A televisão sempre anuncia grandes engarrafamentos nos
feriados prolongados em São Paulo, Natal, Ano Novo e Carnaval. É matéria
garantida. Abre espaço no noticiário. Imensas filas, milhares de carros
apinhados de milhares e milhares de pessoas, em direção ao litoral paulista. Do
outro lado estou eu, já há anos imaginando a insanidade de milhões que dizem
estar indo em busca de lazer. É prato cheio para a imprensa.
Eu nunca acreditei, nem imaginei e nem mesmo passou
pela minha cabeça de que um dia participaria da maratona rodoviária e direção
ao litoral paulista. O meu dia chegou.
No dia 17 de fevereiro, antes da meia noite já estava
no aeroporto de Vitória, com minha companheira Eliane, minha filha Helena e
Tony Cordeiro. Vôo marcado para o início
da madrugada do dia 18. Mil quilômetros de distância e pouco mais de uma hora
de vôo, desembarcamos no Aeroporto de Guarulhos, com pequeno movimento, mas com
dezenas de pessoas deitadas pelos corredores. Às 5 horas seguimos para o
litoral. Não demorou muito e o engarrafamento, isto mesmo um engarrafamento na
madrugada. Não teve jeito. O nosso anfitrião, Antonio Gimenez na direção fazia
planos por quais caminhos seguiríamos até a praia de Guaecá, São Sebastião, 180
quilômetros. Vivi um engarrafamento real. Foram cinco horas para chegarmos ao
paraíso. Chegamos.
No final da tarde chegava Rosely, esposa de Antonio, com
as filhas Marina e Heloisa, e meu filho Vinícius. Todos juntos, uma festa e uma
bela confraternização.
No dia 19, no domingo, há uma distancia de 60 metros,
já estávamos na praia contornada por uma cadeia de montanhas cobertas pelas
matas da Serra do Mar. Nada de edifícios. Aqui comecei a entender porque a
multidão se submete a fazer este percurso. Fico sabendo que tem época que o
mesmo percurso é feito em mais de cinco horas.
Assim foi o sábado, o domingo, a segunda, a terça e parte
da quarta, olhando a natureza preservada e as águas do Atlântico batendo
mansamente na areia fina. Grupos conversando e a alegria estampada. Mais
adiante um grupo com uma dezena de pessoas bebia e conversava alegremente. Uma
cena me chamou atenção na aglomeração: uma criança saboreava alegremente um
imenso pastel. Ouvi uma voz de mulher dizendo em minha direção: quem paga as
minhas contas sou eu. Imaginei e pensei baixinho, não é nada disto que a
senhora está pensando. Continuei andando pela praia lotada de cores, raças,
procedências e idades, mas certamente com um único objetivo: descansar e
recarregar as baterias.
Andando pelo litoral resolvemos ir até Ilhabela. A
travessia na balsa foi tranqüila, não mais que 20 minutos. Já no início da noite,
no retorno a São Sebastião, a travessia durou duas horas e foi uma festa como
convém a quem está de bem com a vida. Não éramos escravos do tempo, estávamos
levando a vida e recarregando as energias.
Na quarta-feira o retorno para São Paulo os nossos
guias paulistas resolveram fazer um percurso diferente do que viemos, mas com
os mesmos 180 quilômetros a percorrer. A volta foi mais rápida, três horas em
uma estrada com boas condições de tráfego. Minha cabeça ia passando as imagens
dos dias de tranqüilidade e mudando os conceitos e principalmente os
pré-conceitos. Lembrei que existem três verdades, a minha, a sua e a verdade.
O ditado que uso sempre, de que viajar cura
ignorância, mais uma vez foi confirmado na prática. Quando no próximo feriado
prolongado a televisão mostrar os milhares de carros e outros milhares de
pessoas rumo ao litoral paulista, o que eu via como “loucura”, agora enxergo de
outra forma. Não vou mais usar o tradicional e fácil carimbo: coisa de
paulista.
Ver é ter uma visão restrita. Enxergar é diferente, é
o cenário como um todo. Obrigado Antonio e Rosely, meus guias paulistas. Em tempo:
uma estrada tem uma mão que vai e outra quem vem. Agora é o momento do vir de
São Paulo.
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