Juan Manuel Karg
Licenciado en Ciencia Política UBA. Militante de MAREA Popular. Miembro de la Articulación Continental de Movimientos Sociales hacia el ALBA
Adital
Diversas pesquisas, divulgadas nos últimos 30 dias, outorgam a Correa uma clara vantagem nas eleições presidenciais do próximo dia 17 de fevereiro que lhe permitiria ganhar logo no primeiro turno. A empresa privada "Market”, em um estudo realizado em meados de janeiro, outorga ao candidato da Alianza País 49% das intenções de voto, seguido por 18% do ex-banquero Guillermo Lasso –Movimiento Creo- e 12% do ex-presidente Lucio Gutiérrez. Mais atrás estão Alberto Acosta e Álvaro Noboa, com 6% e 4% respectivamente. Segundo a empresa pesquisadora "Perfiles de Opinión”, a brecha é ainda maior, com Correa alcançando 63%; Lasso, 9%; Gutiérrez, 4% e Noboa, 2%.
Um tema como as relações internacionais pode servir-nos para ilustrar as profundas diferenças que existem entre os candidatos antes de adentrar-nos nas propostas de Correa. Guillermo Lasso declarou recentemente a EFE que a Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América) constitui um "império do terceiro mundo”, afirmando que, caso ganhe as eleições, impulsionará a entrada do Equador na Aliança do Pacífico. Em seguida, assegurou que em matéria comercial dará prioridade à assinatura de acordos com os Estados Unidos e com a União Europeia. Postura similar tem o ex-presidente Lucio Gutiérrez, que informou ao Canal Ecuavisa que a Alba é um "clube ideológico” e "engraçado”, qualificando Correa de "títere” de Hugo Chávez.
A proposta do Socialismo do Buen Vivir
No programa de governo de Correa para o período de 2013-2017 pode-se ver as "35 propostas para o Socialismo do Bem Viver”, cujo lema principal é "governar para aprofundar a mudança”. Assim, desde a apresentação desse extenso documento (139 páginas), anuncia-se que "a Revolução Cidadã promete aprofundar e radicalizar seu programa: um canto à justiça, à dignidade, à soberania, ao socialismo e à verdade”. Dessa maneira, retoma-se um ideário independentista com origem em Bolívar, Sucre, Manuela Saénz e Eloy Alfaro Delgado (que é citado na introdução com sua frase "Nada para nós; tudo para a Pátria, para o povo que se tornou digno de ser livre”).
Pois bem, quais os eixos propostos? Para começar, aprofundar a melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores e das maiorias populares; algo que se demonstra na queda da desigualdade por ingressos medida pelo coeficiente de Gini: enquanto em 2006, os 10% mais ricos obtinham 28 vezes mais ingressos do que os 10% mais pobres; em 2011, essa brecha reduziu-se 10 vezes. Isso se vincula a um segundo avanço da Revolução Cidadã, que também está enunciado no documento: "o resgate do público e a reconstrução de um Estado que havia sido desmantelado pelo neoliberalismo selvagem e pela indiferença da burguesia”.
No entanto, a proposta de Alianza País vai além. E aqui, sem dúvida, podemos mencionar como antecedentes a ideia do "Socialismo do Século XXI”, na Venezuela, e o "Socialismo Comunitário do Bem Viver”, impulsionado pelo governo do MAS (Movimento al Socialismo), na Bolívia. Vejamos: no item "Princípios e Orientações para o Socialismo do Bem Viver”, o programa de governo de Correa propõe "uma transição para uma sociedade na qual a vida não esteja a serviço do capital ou de qualquer outra forma de dominação. Afirmamos, de modo radical, que a supremacia do trabalho humano sobre o capital é inegociável e que a defenderemos em todos os espaços da vida social onde possa ser vulnerada”.
Isso, somado aos esforços para mudar a matriz produtiva; a busca constante pela democratização dos meios de produção; o horizonte da soberania energética; as tarefas cotidianas para promover uma verdadeira "economia social”; o chamado a uma revolução no conhecimento; e a construção de poder popular –a partir das bases- como eixos da proposta do "Socialismo do Bem Viver” propõem uma perspectiva que, objetivamente, é antagônica ao ideário de Lasso e de Gutiérrez.
Definitivamente, no dia 17 de fevereiro, no Equador, acontecerá uma batalha crucial. Dois projetos de país e de continente se enfrentarão: um de horizonte emancipador –representado pela Alba, experiência chave para entender a mudança política, econômica e social equatoriana-, contra uma hipotética nova submissão aos capitais norte-americanos e europeus, e a um realinhamento no marco da Aliança do Pacífico (como vimos nas declarações de Lasso e de Gutiérrez). Um novo triunfo de Correa, com um programa como o que está apresentando, seria outro claro golpe à política dos EUA em nosso continente, após a rotunda vitória da Revolução Bolivariana, em outubro passado.
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