Com Gael Garcia Bernal, filme conta como um publicitário superou o General Pinochet
Indicado ao Oscar de filme estrangeiro, 'No', do diretor Pablo Larrain e estrelado por Gael Garcia Bernal, narra a história do plebiscito de 1988 que pôs fim a era Pinochet. Na época, pela primeira vez a oposição conseguiu quinze minutos de propaganda eleitoral, em que teve a tarefa de convencer os chilenos de que chegara a hora da mudança.
Ed Stocker
“Eu acho que a maioria das pessoas, o mundo todo, sabe como Pinochet chegou ao poder”, diz o diretor do filme Pablo Larrain.
Mas eu não tenho certeza se as pessoas sabem como ele foi derrotado. O que ocorreu foi uma fascinante combinação de mídia, propaganda e capitalismo”, O último filme de Larrain, “No”, retrata a intrigante estória da propaganda por trás do referendo e das estratégias da derrocada do ditador chileno.
No final dos anos 80, o líder chileno Pinochet queria suavizar sua imagem e passou a trocar sua indumentária militar por ternos elegantes. Sob a pressão dos EUA, seu aliado no golpe de 73, que derrubou o então presidente, democraticamente eleito, Salvador Allende, Pinochet criou uma eleição. E o que foi mais então significativo: pela primeira vez, na corrida para a presidência, a oposição conseguiu quinze minutos de propaganda eleitoral. A tarefa deles era convencer os chilenos que era chegada a hora da mudança, e que podiam ir, sem medo, às urnas.
O filme, indicado para o Oscar na categoria Melhor em Língua Estrangeira, tem Gael Garcia Bernal no papel de Rene Saavedra, o publicitário de voz suave que protagoniza a campanha chamada “No”. É uma interpretação forte e convincente do ator mexicano que foi lançado à fama graças a filmes aclamados como clássicos e de arte, como Amores Brutos e Babel, além de um bem vindo retorno ao cinema latino-americano depois de algumas escolhas um tanto questionáveis (o quanto menos lembrarmos das comédias românticas, vide Pronta para Amar , de 2011, ao lado de Kate Hudson, melhor).
O personagem de Bernal tem que criar um anúncio e uma campanha que acertem no tom. Depois de discutir com politicos sobre qual deles ocuparia o lugar oposto ao dos horrores de uma ditadura, sua visão ficou mais clara. Passa, então, a focar em uma postura totalmente positiva, abraçando a ideia do mercado livre e da geração Coca-cola que ironicamente Pinochet ajudou a crescer, mas a desfavor do próprio ditador. A campanha cria então um logo multicolorido, enquanto que as propagandas da televisão usam imagens claras, solares, de sujeitos sorridentes e loiros, acompanhada do slogan “A felicidade está chegando”. A campanha do “Sí” estaciona.
O filme usa uma boa dose de licença poética. Muitos dos personagens são amálgamas de vários envolvidos com os fatos da época, e o próprio Saavendra é na verdade uma mistura do que foram José Manuel Salcedo e Eugenio Garcia, com algo da vida particular e familiar mostrado na medida certa (a mulher Veronica é interpretada pela mulher de Larrain, Antonia Zegers). Os dois, Salcedo e Garcia, também estão aparecem no filme, mas de forma invertida ao que fizeram, como cúmplices da campanha “Sí”.
A maior licença tomada no filme diz respeito ao papel de Lucho Guzman, interpretado por Alfredo Castro, o chefe de propaganda de Saavendra, que também é um dos mais próximos do círculo do protagonista. Na verdade, os dois nunca trabalharam juntos mas a solução do filme proporciona uma nova dimensão dramática; Guzman, estrela de outros dois filmes de Larrain, é um vilão maravilhoso.
Larrain insiste que No é fiel ao cerne dos fatos e a como eles ocorreram. A câmara utilizada na filmagem confere ao filme uma dimensão granulada, além do artifício esperto de entrecortar o drama com filmagens de noticiários. Ele também traz imagens originais do Primeiro Presidente do Chile depois de Pinochet, Patricio Aylwin, numa re-encenação da festa de vitórida da campanha “No”, também entremeada por genuínos trechos de noticiários.
“No” é o último filme de uma trilogia baseada na ditadura, assunto que Larrain passou a conhecer bem. Ele costuma dizer que queria responder a pergunta sobre como a sociedade chilena poderia se machucar tanto.
Os primeiros dois filmes da trilogia, Tony Manero e Post Mortem, os dois estrelados por Castro, usaram a ditadura como pano de fundo, para explorar as complexidades dos seus personagens principais. No primeiro deles, Castro interpreta Raul Peralta, um obcecado por John Travolta, e também serial killer; no outro ele é um agente funerário reprimido, assistindo aos corpos se empilharem. Mas em “No” finalmente a ditadura tem o papel principal.
