A quantidade de países menos adiantados (PMA) começa a diminuir lentamente. Botsuana, Cabo Verde e Maldivas se "graduaram" e passaram a ser considerados países em desenvolvimento.
Thalif Deen
Thalif Deen
Menina carregando um bebê em Luanda. Angola deixará de integrar a lista de países menos adiantados em 2015.
O número de PMA aumentava desde 1971, quando somavam 24. Hoje são 49. Se a situação econômica desses países continuar melhorando, pelo menos outros seis - Angola, Guiné Equatorial, Kiribati, Samoa, Tuvalu, Vanuatu - também poderão deixar o grupo dos mais pobres em 2015.
"Não está totalmente claro" se o aumento do investimento estrangeiro direto nos PMA é uma nova tendência ou um fenômeno pontual, disse à IPS Arjun Karki, coordenador internacional da LDC Watch, aliança global dedicada a questões de desenvolvimento nesses países. A redução do fluxo de capitais para os países ricos colocou os PMA no radar desses fundos, acrescentou.
"Se observarmos a tendência, os PMA com uma grande riqueza, como RDC, Libéria, Mauritânia, Moçambique e Uganda, são os que estão recebendo fundos", pontuou Karki. Ao que parece, os investimentos tendem a se concentrar no setor das indústrias extrativistas, acrescentou. "Do ponto de vista do desenvolvimento, não é uma tendência muito animadora, pois reforça a noção de um crescimento baseado na produção dos PMA, o que não é sustentável", ressaltou.
O Comitê da ONU de Políticas de Desenvolvimento costuma definir a "elegibilidade" dos países para lhes conferir o status de PMA em função de vários fatores, como população, renda e outros indicadores econômicos, mas a decisão final fica nas mãos das próprias nações implicadas. O Zimbábue, por exemplo, não quis unir-se ao grupo PMA apesar de ter as condições para isso.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que o aumento do investimento estrangeiro direto coincide com um "momento importante", quando a comunidade internacional faz um esforço final para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em 2015. Um dos objetivos emblemáticos é erradicar a extrema pobreza e a fome, dois dos principais problemas dos PMA. Atualmente, a ONU trabalha para definir uma agenda de desenvolvimento para depois de 2015.
O problema principal dos capitais irem para a indústria extrativista é que os benefícios não são distribuídos. As grandes multinacionais e as elites locais ficam com o dinheiro em prejuízo dos setores mais pobres, marginalizados e vulneráveis, observou Karki. A questão crucial da ampliação da brecha da desigualdade e da redistribuição dos recursos continua sendo um dos grandes desafios do desenvolvimento", opinou o coordenador da LDC Watch, afirmando que "isto ficou patente em minha última visita a Libéria e Serra Leoa, dois PMA com muitos recursos, mas, infelizmente, com as populações mais pobres", argumentou.
"A triste ironia levou nossos colaboradores da sociedade civil a propor que os ricos permanecessem na terra porque de todo modo não podiam garantir às pessoas o direito a um desenvolvimento sustentável", destacou Karki. O crescimento negativo, especialmente em Angola, Burundi e Mali, pode ser atribuído à sua instabilidade política, que não é atraente para a chegada de capitais. "Dito isto, é interessante assinalar que o investimento estrangeiro direto é importante tanto em regimes autoritários como onde há governos vulneráveis, como ocorre na África e Ásia", afirmou.
Outra razão para a redução do investimento estrangeiro direto é a evolução de alguns governos que promovem o desenvolvimento e tentam preservar os interesses nacionais e o direito dos povos frente à ameaça do puro lucro e dos saques. "Se isso for realmente correto, então os governos dos PMA estão no caminho certo para aliviar suas populações das causas estruturais da pobreza, das privações e das injustiças", ressaltou Karki. A questão da soberania é fundamental em termos de se respeitar e se ajustar ao sistema de cada país. Do contrário, está provado que o investimento estrangeiro direto é a perdição do desenvolvimento sustentável, mais do que uma bênção, concluiu.
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