terça-feira, 17 de janeiro de 2012

MEU NETO E MINHA NETA


Outro dia fazendo um mergulho no passado notei que convivi pouco com meus avós. Do lado paterno apenas me lembro de minha avó Teresa e uma estória que ela sempre contava. O meu avô libanês eu nem chegue conhecer, Chico Turco morreu 17 anos antes do meu nascimento. Já pelo materno tenho na memória o meu avô Heraclides, que foi professor de muitos em Muniz Freire. Já a vovó Laureta, lembro que ela era pequena e usava roupa de tom escuro. No lado materno a convivência foi maior do que do lado paterno, mas um tempo curto.
Lamento que a falta de uma maior convivência com meus avós deixou uma grande lacuna. Quanto maior a distancia e menor a convivência, maior parece ser a carência. Deve ser por isto que hoje na condição de avó de Rihan, nove anos, e Yasmin, três anos, não perco uma oportunidade de estar com eles. Uns dizem que estou ajudando, mas tem gente que fala ao contrário.
No caminho entre a creche de Yasmin e a minha casa, a gente sempre para na loja do Hortifruti da Praia da Costa, parada é sagrada. Outro dia a minha neta Yasmin, com pouco mais de três anos de idade, pediu para ir ao banheiro. Como bom conhecedor das condições dos banheiros utilizados pelos homens, fui direto ao banheiro feminino. Já na chegada recebi uma indagação direta. “Vovô, menino pode entrar aqui?” Falei que sim e expliquei que o banheiro das meninas era mais limpo do que os dos meninos. Daí para frente foi o ritual normal em qualquer banheiro. Depois de fazer o procedimento higiênico, recebi de volta uma segunda indagação: vovô, porque você jogou o papel higiênico no vazo e deu descarga? Porque não jogou na lixeira? Dei uma explicação meio marota e seguimos prá casa. Um mês após aconteceu um fato que imaginei que havia chegada a hora de empatar a partida. Minha esposa Eliane brincando com Yasmin na sala, pediu que ela fosse até o lavabo para limpar o nariz. Logo em seguida ouvi o barulho da descarga. Imaginei, agora é minha vez, na volta entro em ação. Quando ela chegou fui logo perguntando: porque você deu descarga? Como resposta recebi um convite, “vovô, vem ver”. Seguimos para o lavabo e ela me falou: olha, aqui não tem lixeira.
Com Rihan tenho duas histórias. Nas nossas caminhadas pelas ruas da Praia da Costa, encontramos com um grande número de pombos embaixo do vão da Terceira Ponte. Fiz uma sugestão: vamos correr atrás dos pombos? Para a minha proposta recebi uma lição: vovô, eu já falei para os meus colegas que a gente não deve maltratar os animais.
Na minha casa sempre tivemos apenas um aparelho de TV. Como os interesses são diferentes e diversificados, a opção às vezes causa pequenos conflitos familiares. Mas o horário do noticiário é sagrado. Quem não gosta é o Rihan, que depois de muita discussão cede, mas sem antes reclamar muito. Um dia na sua casa eu cheguei e liguei o televisor e não demorou ele ao meu lado falou baixinho: vovô, aqui em casa quem comanda o controle da televisão sou eu. Eu estava num outro território, onde o dono havia delimitado o seu domínio.
Terminando este texto terei de irei cumprir a missão e o sagrado compromisso que assumi, de forma vitalícia, encontrar com Rihan e Yasmin. Somente quem tem a oportunidade de conviver com neto e/ou neta pode medir e dizer com alegria infinita: vale a pena.


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