segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A MISSA DAS 10

Vamos hoje a Venda Nova do Imigrante. Lá existe um grupo denominado Voluntárias do Hospital Padre Maximo que tem 30 anos de trabalho com objetivo focado em proteger e assistir o hospital municipal. Hoje são 120 mulheres que se doam em trabalho e o transformam em mercadorias, que geraram construções, equipamentos médicos, ambulâncias e rouparia para o funcionamento decente do hospital.
Lá também tem a festa da Polenta que já por mais de 30 anos preserva as tradições trazidas na alma e nos navios da imigração do final do século XIX, que trouxe os seus ascendentes italianos, tangidos pela fome e a miséria. Nesta festa centenas de pessoas se revesam no trabalho voluntário que vai gerar dinheiro para as obras sociais. Eles não ficam esperando cair do Céu ou do Governo.
Outro fato que já tem mais de 40 anos é a festa dos Universitários. Um encontro dos que saíram para estudar fora. Até aqui nada de diferente, quando olhamos com um olhar tipo lugar comum. Mas se olharmos com a visão de que eles sempre entenderam a vida como uma necessidade de terem Educação, formação, aprendizado e trabalho como parceiros, veremos outra realidade, o exercício de buscarem e não ficar esperando e se lamuriando.
Lá teve presença do padre Cleto Calimam, um animador das iniciativas comunitárias, que com elas vibrava e aproveitava para colocar mais luz no horizonte, para novas caminhadas e novos desafios. Um animador de comunidade.
Lá eles se organizaram, principalmente os que ganham a vida no trabalho do campo nas lavouras e na lida com os animais, e partiram para agregar valor no que produziam, é o que chamamos de agroturismo – ação que despertou interesse de produtores de outros municípios capixabas e também de outros Estados. No agroturismo eles recebem nas suas casas os visitantes, que convivem com o dia a dia do campo.
Em 1996 o jornalista Ronaldo Ribeiro, da revista Os Caminhos da Terra, passou por lá ficou encantado com as nossas montanhas, definiu com sabedoria o agroturismo: uma sábia maneira de associar as belezas naturais da região com seus produtos típicos. Cada família, de cada sítio aperfeiçoou-se na produção daquilo que já sabia fazer bem.
No final da reportagem, Ronaldo estava no Pico da Bandeira e olhando para baixo e relatou:
- Se for domingo de manhã, pode apostar que é dia de festa depois da missa. Alguns copos de vinho e uma boa dose de alegria depois, estarão os italianos cantando, bebendo e arriscando a sorte num jogo barulhento chamado mora – cada um dos jogadores tem de adivinhar, aos berros e numa sequencia rápida, a soma dos dedos da sua mão e da mão do adversário, depois de abertas. E, principalmente, estarão eles rindo, rindo muito. Aqui é sempre assim. Trabalhamos com durante a semana para poder celebrar com essa mesma fé aos domingos. Vivemos com alegria e dignidade, arremata o agricultor Erasmo Minetti. A emoção com que os imigrantes italianos de Venda Nova do Imigrante falam da vida é um generoso exemplo. De um estado de espírito. Do Estado do Espírito Santo.
Semana passada estive em Venda Nova Do Imigrante e participei da festa falada no parágrafo acima. Tomei vinho, comi polenta e torresmo, mas fiquei triste ao saber que existe um movimento em andamento para acabar com a festa da sabedoria dos italianos de Venda Nova do Imigrante. No mínimo deve ser gente que não entende nada de Venda Nova do Imigrante.
ronaldmansur@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário