Se pudesse enumerar tudo que recebi da terra de meu
avô paterno, Francisco Marolino Mansur, Chico Turco,teria uma listagem imensa que este espaço não comportaria. Digo
mais, já se vão 80 anos que ele morreu, em Muniz Freire, 1932, e 129 anos que
chegou ao Brasil vindo do Líbano, 1883, todos os dias me chegam novas
informações e novas energias, que tenho plena certeza, elas vêm da montanha
libanesa, da sua aldeia de nascimento, Zgharta/Aalma. Tenho sido mais
destinatário do que remetente.
Ao Líbano, seu
povo e sua História, sou um poço imenso e sem fundo de gratidão. Um devedor
eterno, que a cada dia vê a coluna do débito crescer, crescer e virar a esquina
até desaparecer na linha de um horizonte que não tem fim. É assim que me sinto
todos os dias. Um devedor que não tem vergonha para dizer a todos ouvidos de
boa vontade: devo e não nego, mas eu não tenho como pagar todo o montante, sou réu
confesso.
Uma distancia tão grande em número de anos ainda pode
manter acesa a chama da ligação familiar e étnica? Está é uma pergunta óbvia e
natural que aparece quando coloco o meu ponto de vista com relação ao
Líbano. Mas é lógico que a medida em
termos de tempo é relativa do ponto de vista de cada um. Luto diariamente para
não esquecer o passado, com a finalidade de perpetuá-lo em mim e nos que me
permitem fazer não uma pregação, mas uma conversa amistosa. Do passado faço um
trampolim para o futuro. Do passado não faço um ancoradouro para atracar meu
pequeno barco
Um grande incêndio pode começar de uma pequena faísca.
Manter a chama acesa para ela ilumine os caminhos para receber os passos é uma
rotina. É preciso a cada dia renovar e exercitar a curiosidade, a conversa e
ter os ouvidos e os olhos sempre ligados. São fatos passados, mas que não se
esgotam nunca. A cada dia é um renovar.
Como a maior caminhada que um homem é capaz de
realizar tem sempre como base o primeiro passo e a decisão de fazê-la. Como o
mascate, meu avô, Francisco Marolino Mansur e meu pai, Manuel Mansur, que bateram
pernas pelo interior do Espírito Santo, com animais de carga e suas malas de
novidades em busca de um possível comprador e compradora. Esta jornada é uma
lembrança deixada não somente por vovô e papai, mas por milhares de brimos.
Sair em defesa da integridade do Líbano é uma ação que
já de há muito deveria ser sido tomada. A colônia muitas vezes foi omissa.
Calou-se diante dos confrontos entre irmãos. Calou-se diante da agressão
militar externa. Mas não adianta lamentar o que deveria ter feito não foi realizado.
Melhor é tomarmos uma atitude. O capital que o Líbano nos concedeu é o lastro
que erguemos nossas vidas, bens materiais e espirituais. Chegou o momento de
decidir o que podemos fazer pelo Líbano. Ou agimos ou teremos no futuro apenas
a lembrança do que foi a terra dos nossos antepassados. O Líbano poderá existir
apenas na nossa cabeça e nos livros de História.
Por tudo que até aqui registrei a respeito do Líbano,
seus filhos e filhas imigrantes, constituem o motivo e a emoção que me levará
no dia de abril, Líbano, minha alma veio de lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário