terça-feira, 26 de março de 2013

Obra do metrô vai produzir montanha de entulho na região metropolitana de Paris


O equivalente a 5.000 – 7.000 piscinas olímpicas: esse é o volume de terra e entulho que as máquinas da futura obra do Grand Paris Express, o supermetrô da ilha de Île-de-France, cuja construção foi confirmada pelo governo no dia 6 de março, deverá extrair das entranhas da região entre 2015 e 2030. Ou seja, entre 15 e 20 milhões de metros cúbicos de resíduos inertes (que não sofrem modificações químicas, físicas ou biológicas com o tempo) e de terras contaminadas que irão se somar àqueles já produzidos pelo setor da construção civil.

Gilles Van Kote
A Île-de-France corre o risco de ficar sem soluções para se desfazer desse tipo de resíduo, que pode ser reciclado, reaproveitado ou enterrado em instalações de armazenamento de resíduos inertes (ISDI, na sigla em francês) ou em pedreiras que possuam autorização para isso. "Se não abrirem novas ISDIs até lá, as que existem hoje estarão lotadas em 2020", diz Anne-Sophie de Kerangal, responsável pela gestão de resíduos no conselho regional da Île-de-France.
"Caminhos de evacuação"
Na região parisiense, o setor da construção civil produz 32 milhões de toneladas de resíduos por ano. Os volumes extraídos para construir os 200 km de vias --em sua maior parte subterrâneas-- e as 72 estações do Grand Paris Express até 2030 deverão pesar entre 30 e 40 milhões de toneladas, segundo a Société du Grand Paris (SGP). Um total subestimado, segundo a associação Île-de-France Environnement, que o situaria na verdade entre 50 e 60 milhões de toneladas.
Do ponto de vista regulamentar, a responsabilidade da gestão de entulho cabe às empresas terceirizadas da obra. Mas, diante da dimensão do projeto, o mestre de obras que é a SGP não pode ignorar o assunto. A obra do anel viário A86, no oeste da Île-de-France, foi um precedente infeliz: por falta de um planejamento satisfatório, seus entulhos acabaram na forma de merlões (barragens de terra e de cascalho) que hoje recobrem a planície de Versalhes.
"Eles são chamados de merlões recheados: porcarias por dentro e terra boa por cima", lamenta Michel Riottot, presidente do Île-de-France Environnement. "De acordo com nossos cálculos, o entulho do Grand Paris Express representaria o equivalente a 200 km de merlões".
Não foi a opção escolhida pela SGP. Seu plano diretor de evacuação dos entulhos, em processo de finalização, privilegia o tratamento de terras contaminadas no local, a reciclagem e o reaproveitamento dos entulhos em outros projetos, bem como o transporte por via fluvial dos resíduos inertes para ISDIs ou pedreiras que poderão se situar fora da Île-de-France.
"Nosso objetivo é antecipar ao máximo essa questão muitas vezes negligenciada a fim de minimizar os incômodos para os moradores e ter condições de trabalhar desde o início com os representantes nos caminhos de evacuação", afirma Florence Castel, diretora de engenharia ambiental na SGP. "Nós fizemos já em 2010 um inventário das instalações de tratamento e de armazenamento que possam receber nosso entulho na Île-de-France, mas também em suas fronteiras".
Os 5 a 6 milhões de metros cúbicos de entulho que deverão ser produzidos a partir de 2015 pela construção do trecho do Grand Paris Express que liga as estações de Pont-de-Sèvres (Hauts-de-Seine) e de Noisy-Champs (Seine-Saint-Denis) serão em parte evacuados por duas plataformas de transbordamento fluvial situadas no Sena, em Sèvres e em Vitry-sur-Seine (Val-de-Marne).
Esses entulhos poderiam ir para as pedreiras situadas em Yvelines e em Seine-Maritime, mas também servir de dique no caso de uma possível construção de um lago-reservatório destinado a proteger a região parisiense de cheias em La Bassée (Seine-et-Marne). De 700 mil a 800 mil metros cúbicos de entulho seriam necessários para esse projeto, que poderá ser realizado até o fim desta década.
Grande impacto
Segundo Florence Castel, a antecipação deverá permitir que sejam otimizados os custos de gestão dos entulhos, mas também que seja atendida a preocupação da região em assegurar um reequilíbrio territorial. Seine-et-Marne de fato absorve hoje 65% dos resíduos do setor de construção civil na Île-de-France e recebe metade das 20 ISDIs da região. Uma situação que levou uma dezena de representantes do departamento a denunciarem, no início de março, a falta de solidariedade das outrasadministrações.
"O Grand Paris Express deve ser uma alavanca desse reequilíbrio com um tratamento mais local possível, assim como ele deve permitir que seja desenvolvida a reciclagem dos resíduos de construção civil na região", afirma Geneviève Wortham, vereadora (Partido Socialista) do departamento de Seine-et-Marne.
A Autoridade Ambiental lembrava em outubro de 2012 que o tratamento dos entulhos seria "um dos grandes impactos" do Grand Paris Express.
Tradutor: Lana Lim

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