda deles”, conta.
No entendimento dele, os 30 anos de neoliberalismo e os cinco anos de austeridade na Espanha fomentaram um cenário de intensa desilusão. “As pessoas estão sem muita confiança na busca por alternativas”, lamenta. Ainda assim, estão previstas grandes mobilizações ainda neste primeiro semestre de 2013, especialmente relacionadas à aprovação do orçamento público. Em outubro, estão previstos ainda atos conjuntos do 15M com movimentos da Primavera Árabe, ligando as duas margens do Mar Mediterrâneo.
Observador atento ao processo do FSM, o professor Teivo Teivanen, da Universidade de Helsinque (Finlândia), vê o surgimento de “novos problemas, inclusive teóricos” na esteira destes cruzamentos. O movimento heterogêneo do Occupy, por exemplo, tem diante de si uma questão complexa quanto às práticas de representação e delegação.
“Há dois ou três anos, justamente quando se intensificaram os movimentos Occupy, Indignados e Primavera Árabe, o Fórum Social Mundial foi visto como a ‘velha escola’ que havia sido superada no papel de ponta de lança do movimento internacional por alternativas. No entanto, todos tiveram interesse em vir à Tunísia”, observa Teivo. Em conversas com integrantes dos citados movimentos, o pesquisador da área, que acompanhou a reunião do Conselho Internacional (CI) nos dois dias posteriores ao FSM, identificou que parece estar se sedimentando a ideia de que o compartilhamento de idéias e experiências no âmbito do Fórum pode ser complementar com a formulação e efetivação de iniciativas mais localizadas (como a ocupação de praças e de outros espaços públicos). “Esteve no ar em Túnis uma sensação contagiante de que ‘alguma coisa está acontecendo’. Senti-me um pouco como em Porto Alegre, nas edições iniciais do Fórum. Foi um misto de renovação e certo retorno”.
Esse trânsito de movimentos – que atravessaram Oceanos para estar na Tunísia – mostrou uma “nova geração mobilizada” e foi um dos pontos fortes do FSM 2013, avalia Gustave Massiah, do Attac francês. Sobretudo, o encontro foi impactante para a sociedade local: aproximadamente 1,7 mil do total de 5,4 mil organizações cadastradas no encontro eram da própria Tunísia. Houve, conforme o ativista, interesse e participação popular na principal avenida da cidade quando das divulgações dos resultados de algumas das assembléias, no último dia do FSM; além disso, houve debates concretos sobre propostas na área econômica no que se refere à criação de emprego e proteção social. “Mas a realidade no país é contraditória. E o Fórum também não deixou de refletir isso”, salientou. Enquanto isso, entre as opções que parecem existir concretamente até o momento, ganha corpo a possibilidade de que o próximo FSM seja realizado mais uma vez na Tunísia.
Fotos: Maurício Hashizume
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