quarta-feira, 27 de março de 2013

Segundo um estudo, negros não constituem nem 20% dos autores da literatura nem do cinema brasileiro



Nos anos 60/70 houve um grande fluxo de importantes autores negros, que publicavam os mais variados textos, inclusive, romances e documentos políticos para a organização do povo negro em torno de suas reivindicações.

Diário Liberdade
230313 EDUCAO NEGRA NO BRASIL
Produção negra, com autores e personagens negros, tem pouco crescimento ao longo de décadas.
Visando quantificar a questão, em período recente, a pesquisadora Regina Dalcastagnè acaba de lançar um livro pela Editora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) que visa abordar o problema da participação do negro na literatura brasileira, nos últimos 10 anos.
Em 2004, Regina, que é professora da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Grupo de Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, deu início a um mapeamento quantitativo dos personagens e autores na produção literária nacional.
Naquele tempo, os números confirmavam uma suspeita: havia poucos negros e pobres na literatura brasileira. O grupo de pesquisa leu 258 romances escritos por 165 autores entre 1990 e 2004. E com o auxílio de fichas, a equipe chegou à conclusão de que 78,8% dos escritores brasileiros são brancos, e 72,7%, homens.
As narrativas por eles apresentadas repetem quase que como um espelho a autoria dos textos. Naquele estudo, em 71,1% dos romances pesquisados, os protagonistas são homens e, em 56,6%, representam a classe média.
Neste momento, a pesquisadora se prepara visando à terceira e última etapa do trabalho. Dessa vez, serão analisados os romances publicados entre 2005 e 2014. A lista de 300 livros está pronta e os colaboradores já deram início às leituras. Será uma análise detalhada da geração 2000, na qual Regina já observa algumas particularidades.
Ela acha que “que o número de mulheres vai aumentar, mas não será tão significativo quanto as pessoas estão pensando. Tenho a expectativa de que tenha aumentado um pouco em relação aos 27,3%, mas não muito”, avalia.
Contudo, com relação à participação dos negros, a pesquisadora acredita que não deve haver um progresso significativo. “Tenho esperança de que vem aumentando, só que mais lentamente que a situação das mulheres. É um longo processo”.
O negro no cinema
Outra pesquisadora, Paula Lins, tomou o mesmo parâmetro de pesquisa, mas o fez em cima da produção do cinema nacional, no período de 1996 até 2006. E os resultados foram praticamente os mesmos.
Lins analisou 211 filmes nacionais e 841 personagens criados por 139 diretores. Desses, 82% eram homens e apenas 18%, mulheres. Nos papéis centrais diante das telas, no quesito origem social e raça, refletem o panorama literário com 82,3% dos personagens brancos e 70% de classe média.
A exclusão do negro da produção cultural é um reflexo da realidade objetiva de racismo na qual o povo negro vive.
Sem as condições de nem mesmo cursar o ensino superior, os negros certamente terão maiores obstáculos para produzir cultura, especialmente por ser uma área do conhecimento que demanda tempo e recursos para sua realização.
Da mesma forma, as grandes empresas do ramo, tanto as editoras e os estúdios de cinema, não fazem a menor questão de colocar um negro como personagem central de um filme, ou subsidiar a produção de um autor negro, muito pelo contrário, como nos informam as pesquisas.
A balança só tende a mudar com a organização e luta do povo negro, de maneira independente da burguesia. E esse é o fato que explica o boom de escritores negros nos anos 1970, quando diversas organizações e coletivos de negros estavam na ofensiva, lutando por seus direitos.

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