Na África do Sul, mais uma luta surda se enrola e desenrola. Na semana passada, a polícia sul-africana atirou balas de borracha contra trabalhadores rurais do setor vinícola, na região da Cidade do Cabo. Borracha ou não, morreram três. Sindicatos pedem boicote a vinho enquanto durar disputa.
Flávio Aguiar
A luta na Síria continua, sem visão de paz no fim do túnel. Os franceses e o exército regular do Mali retomam Timbuktu, esta cidade-gema na fímbria do deserto, e os grupos da Al Qaeda ou dela egressos (voltarão os movimentos tuaregues, hoje refugiados na Mauritânia?) recuam para os grotões do Saara. A Europa se debate na terna crise sem saída. A tucanagem elogia o Arco do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile) – uma articulação dos Estados Unidos na disputa pelo controle daquele oceano com a China – e prega que o Brasil se tornou irrelevante (?!) na América do Sul e no mundo. Brasil – o Brasil que chora pela hecatombe de Santa Maria. Enfim, como se dizia antigamente, o mundo gira e a Lusitana roda.
Mas enquanto isso, na África do Sul, mais uma luta surda se enrola e desenrola. Na semana passada, a polícia sul-africana atirou balas de borracha contra trabalhadores rurais na região da Cidade do Cabo. Borracha ou não, morreram três. Há centenas de feridos e detidos.
Qual o motivo do conflito? A greve dos trabalhadores no setor vinícola daquele país. Alguns meses atrás o país foi abalado pelos confrontos durante a greve dos mineiros, conflito que deixou dezenas de mortos.
Agora é a vez das fazendas que produzem a uva e depois os vinhos, setor que representa 2 bilhões e 720 milhões de reais, sobretudo em exportação. Mas é um setor cujos trabalhadores enfrentam condições muito precárias de trabalho, sem sistema de saúde e, em grande parte, ainda prisioneiros das velhas práticas paternalistas e autoritárias herdadas dos tempos do apartheid. Poucos são sindicalizados. Grande parte vive nas fazendas em que trabalham, o que os torna vulneráveis, porque, se são despedidos, perdem também a moradia. Há 500 mil trabalhadores no setor.
A paga média habitual é de 70 rands por dia, 5 libras ou 16 reais, mais ou menos. A reivindicação é pouco mais que o dobro, 150 rands, ou 32 reais, de diária. Não há uma negociação unificada. Algumas empresas se mostram dispostas a negociar, e ofereceram um pagamento linear a mais de 10 rands (R$ 2,25) para cada trabalhador, independente de quanto ganhe. Esta é uma velha tática divisória: para quem ganha menos, a soma é tentadora, um reajuste substancial na sua féria; para quem ganha mais, seu valor diferencial é menor. Em geral, isso provoca rachas e esvazia os movimentos. Os que ganham menos tendem a aceitar a oferta; os que ganham mais tendem a rejeitá-la.
O governo, como no caso da greve dos mineiro, hesita. Na verdade, não se sente com poder para enfrentar as vinícolas, e se vê pressionado por greves que, num setor muito desorganizado, tendem a sair do controle de seus líderes e organizações frágeis.
Enquanto isso, as organizações de trabalhadores lançaram o apelo de que, enquanto o conflito não for solucionado, não se importe nem compre vinho sul-africano.
Fica o registro.
Mas enquanto isso, na África do Sul, mais uma luta surda se enrola e desenrola. Na semana passada, a polícia sul-africana atirou balas de borracha contra trabalhadores rurais na região da Cidade do Cabo. Borracha ou não, morreram três. Há centenas de feridos e detidos.
Qual o motivo do conflito? A greve dos trabalhadores no setor vinícola daquele país. Alguns meses atrás o país foi abalado pelos confrontos durante a greve dos mineiros, conflito que deixou dezenas de mortos.
Agora é a vez das fazendas que produzem a uva e depois os vinhos, setor que representa 2 bilhões e 720 milhões de reais, sobretudo em exportação. Mas é um setor cujos trabalhadores enfrentam condições muito precárias de trabalho, sem sistema de saúde e, em grande parte, ainda prisioneiros das velhas práticas paternalistas e autoritárias herdadas dos tempos do apartheid. Poucos são sindicalizados. Grande parte vive nas fazendas em que trabalham, o que os torna vulneráveis, porque, se são despedidos, perdem também a moradia. Há 500 mil trabalhadores no setor.
A paga média habitual é de 70 rands por dia, 5 libras ou 16 reais, mais ou menos. A reivindicação é pouco mais que o dobro, 150 rands, ou 32 reais, de diária. Não há uma negociação unificada. Algumas empresas se mostram dispostas a negociar, e ofereceram um pagamento linear a mais de 10 rands (R$ 2,25) para cada trabalhador, independente de quanto ganhe. Esta é uma velha tática divisória: para quem ganha menos, a soma é tentadora, um reajuste substancial na sua féria; para quem ganha mais, seu valor diferencial é menor. Em geral, isso provoca rachas e esvazia os movimentos. Os que ganham menos tendem a aceitar a oferta; os que ganham mais tendem a rejeitá-la.
O governo, como no caso da greve dos mineiro, hesita. Na verdade, não se sente com poder para enfrentar as vinícolas, e se vê pressionado por greves que, num setor muito desorganizado, tendem a sair do controle de seus líderes e organizações frágeis.
Enquanto isso, as organizações de trabalhadores lançaram o apelo de que, enquanto o conflito não for solucionado, não se importe nem compre vinho sul-africano.
Fica o registro.
Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.
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