domingo, 6 de janeiro de 2013

Com acordo no Congresso, EUA escapam de desastre orçamentário



O ano poderia ter começado pior. O acordo fechado na terça-feira (1º) em Washington sobre o orçamento americano evitou um desastre. Só um desmancha-prazeres não comemoraria. Se democratas e republicanos não tivessem entrado num acordo no Congresso, os Estados Unidos poderiam voltar a mergulhar na crise --afundando um pouco mais na recessão uma Europa já estagnada. O começo de 2013 teria sido calamitoso.

Le Monde
Na madrugada desta quarta (2), as luzes do Capitólio, a sede do legislativo dos EUA, em Washington, permaneceram acesas por causa da votação de projeto para cancelar o chamado "abismo fiscal"
Na madrugada desta quarta (2), as luzes do Capitólio, a sede do legislativo dos EUA, em Washington, permaneceram acesas por causa da votação de projeto para cancelar o chamado "abismo fiscal"
Mas não se enganem. O acordo orçamentário de terça-feira é um tapa-buracos de curto prazo. Um pouco de mercurocromo sobre uma ferida que continua escancarada. Ele mais contorna o mal do que o cura. Os Estados Unidos --que zombaram muito da incapacidade dos europeus de superarem a crise do euro-- ainda não têm uma estratégia para atacar de frente a doença que os mina: uma gigantesca dívida pública.
Democratas e republicanos haviam concordado em se associar em 2011. Se não houvesse um acordo quanto ao orçamento de 2013, um "pacote" de aumentos de impostos e de cortes nos gastos públicos entraria automaticamente em vigor. Foi o que se chamou de "precipício orçamentário": a brutalidade do choque sufocaria a retomada da atividade no país.
Era preciso evitá-lo a qualquer custo. O Senado, de maioria democrata, votou na segunda-feira um acordo cuidadosamente negociado com a Casa Branca. A Câmara dos Representantes, de maioria republicana, o aprovou na terça-feira. Alívio geral. Barack Obama foi passar as férias no Havaí. As bolsas de valores comemoraram em alta a prudência dos legisladores americanos.
No entanto, foi um acordo mínimo. A alíquota passou de 35% a 39,6% para rendas superiores a US$ 450 mil ao ano. Cada um cedeu um pouco. Os republicanos não queriam aumento nenhum de impostos; os democratas queriam aplicar essa nova alíquota às rendas superiores a US$ 250 mil.
O debate sobre a redução dos gastos públicos foi adiado por dois meses. A questão da elevação do teto legal da dívida --para evitar um novo rebaixamento da classificação que as agências dariam ao tesouro americano-- não foi abordada.
Não há por que não dizer que a Casa Branca e o Congresso ainda não têm um plano de ataque convincente para conter nos próximos cinco ou dez anos o inexorável aumento da dívida do país. Ela deverá atingir em breve 100% do PIB, flertando com 300% até metade do século. Insustentável, mesmo com um dólar que, mais do que nunca, continua sendo a grande moeda de reserva mundial.
Muito rapidamente o serviço da dívida e os dois grandes pilares do Estado-providência --saúde e aposentadoria-- engolirão o orçamento federal inteiro. A menos que financie de outra maneira a Previdência social, aumente os impostos e diminua os outros gastos públicos... essa grande reforma, que está revirando tanto os tabus democratas quanto os republicanos, será implementada por Obama até o final de seu mandato. Os europeus estão diante do mesmo problema, que requer o mesmo remédio: a coragem política.
Tradutor: Lana Lim

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