Ninguém sabe
o que vem pela frente e onde nos levará o amanhã o passo dado hoje. Boris
Yeltsin.
A vida das
pessoas responsáveis é sempre guiada pelas palavras acima. Palavras retiradas
do livro Os Rumos da Perestroika. Embora o livro citado aborde uma conjuntura
política de um país distante, mas que o nosso dia a dia da comunicação nos
aproxima de tal forma que às vezes achamos que somos íntimos dos assuntos.
Geralmente é pura ilusão. A gente às vezes não sabe o que vai dentro da gente
mesmo, imagine mergulharmos num ambiente distinto.
O peso da
frase de Yeltsin aumenta na proporção direta de nossa responsabilidade de
comunicador, de jornalista, de dirigente de empresa e principalmente quando se
tem sensibilidade para com a vida, a nossa e a dos outros.
Meu caro
Cariê, costumo dizer que todo ignorante é feliz. Longe do dualismo do sim ou do
não, ou mesmo do grande dogma de anos e anos: esquerda e direita. Poderíamos
citar outros opostos, como o bem e o mal e assim por diante. Mas se pensarmos
um pouco, veremos que estamos no mesmo barco, neste imenso Planeta Terra. Vamos
descendo a porções e pedaços menores (continente, país, raça, cor, credo
religioso e quantas divisões queiramos determinar).
Hoje podemos
nos fixar no nosso trabalho; estamos na mesma rota, do acionista até o
encarregado de apagar as luzes e fazer a faxina no final do expediente, temos
plena consciência de que vivemos uma grande crise, mas que está crise não
surgiu do nada e nem mesmo tem como vetor principal o Plano Brasil Novo. Ela
vem de longe e somente agora aparece para todos. Se não estivéssemos no estágio
atual, com estaríamos com uma inflação galopante e catastrófica. Seria um
quadro muito pior, mais desolador e mais violento. Isto mesmo, teríamos já
entrado no caos.
Cariê, nós
da Rede Gazeta somos ignorantes diante do nosso potencial produtivo e do que
somos capazes. Mesmo num pequeno Estado temos uma presença maior do que muitos
Estados. Como empresa de comunicação a nossa produção local é bem maior do que
as co-irmãs de outros Estados. Mas saiba que a maioria dos nossos colegas de
trabalho desconhece esta situação. Não sabemos o que somos de uma maneira
geral.
Hoje a Rede
Gazeta tem um prestígio muito grande, mas não o usa de forma a uma tradução em
dividendos. A potencialidade individual de cada um não é explorada e em
conseqüência o rendimento é baixo. Não conhecemos o nosso Espírito Santo e
quando o conhecermos vamos ver que temos muito caminho a percorrer.
Meu caro
Cariê, no que estiver dentro de minha possibilidade, você poderá contar comigo.
Pelo princípio de que o espírito de camaradagem deve prevalecer entre as
pessoas e entre companheiros de trabalho, espero poder dar a minha
contribuição, porque sei que estarei também tendo retorno, aliás, como toda
família Gazeta.
Por não
desconhecer a gravidade da situação atual que vivemos, estou tornando registro
escrito o comportamento que tenho diante de você, da empresa e da família
Monteiro Lindenberg, a quem nestes anos de convívio aprendi a admirar.
Que a
angústia que sei que você convive com ela nesta fase, seja em breve
transformada em determinação para os próximos passos.
Voltando a
Boris Yesltsin, ninguém sabe o que vem pela frente e onde nos levará o amanhã o
passo dado hoje, mas certamente o passo da Gazeta será sempre no sentido da
honestidade, correção e da competência.
Em frente
meu caro amigo, 19 de abril de 1990.
HISTÓRIAS E LEMBRANÇAS QUE OUVI, VIVI E
PASSO ADIANTE.
JORNAL DO CAMPO 25 ANOS. AQUI FALA QUEM
FAZ. RONALD MANSUR. 31
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