Evo Morales convoca era de paz e união para barrar 'ganância capitalista'
O dia 21 não marcou o “fim do mundo”, disse o presidente boliviano, mas uma oportunidade de desabilitar “o egoísmo e a ganância capitalista” e unir a humanidade em torno da felicidade. Defensor dos direitos indígenas e descendente do povo Aimara, Evo rejeitou a ideia de que o solstício de verão marcava o “fim dos tempos”, sustentando que o fim do calendário significa uma oportunidade de renovação espiritual.
Jon Queally - Common Dreams
Segundo o presidente boliviano Evo Morales, o discutidíssimo dia 21 deveria ser celebrado como o início de uma “nova era de paz e amor” no mundo, na qual o sentimento de comunidade e o respeito pela Mãe Terra vencerão a gânancia a que o capitalismo global induz.
Evo Morales disse que solstício de verão marca “o fim de uma vida antropocêntrica e o início de uma vida biocêntrica. É o fim do ódio e o início do amor, o fim da mentira e o início da verdade.” Num convite para a celebração do dia, o boliviano explicou que “para o calendário maia, o 21 de dezembro é o fim do não-tempo e o início do tempo. É o fim de Macha e o início de Pacha, o fim do egoísmo e o início da fraternidade, o fim do individualismo e o início do coletivismo”.
E continuou, “os cientistas sabem muito bem que chegamos ao fim da vida antropocêntrica. É o fim da divisão e o início da unidade, precisamos desenvolver esse tema. Por isso convidamos a todos que acreditam na humanidade, a todos que querem dividir experiência em benefício da humanidade”.
Morales, defensor dos direitos indígenas e descendente do povo Aimara, ajudou a desfazer a ideia de que o solstício de verão marcava o “fim dos tempos” ou o “apocalipse” sustentando que o fim do calendário não significava senão uma oportunidade de renovação espiritual. Embora fundamentada na cultura do povo maia, o governo boliviano adverte que a retórica do “fim do mundo” é uma invenção ocidental sustentada por quem conhece pouco das tradições e da história do povo indígena.
Em setembro, o presidente boliviano disse numa assembleia da Onu que o amor prevaleceria sobre o ódio a partir do último dia 21. Morales mantém esse discurso há muito, junto com a ideia de vivir bien. Durante as celebrações no Lago Titicaca, para as quais Evo se dirigiu numa embarcação indígena, ele sublinhou a importância de um equilíbrio harmonioso entre a vida e o planeta, apesar de que muitos questionam a aplicação dessas ideias na Bolívia, onde a economia depende basicamente das indústrias de gás, petróleo e mineração.
Um excerto mais longo da fala de Evo Morales na Onu pode ser encontrado noIndian Country Media Network:
“Eu gostaria de anunciar um encontro internacional no dia 21 de dezembro deste ano. Um encontro para encerrar a era do não-tempo e receber a nova era de equilíbrio e harmonia para a Mãe Terra. Falar da sabedoria de nossos irmãos indígenas do México, Guatemala, Bolívia e Equador tomaria muito tempo, mas, basicamente, este é um convite para um debate sobre os seguintes tópicos:
Número 1: crise global do capitalismo
Número 2: governança global, capitalismo, socialismo, comunidade e cultura
da vida
Número 3: crise climática, relação entre homem e natureza
Número 4: energia como bem comum
Número 5: consciência da Mãe Terra
Número 6: recuperação de costumes ancestrais
Número 7: o viver bem como solução para a crise global, porque eu gostaria de afirmar novamente que se pode viver melhor preservando recursos naturais
Número 8: soberania alimentar
Número 9: integração, fraternidade, comunidade, economia, direito à
comunicação e à saúde.
E Shankar Chautari, também do períódico inglês The Guardian, relata de uma recente visita às regiões maias das Américas do Sul e Central que havia pouca ou nenhuma percepção de que o dia marcava o fim de qualquer coisa no sentido físico.
Em nossa viagem, encontramos muitos maias para conhecer suas reações quanto ao suposto fim do mundo. A maioria ficou desconcertada com a pergunta, outros negaram qualquer razão que apontasse para o fim.
Quando dizíamos que por trás do 'apocalipse' havia sabedoria tradicional maia, eles polidamente diziam não conhecer qualquer profecia ou texto.
Em todos os lugares que visitamos, fosse em cidades grandes como Merida ou pequenas como Uayamon, encontramos o povo local conduzindo sua vida em perfeita calma, sem qualquer preocupação de que o fim estivesse próximo.
