veículos da mídia alternativa e blogs na internet criam escudo contra artilharia de pensamento único dos grandes meios de comunicação
Pedro Rafael
Na semana em que o Brasil de Fato completa 10 anos de fundação com circulação semanal ininterrupta, editores, jornalistas e blogueiros que constroem o cotidiano de alguns dos mais importantes veículos alternativos de comunicação analisam os avanços e desafios do setor. “O Brasil tem uma concentração muito grande dos meios de comunicação (jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV) nas mãos de alguns poucos empresários. Isso atenta contra a construção de uma sociedade democrática, pois a democracia pressupõe que todas as correntes de opinião e todos os segmentos sociais tenham acesso à comunicação de massas”, critica o editor-chefe da revista Caros Amigos, Hamilton Octavio de Souza.
Jornalismo crítico
A alcunha de “alternativa” caracteriza o enfrentamento que esses veículos procuram fazer contra uma ideologia que orienta o conteúdo da maior parte dos meios de comunicação. “A grande mídia, os veículos de comunicação de massa, têm a importante função de definir a agenda nacional. É assim nos países democráticos. O problema é que no Brasil a grande mídia é muito concentrada, não apenas em algumas poucas empresas, também em termos de visão de mundo. O pensamento único impera. Daí a importância de se ter alternativas a ela”, examina Marcel Gomes, editor da Agência Carta Maior e um dos coordenadores da ONG Repórter Brasil.
Lançada em 2001, durante o I Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS), a Carta Maior é um portal na internet que reúne análises e reportagens sobre temas da conjuntura política, econômica, social e cultural do Brasil e do mundo. A audiência atinge um milhão de acessos mensais, em média. Além da diversidade de conteúdo, a mídia alternativa, em geral, se distingue quanto a sua forma de organização, até pela pouca estrutura econômica e o desinteresse pelo aspecto comercial da atividade. “É basicamente um conjunto de veículos que opera de modo diferente da grande mídia: muitos até são empresas, mas não visam o lucro; seus jornalistas não são apenas profissionais, mas militantes engajados nas mais diversas causas; e o conteúdo costuma ser ligado ao campo progressista, popular, de esquerda”, aponta Marcel Gomes.
O repórter da TV Record e blogueiro Rodrigo Vianna, do blog Escrevinhador, conhece bem os dois mundos. Com a experiência de quem sempre trabalhou na mídia empresarial e, desde 2008, também desenvolve uma atividade independente na internet, Vianna percebe com nitidez as contradições do jornalismo. “Na imprensa corporativa, por definição, o que interessa é a opinião do dono. Na mídia alternativa, a possibilidade da divergência é maior, as opiniões podem se expressar. Por outro lado, esses veículos menores têm muito mais dificuldade para coberturas mais amplas e terminam, muitas vezes, por fazer apenas o contraponto à pauta dos veículos comerciais”, observa.
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