O artigo de Fernando Luiz Lara trata de condomínios fechados e sua proposta de negação da cidade tradicional, mas faz a necessária ligação do tema com os protestos pelo passe livre que tomaram as ruas desde a primeira semana de junho
Fernando Luiz Lara
Fernando Luiz Lara
Mais recentemente os condomínios fechados brasileiros adotaram o discurso do New Urbanism norte-americano. Nascido como reação ao processo de suburbanização dos EUA o New Urbanism propunha cidades mais densas, menos dependentes do automóvel e com uso múltiplo (comércio e moradia juntos). No fiel da balança o New Urbanism acabou adotando uma estética conservadora (LARA, 2001) e fez sucesso com loteamentos exclusivos e homogêneos do ponto de vista sócioeconômico. A lógica da exclusão pela distância nunca foi ameaçada pelo New Urbanism, e por consequência ele nunca serviu para melhorar as cidades existentes.
Inebriados da ideia de que a cidade é o espaço da pobreza e dos protestos, a classe média alta dos EUA nos anos 1960/1970 e do Brasil nos anos 1980/1990 abandona os centros urbanos com toda sua infraestrutura e se refugia nos condomínios fechados. No caso brasileiro existe um agravante pelo fato de que tais condomínios são menos densos, mais dependentes do automóvel e absolutamente residenciais, o oposto perfeito da proposta do New Urbanism. Mas a estética conservadora e a ideia de retorno a um passado idílico é o que vende (LARA, 2011), além, é claro, da dificuldade de acesso que se traduz na palavra mágica: Exclusividade.
A exclusividade é a irmã palatável (e por isso vendável) da palavra exclusão. A distância que separa os condomínios fechados do resto da cidade é uma forma de muro invisível que garante a não diversidade de cada gleba.
Uso aqui a palavra gleba porque ela, a terra, está na raiz de todo esse processo de exclusão que vamos desmontando a duras penas, entre balas de borracha e gás lacrimogêneo como nos dias 13 e 17 de junho de 2013. Isso porque a revolução do passe livre seria um passo importantíssimo para desmontar ou ao menos amenizar a lógica perversa da exclusão espacial. Com transporte público gratuito ou verdadeiramente subsidiado, a balança do preço da terra iria se mover fortemente para o lado da periferia. Essa é a chave da questão a ser resolvida no futuro próximo, e eu que achava que a Copa do Mundo não nos deixaria legado algum percebo que estava enganado. Os protestos são o maior legado da Copa de 2014.
Fernando Luiz Lara é arquiteto e professor associado da University of Texas at Austin, onde dirige atualmente o Brazil Center no Lozano Long Institute of Latin American Studies.
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