David Stuart, um notório pesquisador da cultura maia da Universidade do Texas, observou em seu livro The Order Of Days: The Maya World and the Truth About 2012 (A Ordem dos Dias: o Mundo Maia e a Verdade sobre 2012) que “nenhum texto maia, seja ele antigo, colonial ou moderno, profetixou o fim dos tempos ou do mundo”.
Matéria original: https://www.commondreams.org/headline/2012/12/21
Tradução de André Cristi
Evo Morales disse que solstício de verão marca “o fim de uma vida antropocêntrica e o início de uma vida biocêntrica. É o fim do ódio e o início do amor, o fim da mentira e o início da verdade.” Num convite para a celebração do dia, o boliviano explicou que “para o calendário maia, o 21 de dezembro é o fim do não-tempo e o início do tempo. É o fim de Macha e o início de Pacha, o fim do egoísmo e o início da fraternidade, o fim do individualismo e o início do coletivismo”.
E continuou, “os cientistas sabem muito bem que chegamos ao fim da vida antropocêntrica. É o fim da divisão e o início da unidade, precisamos desenvolver esse tema. Por isso convidamos a todos que acreditam na humanidade, a todos que querem dividir experiência em benefício da humanidade”.
Morales, defensor dos direitos indígenas e descendente do povo Aimara, ajudou a desfazer a ideia de que o solstício de verão marcava o “fim dos tempos” ou o “apocalipse” sustentando que o fim do calendário não significava senão uma oportunidade de renovação espiritual. Embora fundamentada na cultura do povo maia, o governo boliviano adverte que a retórica do “fim do mundo” é uma invenção ocidental sustentada por quem conhece pouco das tradições e da história do povo indígena.
Em setembro, o presidente boliviano disse numa assembleia da Onu que o amor prevaleceria sobre o ódio a partir do último dia 21. Morales mantém esse discurso há muito, junto com a ideia de vivir bien. Durante as celebrações no Lago Titicaca, para as quais Evo se dirigiu numa embarcação indígena, ele sublinhou a importância de um equilíbrio harmonioso entre a vida e o planeta, apesar de que muitos questionam a aplicação dessas ideias na Bolívia, onde a economia depende basicamente das indústrias de gás, petróleo e mineração.
Um excerto mais longo da fala de Evo Morales na Onu pode ser encontrado noIndian Country Media Network:
“Eu gostaria de anunciar um encontro internacional no dia 21 de dezembro deste ano. Um encontro para encerrar a era do não-tempo e receber a nova era de equilíbrio e harmonia para a Mãe Terra. Falar da sabedoria de nossos irmãos indígenas do México, Guatemala, Bolívia e Equador tomaria muito tempo, mas, basicamente, este é um convite para um debate sobre os seguintes tópicos:
Número 1: crise global do capitalismo
Número 2: governança global, capitalismo, socialismo, comunidade e cultura
da vida
Número 3: crise climática, relação entre homem e natureza
Número 4: energia como bem comum
Número 5: consciência da Mãe Terra
Número 6: recuperação de costumes ancestrais
Número 7: o viver bem como solução para a crise global, porque eu gostaria de afirmar novamente que se pode viver melhor preservando recursos naturais
Número 8: soberania alimentar
Número 9: integração, fraternidade, comunidade, economia, direito à
comunicação e à saúde.
E Shankar Chautari, também do períódico inglês The Guardian, relata de uma recente visita às regiões maias das Américas do Sul e Central que havia pouca ou nenhuma percepção de que o dia marcava o fim de qualquer coisa no sentido físico.
Em nossa viagem, encontramos muitos maias para conhecer suas reações quanto ao suposto fim do mundo. A maioria ficou desconcertada com a pergunta, outros negaram qualquer razão que apontasse para o fim.
Quando dizíamos que por trás do 'apocalipse' havia sabedoria tradicional maia, eles polidamente diziam não conhecer qualquer profecia ou texto.
Em todos os lugares que visitamos, fosse em cidades grandes como Merida ou pequenas como Uayamon, encontramos o povo local conduzindo sua vida em perfeita calma, sem qualquer preocupação de que o fim estivesse próximo.
David Stuart, um notório pesquisador da cultura maia da Universidade do Texas, observou em seu livro The Order Of Days: The Maya World and the Truth About 2012 (A Ordem dos Dias: o Mundo Maia e a Verdade sobre 2012) que “nenhum texto maia, seja ele antigo, colonial ou moderno, profetixou o fim dos tempos ou do mundo”.
Matéria original: https://www.commondreams.org/headline/2012/12/21
Tradução de André Cristi
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