Há muitas partes móveis potenciais nas negociações do abismo fiscal, e, portanto, muitas formas potenciais das coisas poderem ser negociadas e resolvidas, adiadas ou resolvidas parcialmente.
Ross Douthat
Ross Douthat
Mas às vezes a simplificação ajuda, e o melhor lugar por onde começar ao se pensar em como as coisas provavelmente se desdobrarão é no seguinte fato bruto: independente do que os republicanos no Congresso venham a oferecer ao presidente e das concessões que estiverem dispostos a fazer, os impostos sobre os americanos mais ricos subirão em pelo menos US$ 800 bilhões ao longo da próxima década. Isso não é uma possibilidade, nem um cenário provável, nem um talvez; é uma realidade, reconhecida até mesmo pelo republicano apenas no nome, Jim DeMint. O que significa que é útil para propósitos analíticos tratar US$ 800 bilhões como base, em vez de motivo de discussão nas negociações, e reconhecer que qualquer acordo maior que John Boehner e Barack Obama puderem acertar deve ser avaliado tanto com base no equilíbrio entre os cortes de gastos e aumentos de impostos além dessa base quanto em sua aparência geral.
O movimento "Occupy Wall Street", que teve origem com a crise econômica e que se espalhou por todo o mundo, completa um ano; na foto, estudante pinta o corpo para participar de protesto em em Nova York, nos EUA
Logo, apesar da sensação de que, digamos, a visão de Corker e a da Casa Branca não estão impossivelmente distantes –US$ 400 bilhões no lado dos benefícios e US$ 600 bilhões no lado dos impostos, permitindo muitos motivos para impasse e muita inexatidão nos números– um acordo que combine elementos das duas propostas levaria a queixas ruidosas de "traição" por ambos os lados. Os republicanos olhariam para todo o quadro do orçamento e veriam um aumento de impostos em uma proporção muito maior do que os cortes de benefícios, e os democratas comparariam as garantias que receberam com o que de fato obtiveram e veriam o resultado como uma traição desnecessária –e ambos teriam razão!
Isso não torna um acordo maior impossível. Mas exigiria da liderança republicana levar sua rendição à realidade nos impostos (já dolorosa e internamente divisora) a outro nível, ou exigiria do presidente triangular contra sua própria base nas mudanças estruturais nos benefícios, de um modo que nem seu retrospecto e nem sua posição atual sugerem que ele o fará.
Como sou o tipo de oportunista que acha que os republicanos deveriam ter fechado um acordo maior durante o último debate do teto da dívida –na época em que Obama tinha todo incentivo político para buscar o bipartidarismo, e US$ 800 bilhões em aumentos de impostos ainda não eram a base das negociações– seria possível imaginar que considero a recuo estratégico como sendo a opção mais indicada. Eu recomendo a leitura de Bill Kristol no "The Weekly Standard" e de Philip Klein no "The Washington Examiner" para tratamentos mais longos da questão, mas apenas esse trecho de Klein diz tudo: "O momento para os republicanos vencerem o debate dos impostos foi durante a eleição de 2012. Eles perderam". E fingir que a derrota não aconteceu e que um pouco mais de manobras legislativas mudará a situação do país é uma boa forma de adiar o dia em que os republicanos de fato começarão a vencer os debates sobre impostos, em um futuro cada vez mais distante.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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