Um velho hábito me acompanha há décadas, a curiosidade. Sempre que tenho oportunidade a exerço com plena consciência e intensidade. Foi por causa deste comportamento que pude conhecer e vivenciar um caso interessante de visão e competência comercial.
Em 2005 numa exposição de produtos rurais, em Anchieta, por ocasião de um encontro de Escola FamÍlia Agrícola ligadas ao Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes), me chamou a atenção uma mesa com dezenas de produtos feitos pelas famílias dos agricultores. Um em especial me atraiu: um pacote de café. Não resisti e fui em busca de sua origem. Tinha o pacote um belo logotipo e o nome do produtor: Cecotti, com endereço, telefone e um cheiro agradável de café de qualidade.
Neste dia constatei uma das maiores ações vindas de um agricultor capixaba. Dois irmãos cafeicultores, Francisco e Vicente resolveram agregar valor no bem maior que possuíam, o trabalho, no caso, apresentado em forma do café. Logo em seguida fui buscar as duas figuras que eram as responsáveis pela ação de marketing normal numa empresa dita moderna, mas uma surpresa quando vindo do meio rural. Encontrei os irmãos Cecotti, descendentes de imigrantes italianos, morando e trabalhando numa propriedade como muitas outras, explorada no sistema de economia familiar.
Torrar café e vende-lo é uma situação onde o produtor quer agregar valor na sua produção primária. Uma ação normal e justa de qualquer indivíduo que deseja ter um ganho sobre o produto que ele tira da terra. Os irmãos Cecotti foram um pouco mais adiante no torrar e vender café. Fizeram um a ação inovadora, vinda do meio rural, normalmente descapitalizado e sofrendo nas mãos de intermediários, mas trabalhando e lutando diariamente para sobreviver. Ir um pouco mais adiante.
Ao torrarem, moerem café e vende-lo fizeram igual ao que muitos cafeicultores capixabas já haviam feito. Até aqui nada de diferente. Mas eles investiram um bom capital na aquisição de três máquinas para fazer café expresso, que foram locadas em bares e lanchonetes de Castelo. O gasto representou despesa extra que na época equivalia a dezenas de sacas de café. Hoje já são oito máquinas. Um investimento de quem acredita no futuro e no que está fazendo.
No início do empreendimento o mínimo que se podia imaginar é que eles estavam num projeto utópico e sem a menor possibilidade de sucesso. Aliás, um fracasso com tempo certo para acontecer. Me lembro que o Jornal do Campo fez uma reportagem para falar sobre a iniciativa dos Cecotti, o Francisco falou sobre o custo de cada máquina e que ela teria de trabalhar para fazer retornar o dinheiro nelas investido. Mas lembrou que a máquina iria fazer com que o produto deles ficasse conhecido e renderia um bom retorno.
Outra ação dos irmãos Cecotti é o de estar sempre presente em eventos no município. Como Castelo tem a Festa de Corpus Christh, que atrai milhares de turistas, lá sempre estão distribuindo café de graça, mas na expectativa de ir passando os seus pacotes aos interessados em levar prá casa um produto de qualidade.
O Espírito Santo tem de aplaudir o trabalho de gente como os Cecotti. Aliás, o nosso futuro dependerá do apoio que a Sociedade e o Poder Público derem a este tipo de iniciativa. Isto é uma parte do Espírito Santo real que não me cansarei nunca em buscar, bater palmas, agradecer e divulgar.
ronaldmansur@gmail.com
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