sábado, 13 de abril de 2013

A paz de Denis Thatcher



Margareth Thatcher foi uma das protagonistas essenciais do final da guerra fria e do começo do período histórico atual, junto com Ronald Reagan e com o Papa João Paulo II. O trio promoveu ativamente o fim da URSS e a passagem a um mundo sob hegemonia imperial norte-americana. Ao mesmo tempo, Thatcher e Reagan foram os garotos propaganda do modelo neoliberal. Assim, Thatcher deixa no mundo contemporâneo suas digitais sobre os dois elementos essenciais do nosso tempo: o imperialismo norte-americano e o modelo neoliberal.

Emir Sader
13.04.10_Emir Sader_A paz do viúvo Thatcher
Como todos os líderes neoliberais, Thatcher começou seu mandato peitando uma greve operária (de trabalhadores do carvão), levando à quebra do setor. (Reagan peitou a greve dos controladores aéreos; Berlusconi, os operários da Fiat; FHC, os petroleiros etc.). Era a demonstração de que o tempo dos acordos tinha terminado e que uma dura política antioperária estava a caminho.
Os governos neoliberais - ainda a grande maioria no mundo - representam o maior atentado aos direitos da massa da população que a história contemporânea conheceu. São produto e, ao mesmo tempo incentivam, a ditadura sem freios do capital sobre o mundo do trabalho. São eles que introduziram o mundo atual: o fim do Estado de bem estar social na Europa - um continente que teve pleno emprego durante três décadas e hoje amarga índices recordes de desemprego -, a crescente desigualdade e exclusão social, o clima de guerras e de intolerância.
Por isso Thatcher é uma queridinha da direita mundial. Ela ousou o que outros governantes não ousavam em termos de expropriação de direitos dos trabalhadores, de repressão aos sindicatos, de exposição descarnada do discurso de enfrentamento violento dos conflitos sociais. Por isso é odiada pelos trabalhadores e saudada pelo grande empresariado e seus porta-vozes.
Thatcher é a continuidade do conservadorismo da Rainha Vitória no século XIX e de Winston Churchill ao longo do século XX. É a grande antecessora e referência de Angela Merkel.
Apesar das vitórias inquestionáveis que obteve na sua carreira política, Thatcher morreu amargurada. Fui assistir ao filme sobre sua vida [A dama de ferro] sentado perto da porta, pronto para abandonar a sala ao menor assomo de humanidade que pudesse aparecer na representação de sua figura. Mas fiquei até o final, porque a brutalidade da personagem foi retratada tal qual era. Já na primeira cena, aposentada, vivendo numaagradável casa londrina, ela dá um esporro gigantesco no seu marido, já no café da manhã, porque ele passava muita manteiga no pão.
Denis Thatcher, falecido em 2003, é um sujeito que descansa em paz agora.

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