O novo esquema de coleta e compostagem de lixo orgânico de Nova York está concebido para ser obrigatório, e reduzir drasticamente o lixo e o que se gasta com ele.
Kim-Jenna Jurriaans
Kim-Jenna Jurriaans
Assim são os recipientes de restos de comida para compostagem em Nova York
Se os moradores dos quase três milhões de unidades habitacionais da cidade separarem a matéria orgânica do resto do lixo, a prefeitura espera reduzir em 1,2 milhão de toneladas o lixo dos aterros sanitários. Esta medida poderia permitir uma economia de até US$ 100 milhões ao ano, pouco menos de um terço do dinheiro gasto para coletar e eliminar o lixo domiciliar, segundo o Departamento de Saneamento.
A fase de teste inclui, até agora, dois arranha-céus de Manhattan, algumas poucas comunidades do Brooklyn e de Staten Island, e mais de cem restaurantes e escolas públicas de toda a cidade. Mas o Departamento de Saneamento se prepara para incluir 150 mil casas de família, 70 edifícios e 600 escolas em 2014. Pouco mais de um quarto do lixo nova-iorquino é composto por lixo residencial. As empresas produzem aproximadamente outro um quarto, e 70% deste procedem dos restaurantes, por isso incluir o setor é uma parte importante do plano de compostagem.
Além de aliviar a carga ambiental e as despesas da cidade, há outros benefícios na coleta seletiva, segundo Ron Gonen, subcomissário de Saneamento da cidade. “Há dois destinos principais para os resíduos orgânicos”, disse Gonen ao Terramérica. “Podem ser transformados em compostagem, fertilizante orgânico que já é elaborado em uma unidade em Nova York, e é doado para parques e hortas locais, ou vendido para empresas de jardinagem.
Esses resíduos também podem ser transformados em energia renovável mediante decomposição anaeróbica (ausência de oxigênio)”, acrescentou. O resultado é um biogás rico em metano. Nova York já tem um digestor anaeróbico em uma de suas unidades de tratamento de esgoto, e se estuda uma licitação para a construção de uma grande central, que possa converter boa parte do resíduo doméstico em gás ou eletricidade limpa.
“Também há algumas tecnologias emergentes interessantes”, observou Gonen, citando, como exemplo, que “se pode transformar o lixo em um combustível limpo conhecido como éter dimetílico (substituto do óleo combustível), por isso não é impensável que no futuro próximo possamos movimentar nossos caminhões de lixo a partir dos próprios resíduos que coletamos”.
Mudança de atitude
Wexterleigh, um bairro de 3.500 habitantes no distrito nova-iorquino de Staten Island, é uma das comunidades-piloto da política de compostagem. Embora a participação esteja na casa dos 50%, as respostas dos moradores são variadas. Rosemary Caccese, que já elabora compostagem em seu próprio quintal mesmo antes do plano de Bloomberg, vê a medida com bons olhos. “Já faço o meu cada semana”, disse ao Terramérica, apontando seu novo contêiner marrom, que é recolhido a cada sete dias.
“Dá trabalho, não é fácil”, acrescentou, mas, como se importa com o meio ambiente, está disposta a pagar o preço. Porém, sua aplicação em toda a cidade pode ser complicada, principalmente para a população idosa, afirmou. Na calçada em frente, Donald Carullo acredita que o fato de ele e sua mulher serem idosos é precisamente o que lhes permite participar da iniciativa. Seu filho, pai de três crianças, perderia muito tempo, ponderou ao Terramérica.
Na avenida Burnside, Loise Conti, que se autodefine como “verde” e detalha com orgulho uma longa lista de medidas amigáveis com o meio ambiente que aplica em sua casa, é cética sobre o plano, por razões práticas e de projeto. “Minha amiga tem cinco filhos, e precisará mais do que isto”, disse apontando para o novo móvel de sua cozinha: um recipiente oval com capacidade para 4,4 litros, um dos modelos entregues pela prefeitura nas casas. Para uma casa pequena como a sua, o esforço quase não vale a pena. E, no quente verão nova-iorquino, “começa a cheirar mal”, lembrou.
A mudança de atitude é uma boa parte do desafio que a cidade terá que superar nos próximos meses. A ênfase na economia que terão os cofres públicos e os contribuintes é essencial para promover esta política, ressaltou Gonen. Entretanto, no momento a medida é voluntária, e no futuro será obrigatória e com multa para quem não cumpri-la.
Alexander Allen, que conversou com o Terramérica em um dos poucos lugares – algumas dezenas – onde se pode deixar lixo para compostagem na cidade, acredita que a iniciativa tem muito sentido ambiental. Contudo, não está certo de que funcione como obrigatória, pois as multas não bastam para mudar mentalidades. “Definitivamente, estará nas mãos da população”, resumiu.
Nova York segue os passos de outras cidades dos Estados Unidos, como São Francisco e Seattle, que implantaram iniciativas semelhantes. Mas também está inovando. “Não há nenhuma cidade na América do Norte, e talvez nem mesmo na Europa, onde o manejo do lixo seja tão complicado como em Nova York”, pontuou Gonen. “Temos um ambiente antigo de construções, e somos multiculturais”, acrescentou.
Isto também é uma oportunidade para que a Grande Maçã sirva de exemplo para outras cidades do planeta. “Não há outra grande cidade que possa ver os êxitos de Nova York e dizer nós não poderíamos fazer isso, temos um sistema mais complicado”, afirmou Gonen.
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