terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Em meio ao desemprego, profissionais ocupam vagas com atividades manuais na França




Caces. Cinco letras que não dizem nada para pós-graduados. No entanto, elas atraem desempregados sem qualificação, sejam jovens de zonas urbanas carentes ou quinquagenários demitidos de fábricas fechadas em Auvergne ou Seine-Maritime. "É o canal para encontrar trabalho no momento", resume Julien, 20, em frente à AFPA (Associação Nacional para a Formação Profissional de Adultos) de Cantin, perto de Doaui. "Nas agências de emprego, todos os anúncios exigem o Caces. Estou cansado de perder oportunidades de empregos, então vim aqui para obtê-lo, como meus dois irmãos já fizeram."

Jean-Baptiste Chastand
Policiais espanhóis participam de manifestação contra as medidas dogoverno para enfrentar a crise econômica, no centro de Madri
Caces é o acrônimo para Certificado de Aptidão em Conduta de Segurança, necessário para dirigir empilhadeiras em armazéns ou canteiros de obras. Em menos de dez anos, o número de testes aplicados dobrou, passando de  mais de 317 mil para mais de  641 mil em 2011. E a categoria específica para plataformas logísticas teve o maior aumento (+54%). Por trás desses números, há uma grande mudança de territórios ocorrendo. "Dez anos atrás, conseguia-se colocar muitos jovens em trabalhos temporários na Renault, em Cuincy. Hoje, acabou. Os trabalhos agora estão nas plataformas logísticas", constata Sylvie Skolozdrzyk, conselheira em um dos centros de colocação profissional para jovens da região de Douaisis. "Éramos uma região industrial. Estamos nos tornando uma terra de entrepostos", sintetiza Dominique Seddaoui, psicóloga do trabalho encarregada do setor de logística da AFPA de Nord-Pas-de-Calais.

Nos campos de beterraba destinada à produção de açúcar que cercam Douai, ao longo de eixos rodoviários estratégicos que ligam a Bélgica à região parisiense, gigantescos galpões coloridos brotaram como cogumelos. E ainda estão brotando: perto do armazém de 18 mil metros quadrados da Bigben Interactive (videogames) e do de 66 mil metros quadrados da Kiabi (roupas), a gigante americana do comércio online Amazon começou no início de dezembro a construção de um ponto de 90 mil metros quadrados. Cada plataforma é sinônimo de centenas de empregos que exigem pouca qualificação no manuseio de mercadorias, nagestão de estoques, na expedição, acessíveis aos 72% desempregados e não diplomados da região, contanto que eles possuam o precioso Caces. Foi o que levou a AFPA a criar cursos específicos.

Foi justamente na esperança de poder se inscrever em um deles que onze desempregados assistiram no início de dezembro à palestra sobre as profissões de logística, coordenada por Dominique Seddaoui. Seus currículos contam trajetórias desconjuntadas de trabalhos temporários por contratos breves. Alexandre, 25, largou a escola aos 14 anos. Desde então ele trabalhou como "coletor de endívias", ajudante de cozinha e repositor de supermercado. Apesar de sua formação no setor de madeira, Farid, 31 , por muito tempo trabalhou como vendedor ambulante de roupas, antes de uma série de passagens pela indústria automobilística. Isabelle, 46, tem um certificado de mecânica em confecção industrial. Desde então ela foi  passadeira, garçonete em uma padaria, gerente de um café. Em seguida ela passou dezoito meses como "preparadora de pedidos" na Kiabi.     
Depois desse contrato que não foi renovado, assim como todos aqueles que a cercam ela tem procurado "um pouco de tudo". E reparou no número de ofertas ligadas à obtenção do Caces. "Mas o Caces é uma habilitação entregue em cinco dias, não é uma profissão!", afirma Dominique Seddaoui. "A AFPA oferece uma formação na profissão de operador de empilhadeira, com um diploma de verdade equivalente a um CAP. Mas isso leva três meses e meio". Pouco depois, ela explicou: "As empresas dizem: ‘Se você tiver seu Caces, pode ser contratado como extra no período do Natal". Então as pessoas o querem de qualquer jeito, porque é sinônimo de um trabalho imediato, ainda que não tenha futuro. É difícil falar na construção de um plano de carreira".
Durante sua entrevista individual, Davy, 21, lhe contou ter abandonado o colegial técnico por um trabalho temporário de 16 meses em um armazém. Ele ficou encantado: "É um trabalho manual, mas não como o de pedreiro, sabe, não se sujam as mãos, então ainda é bom". Mas em agosto seu contrato não foi renovado e ele se viu sem nada.

Esse tipo de decepção, frequente, faz com que a maior parte das conselheiras dos centros de colocação profissional de jovens adote cautela diante do entusiasmo causado pela chegada da Amazon. "É internet, é americana, parece cool. Até alguns anos atrás, os jovens só falavam de Kiabi. E depois passou, quando eles foram trabalhar lá, sobretudo em contratos temporários, recebendo um salário mínimo", observa Carole Powazka. "Evidentemente é uma verdadeira oportunidade para os desempregados da região, mas vem acompanhada da precariedade. Então isso levanta questões sobre a construção de um projeto de futuro".
O presidente da associação de municípios que lutou para atrair a Amazon, sobretudo por promessas de auxílios públicos, quer se mostrar pragmático. "Em 2015, ela será a segunda maior empregadora do setor depois da Renault. Há 14% de desempregados aqui", lembra Christian Poiret. "Então meu objetivo não é que as pessoas ganhem fortunas, mas sim permitir que elas sustentem suas famílias com seu trabalho em vez de subsídios do governo".
Tradutor: Lana Lim

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