domingo, 14 de abril de 2013

Eslovênia cambaleia rumo à beira do precipício da crise do euro



Será que a Eslovênia se transformará na próxima vítima da crise do euro? Um novo relatório divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) destaca os profundos problemas enfrentados pela economia e pelo setor bancário do país. Enquanto Bruxelas e Liubliana insistem que um resgate financeiro não será necessário, o país está prestes a enfrentar tempos difíceis.

Der Spiegel
Primeira-ministra eslovena Alenka Bratusek (à esq.) cumprimenta o presidente da Comissão europeia Jose Manuel Barroso (à dir.) em reunião realizada na sede da União europeia em Bruxelas
Primeira-ministra eslovena Alenka Bratusek (à esq.) cumprimenta opresidente da Comissão europeia Jose Manuel Barroso (à dir.) em reunião realizada na sede da União europeia em Bruxelas.
Uma fileira de edifícios, que abriga 833 apartamentos, está quase vazia, e as obras em alguns desses prédios ainda não foram concluídas. Próximo desse empreendimento há um buraco profundo, pronto para ser preenchido pelas estruturas de um novo hotel – que agora, quase que certamente, nunca será construído.
Essa cena pode ser vista em vários países da zona euro, que têm sido devastados pela crise das dívidas soberanas e pelo estouro da bolha imobiliária. Mas esse complexo de edifícios em especial, conhecido como Siska, está localizado nos arredores de Liubliana, capital da minúscula Eslovênia. E oferece um cenário dramático para os crescentes temores de que o país poderá, em breve, tornar-se o próximo membro da zona do euro a necessitar de um resgate financeiro de Bruxelas.
A preocupação de que Liubliana possa, em breve, solicitar ajuda financeira emergencial foi intensificada na terça-feira passada por um relatório divulgado pela OCDE. Ao citar as dificuldades econômicas pelas quais o país tem passado, além do aumento de sua dívida soberana e os sérios problemas de seu setor bancário, o relatório observou que a Eslovênia corre o risco de sofrer uma "recessão prolongada e ter seu acesso aos mercados financeiros limitado".
Em outras palavras, a Eslovênia pode, em breve, ser incapaz de solicitar nos mercados os empréstimos de que necessita para se manter solvente. A primeira-ministra eslovena, Alenka Bratusek, foi rápida ao descartar os temores relacionados à possibilidade de um resgate financeiro, os quais chamou de "especulação". Ela insistiu que os fundamentos econômicos de seu país continuam sólidos, e que a Eslovênia é capaz de cuidar dos problemas que enfrenta atualmente sem ajuda externa. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, também rebateu o relatório da OCDE, e afirmou estar "confiante de que a Eslovênia enfrentará os desafios" de frente.
Problemas no setor bancário
E esses desafios são muitos. A economia eslovena está em recessão, e a OCDE prevê uma contração adicional de 2,1% para este ano. A dívida soberana do país, apesar de atualmente ser inferior à média da zona do euro, deverá dobrar para 100% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2025, de acordo com o relatório. Embora a OCDE observe que Liubliana tem dado passos significativos no sentido de consolidar seu orçamento e reformar sua economia, o relatório afirma que pode demorar muitos anos até que a Eslovênia consiga voltar a acompanhar o ritmo dos "países-membros mais desenvolvidos da OCDE".
Primeiro e mais importante, no entanto, é o fato de os problemas da Eslovênia estarem concentrados em suas instituições financeiras. Apesar de o valor total do setor bancário esloveno equivaler a cerca de 140% do PIB do país – percentual bem abaixo da média da zona do euro e bem menor do que a taxa de mais de 800% registrada em Chipre –, o colapso do setor imobiliário do país deixou os bancos com uma quantidade significativa de empréstimos podres (ou dívidas incobráveis) em seus livros contábeis.
Como o relatório da OCDE destacou, muitos dos problemas enfrentados pelos bancos eslovenos podem ser atribuídos ao fato de o setor nunca ter sido totalmente privatizado após a queda do comunismo. O resultado é que o governo detém um grande e pouco saudável nível de influência política sobre os grandes bancos da Eslovênia, como o Nova Ljubljanska Banka, o maior do país. Os críticos alegam que algumas empresas até chegaram a receber tratamento especial devido a suas ligações políticas.
"Trabalhando dia e noite"
O resultado direto dessa situação: até 7 bilhões de euros (US$ 9,17 bilhões) em empréstimos podres (ou dívidas incobráveis) que pesam sobre os balanços dos bancos eslovenos. O governo de Bratusek está tentando atualmente traçar um plano para criar um "banco podre" no qual possa descarregar esses empréstimos, muitos deles concedidos à moribunda a indústria da construção civil local.
Segundo notícias divulgadas pela imprensa, o país também terá que injetar 1 bilhão de euros nesses bancos de modo a prepará-los para uma venda, embora nenhuma data tenha sido definida ainda. Temores de que o governo esloveno não será capaz de obter esse dinheiro, junto com outros 2 bilhões de euros de que Liubliana necessita para permanecer solvente, têm gerado um aumento no custo dos empréstimos no país.
"Estamos cientes de que o setor bancário é o problema número um da Eslovênia", disse Bratusek, que se tornou primeira-ministra em março passado. "Estamos trabalhando nisso literalmente dia e noite".
Se a Eslovênia for obrigada a pedir ajuda financeira emergencial, o país se tornaria o sexto membro da zona do euro a fazê-lo. A economia da Eslovênia representa apenas 0,4% da produção econômica anual do grupo de países que utilizam o euro como moeda.

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