Internet Brasil: por que o espírito de Aaron Swartz é necessário
Dois debates essenciais na Campus Party: deputada pede mobilização para aprovar, em abril, lei que garante liberdade na rede; e estudiosos do hacker perseguido examinam seu legado
Por Antonio Martins
Termina neste domingo (3/2), em São Paulo, a 6ª edição da Campus Party Brasil, um mega-encontro dos que se envolvem com internet, programação, games, cultura e mídia digitais. Patrocinada por grandes empresas, a festa tem destaque na mídia comercial. Esta destaca seu folclore (milhares de nerds acampados em barracas, instaladas em recinto fechado), mas esquece seus debates essenciais. Dois deles ocorreram nesta quarta-feira (30/1). Dizem respeito à luta contra o controle da internet e ao papel que a circulação livre de conhecimentos pode jogar, na superação do capitalismo. Em ambos eventos, evocou-se Aaron Swartz, o guerrilheiro pela liberdadena rede que se suicidou no início do mês, depois de sofrer intensa perseguição judicial.
O primeiro debate ocupou o palco principal da Campus Party e tratou dos rumos da internet brasileira. Destacou-se a fala da deputada Manuela Dávila (PCdoB-RS), que lançou um alerta. Para ela, o Brasil tem a oportunidade de aprovar a lei de defesa da liberdade na rede mais avançada do mundo — o chamado “Marco Civil” –, mas não o fará sem mobilização social intensa. Ocorre, lembrou Manuela, que, além de conservador, o Congresso tem aceitado as pressões dos diversos grupos econômicos interessados em controlar a rede.
Em razão disso, a votação do “Marco Civil” no plenário da Câmara Federal foi adiadaseis vezes, nos últimos meses. Ele “só vai ser colocado em votação se a galera se organizar e pressionar o novo presidente da Câmara a fazer isso”, advertiu a deputada. Uma nova possibilidade de votar deverá apresentar-se em abril.
Pouco depois, um outro evento debatia, especificamente, Aaron Swartz e seu legado pra os brasileiros. Participaram Leandro Chemalle (do Partido Pirata brasileiro), a jornalista Tatiana Dias, de O Estado de S.Paulo e Rafael Zanatta, colaborador de Outras Palavras. O diálogo está gravado e transcrito no site E-mancipação, de Zanatta.
Acessá-lo é uma boa forma de compreender os meandros humanos da morte de Swartz (Tatiana frisa que, ao contrário de Julian Assange, ele interiorizou a perseguição, deixando de torná-la pública e denunciá-la). Mas permite, principalmente, debater o sentido das contribuições de Swartz. Zanatta lembra que ele reunia as condições de gênio da informática e criador de grandes inovações políticas. Desenvolveu, por exemplo, diversos sistemas de participação e fiscalização cidadã das instituições via internet, como Demand Progress e Watchdog.
Acreditava que, se “informação é poder”, a era digital pode permitir uma democratização radical das sociedades, ao tornar públicos dados antes reservados. Havia compreendido, contudo, que não bastava a tecnologia para tal conquista. O que os detentores do poder – econômico e político — buscariam bloquear é precisamente a circulação da informação. Foi processado (ameaçado de 35 anos de prisão e multa de 1 bilhão de dólares) por compartilhar trabalhos científicos do Massachussets Institute of Technology (MIT) — financiados invariavelmente com recursos públicos, mas negados à sociedade que os viabiliza…
As ideias de Aaron permanecem, acredita Zanatta. Ele encerrou sua participação no debate sugerindo os presentes a trabalhar cada vez mais em rede, rompendo barreiras. E concluiu: “a mensagem do Aaron é um idealismo, mas um ‘idealismo factível’, pois ele construiu muita coisa em pouco de vida e deixou a peteca para gente bater com força”.
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