terça-feira, 26 de março de 2013

Uma mulher do café



Por Josiane Cotrim Macieira
postado há 1 dia atrás



Como diz a poeta, mulher é desdobrável. E ela é. Mãe de 11 filhos, D. Ceci Faria, 85 anos, mudou a imagem dos cafés de toda uma região ao vencer a Cup of Excellence no ano 2000. Até então a região leste de Minas Gerais, a Zona da Mata, era sinônimo de cafés de qualidade inferior. O prêmio da D. Ceci foi uma sensação, a imprensa quis saber quem era a ganhadora do prêmio de reputação internacional e que região era essa que produzia café tão especial. “O bom do prêmio foi que animou muito os produtores” lembra D. Ceci numa visão de mulher inteligente que conhece a força da liderança. Por isso mesmo ela foi e é uma inspiração para quem acredita que controlando certas variáveis qualquer produtor da região pode, sim, produzir café de qualidade com notas acima de 90 pontos na escala da SCAA.

O distrito de Dom Corrêa fica no município de Manhuaçu, às margens da BR 116, a Rio-Bahia. A estrada de terra batida que conduz à casa branca de janelas azuis ainda é a mesma por onde o seu primo caminhou em 1945 rumo à casa do tio para a cerimônia de casamento com a jovem Ceci que tinha na época 17 anos apenas. De onde teria vindo a idéia do seu pai de dar o nome Ceci para a filha? Teria lido o romance O Guarani de José de Alencar? Afinal é bastante curioso que um pai tenha batizado as duas irmãs com o mesmo nome. Uma filha chama-se Maria Ceci e a outra Ceci Maria. Essa última, por acaso sogra do Vicente, filho da D. Ceci. É isso mesmo, no mundo do café dessa região mineira as relações entre as famílias são muito intensas, geração após geração. 

E não tem privilégio maior que sentar na varanda da D. Ceci para escutar causos que incluem personagens do mundo do café, como Anna Illy que pediu a receita do delicioso pudim de queijo que D. Ceci faz para suas visitas ou o norueguês Andreas Solberg da Soberg&Hansen que comprou o lote premiado no ano 2000 para distribuir nas sofisticadas cafeterias de Oslo.

O café premiado revelou uma característica própria da região: aquele aroma de rapadura que é possível sentir ao se adentrar nas tulhas das propriedades onde estão armazenados os cafés esperando pelos compradores. Compradores que estiveram presentes na 1ª Rodada de Negócios realizada pelo SEBRAE -MG no 17° Simpósio de Cafeicultura de Montanha, em Manhuaçu, na semana passada, ansiosos por conhecer o potencial dos cafés das Matas de Minas.

A denominação Matas de Minas é um conceito que engloba 63 municípios da região Zona da Mata e Vale do Rio Doce composta por um milhão de habitantes. Uma região de pequenos produtores – média de 10 hectares - onde a cafeicultura é basicamente de montanha com colheita manual e cuja qualidade vem arrebanhando os maiores prêmios de qualidade do país. O mercado internacional já está se dando conta desse potencial. Na edição da revistaTea&Coffee de julho de 2012 a jornalista Maja Wallengren refere-se aos terrenos únicos dessa região de altitude e seus variados processos de beneficiamento na busca do desenvolvimento de um café de qualidade a ser descoberto pelos consumidores. A mesa da D. Ceci está posta com biscoito de polvilho, pão de queijo e geléias de laranja inglesa e goiaba. E excelente café. Que venham os compradores!


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