Carta
No dia 24 de março de 2009 participei
de uma solenidade na Secretaria de Educação para oficializar o repasse de
dinheiro do Governo do Estado para o custeio de pessoal das Escolas Família Agrícola
(EFA) do Estado, ligadas ao Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo
(Mepes).
Durante a solenidade falei de que
naquele dia para mim estava acontecendo duas coisas interessantes. A primeira
era com relação há uma nova realidade. A segunda situação era com relação ao
fato de que naquela manhã eu havia constatado um fato que já estava durando
quase oito anos e que somente neste dia percebi fato.
Para falar sobre a nova realidade é
necessário um recuou no tempo, voltar ao ano de 1988. Neste ano a EFA completava
20 anos, tinha centenas de alunos e outras centenas de ex-alunos que estudaram
dentro de uma pedagogia revolucionária, com o estudante ficando um tempo na
escola e outro na sua casa. Foi difícil convencer às autoridades de que este
sistema funcionava e era o ideal para a família rural. O jovem além de não se
desligar de sua realidade, também poderia continuar ajudando no trabalho e nas
atividades do dia a dia da propriedade e de sua família.
Numa festa na EFA de Rio Novo do Sul
estava conversando com João Martins, agricultor e um dos fundadores do Mepes,
sobre a sobrevivência da entidade. Neste momento apareceu o deputado estadual
Paulo Hartung entrou na nossa conversa. No final o deputado falou que a solução
para o Mepes seria a Constituição Estadual que estava sendo elaborada. Garantiu
que faria uma Emenda equiparando a EFA com a escola do Estado. Prometeu e
cumpriu.
Vendo o esforço e a luta do pessoal
do Mepes para se manter, sempre procurava divulgar o trabalho deles. Fazia gestões
junto aos governantes no sentido de darem tratamento digno e concreto, a quem
fazia muito pelo meio rural e pelo seu futuro.
Além de contatos pessoais iniciei o
envio de cartas aos governadores. Devo ter sido inconveniente várias vezes, mas
isto nunca me trouxe consciência de culpa. Sabia que fazia uma ação para ajudar
e colaborar, com quem trabalhava sério e pensava no Espírito Santo do futuro.
Mesmo sendo inconveniente, de certa forma o resultado era sempre bom. Sempre
retornava para agradecer. Não me arrependo.
Depois de 22 anos, o relacionamento
do Mepes com o Estado foi evoluindo progressivamente até chegar a um convenio
de repasse financeiro para a entidade continuar trabalhando.
No dia da solenidade, pela manhã em casa me
veio a lembrança de que já estava quase completando oito anos da gestão de
Paulo Hartung e nunca foi necessário escrever uma carta sequer. Mas certamente
algumas vezes fiz chegar até ele o alerta de que o Mepes precisava e
necessitava de mais apoio do Governo, porque era impossível viver apenas de
ideal e sonho. Nunca precisei fazer o que faço neste momento: registrar a minha
posição numa carta, que era sempre o grau máximo de minha intolerância com o
descaso. Lá no passado a carta vinha entremeada de indignação. Mas tudo é um
processo, mas mesmo assim, não poderia me omitir e deixar para depois. O tempo
é um bom conselheiro, mas tudo tem o seu tempo.
As cartas que não escrevi nestes
últimos anos ficam agora em forma de agradecimento, ao ver o Mepes chegar junto
ao Governo do Estado, ser atendido quase que plenamente pelo trabalho que
realiza e pelos desafios que irá enfrentar. Lá no passado eles vinham, quase
sempre com um pires na mão, mas com certeza, de que a cabeça estava erguida.
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