sexta-feira, 1 de março de 2013

Militância virtual e falta de debate público


Protestos pontuais na internet ainda não conseguiram deslocar o centro da luta política para as ruas, com ampla participação social

Pedro Rafael
A diferença entre o tamanho da mobilização virtual e as ações de rua nomovimento "Fora, Renan" expõe as limitações da internet como espaço principal da luta política. O jornalista e coordenador do Intervozes (Coletivo Brasil de Comunicação Social), Pedro Ekman, crê na capacidade agregadora da rede, mas pondera que o enfrentamento do poder deve ser disputado no embate físico das ruas.
"Talvez essas pessoas não tivessem a oportunidade de falar categoricamente que elas não concordavam com essa movimentação do Senado se não tivesse uma petição, uma coisa que unisse a todos num movimento de rede social. Por outro lado, isso acaba sendo algo automático, uma terceirização [do protesto]. Há uma diferença muito grande entre uma mobilização de rua e outra virtual. Ir para as ruas é um ato de desprendimento e de enfrentamento muito mais poderoso do que a internet", pondera.
José Antonio Moroni, do Inesc, sente que parcela importante da sociedade quer dar um basta no modo como determinadas figuras públicas se relacionam com a política e as instituições do Estado. Porém, segundo ele, não há um debate público que entre fundo nas questões fundamentais do sistema político."O grande problema é que essa mobilização não se pergunta como o Renan é eleito sempre que se candidata ou por que consegue tanto apoio dentro do PMDB. Como o nosso sistema político dá origem a políticos que tem esse tipo de prática e mantêm o poder que tem? Só o debate público é capaz de colocar essas questões, por meio da mobilização social mesmo, não apenas a virtual. Nada substitui a luta política cotidiana, a ocupação das praças, as manifestações de rua", observa.
O papel da mídia, como "ator político", também condiciona o escopo dos assuntos que se convertem em protesto público. É o que avalia o professor de Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, Francisco Fonseca. "Essas manifestações se dão muito no âmbito federal. O estado de São Paulo, por exemplo, tem uma vida política e administrativa bastante caótica, com graves problemas éticos, mas normalmente não se vê esse tipo de repúdio. Minha ponderação é que manifestações assim se dão muito mais em relação aos assuntos que tem uma vitrine, uma luminosidade midiática maior. No largo espaço de problemas que temos, creio que caberiam mais manifestações", argumenta.
Conchavos
Compreender o círculo vicioso do atual sistema político brasileiro é primordial para fazer o debate público. "Não se trata de uma coisa isolada, personalizada no Renan Calheiros. Todos os estados têm figuras políticas como ele, com um poder enorme. Esse poder está ligado à nossa culturapolítica, que passa pelos acordos, pelo financiamento privado de campanhas, pelo domínio que esses grupos têm sobre os meios de comunicação", aponta José Antônio Moroni.

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