“Talvez os dois primeiros filmes fossem sobre pessoas derrotadas”, diz Larrain. Mas “No” é sobre o triunfo, e traz uma qualidade épica. Como diretor, você nem sempre consegue contar uma história como essa”
Mas eu não tenho certeza se as pessoas sabem como ele foi derrotado. O que ocorreu foi uma fascinante combinação de mídia, propaganda e capitalismo”, O último filme de Larrain, “No”, retrata a intrigante estória da propaganda por trás do referendo e das estratégias da derrocada do ditador chileno.
No final dos anos 80, o líder chileno Pinochet queria suavizar sua imagem e passou a trocar sua indumentária militar por ternos elegantes. Sob a pressão dos EUA, seu aliado no golpe de 73, que derrubou o então presidente, democraticamente eleito, Salvador Allende, Pinochet criou uma eleição. E o que foi mais então significativo: pela primeira vez, na corrida para a presidência, a oposição conseguiu quinze minutos de propaganda eleitoral. A tarefa deles era convencer os chilenos que era chegada a hora da mudança, e que podiam ir, sem medo, às urnas.
O filme, indicado para o Oscar na categoria Melhor em Língua Estrangeira, tem Gael Garcia Bernal no papel de Rene Saavedra, o publicitário de voz suave que protagoniza a campanha chamada “No”. É uma interpretação forte e convincente do ator mexicano que foi lançado à fama graças a filmes aclamados como clássicos e de arte, como Amores Brutos e Babel, além de um bem vindo retorno ao cinema latino-americano depois de algumas escolhas um tanto questionáveis (o quanto menos lembrarmos das comédias românticas, vide Pronta para Amar , de 2011, ao lado de Kate Hudson, melhor).
O personagem de Bernal tem que criar um anúncio e uma campanha que acertem no tom. Depois de discutir com politicos sobre qual deles ocuparia o lugar oposto ao dos horrores de uma ditadura, sua visão ficou mais clara. Passa, então, a focar em uma postura totalmente positiva, abraçando a ideia do mercado livre e da geração Coca-cola que ironicamente Pinochet ajudou a crescer, mas a desfavor do próprio ditador. A campanha cria então um logo multicolorido, enquanto que as propagandas da televisão usam imagens claras, solares, de sujeitos sorridentes e loiros, acompanhada do slogan “A felicidade está chegando”. A campanha do “Sí” estaciona.
O filme usa uma boa dose de licença poética. Muitos dos personagens são amálgamas de vários envolvidos com os fatos da época, e o próprio Saavendra é na verdade uma mistura do que foram José Manuel Salcedo e Eugenio Garcia, com algo da vida particular e familiar mostrado na medida certa (a mulher Veronica é interpretada pela mulher de Larrain, Antonia Zegers). Os dois, Salcedo e Garcia, também estão aparecem no filme, mas de forma invertida ao que fizeram, como cúmplices da campanha “Sí”.
A maior licença tomada no filme diz respeito ao papel de Lucho Guzman, interpretado por Alfredo Castro, o chefe de propaganda de Saavendra, que também é um dos mais próximos do círculo do protagonista. Na verdade, os dois nunca trabalharam juntos mas a solução do filme proporciona uma nova dimensão dramática; Guzman, estrela de outros dois filmes de Larrain, é um vilão maravilhoso.
Larrain insiste que No é fiel ao cerne dos fatos e a como eles ocorreram. A câmara utilizada na filmagem confere ao filme uma dimensão granulada, além do artifício esperto de entrecortar o drama com filmagens de noticiários. Ele também traz imagens originais do Primeiro Presidente do Chile depois de Pinochet, Patricio Aylwin, numa re-encenação da festa de vitórida da campanha “No”, também entremeada por genuínos trechos de noticiários.
“No” é o último filme de uma trilogia baseada na ditadura, assunto que Larrain passou a conhecer bem. Ele costuma dizer que queria responder a pergunta sobre como a sociedade chilena poderia se machucar tanto.
Os primeiros dois filmes da trilogia, Tony Manero e Post Mortem, os dois estrelados por Castro, usaram a ditadura como pano de fundo, para explorar as complexidades dos seus personagens principais. No primeiro deles, Castro interpreta Raul Peralta, um obcecado por John Travolta, e também serial killer; no outro ele é um agente funerário reprimido, assistindo aos corpos se empilharem. Mas em “No” finalmente a ditadura tem o papel principal.
“Talvez os dois primeiros filmes fossem sobre pessoas derrotadas”, diz Larrain. Mas “No” é sobre o triunfo, e traz uma qualidade épica. Como diretor, você nem sempre consegue contar uma história como essa”
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