Da memória histórica em termos de patrimônio físico, pouco resta. Ela existe na cabeça de poucos, que com o tempo vão embora. Vitória já caminha para completar 500 anos, uma das mais velhas cidades do Brasil, com uma população na faixa de 1 milhão e 600 mil habitantes e muito pouco em termos arquitetônicos que indique esta idade, porque os registros e os marcos dos que nos antecederam estão desaparecendo. Parece existir um horror com tudo que lembre História.
Há pouco estive em Penedo, Alagoas, que tem mais ou menos a idade de Vitória. Embora um aglomerado pequeno, mas possui um atestado físico que comprova a sua idade. Lá estive na Fundação Penedo, obra do médico Francisco Alberto Sales, que em dois casarões seculares mostra uma boa parte da História local. O que me chamou atenção foram duas frases deste genial brasileiro: "O passado não pode servir de âncora, mas de trampolim". "O passado é o ponto de apoio e a cultura, a alavanca".
Outro dia um amigo comentava que ele era do tempo que na Praia da Costa, em Vila Velha, tinha arrebentação muito forte em frente à Casa do Navio, que naufragou ao ceder espaço para um imenso prédio de 20 andares. A arrebentação desapareceu em função do avanço feito junto ao mar pelo complexo portuário de Tubarão, os aterros e ocupação humana nas áreas de mangues. A Praia de Camburi também sucumbiu nesta mesma época e pela mesma ação.
Nos anos recentes se fala em uma nova siderúrgica em Anchieta, onde hoje está o complexo da Samarco. Local onde os capixabas vão a praia e aqui recebem há décadas os mineiros. Daqui a pouco será saudade e muito pó de minério. Mais abaixo, em Presidente Kennedy, já se fala em outra siderúrgica e uma usina nuclear. Pobre Espírito Santo, ancoradouro de projetos poluidores.
O que ainda não se conseguiu a revogação e anulação da Lei da Natureza, que determinou há milhares de anos que o vento Nordeste corresse na maior parte do ano no sentido Porto de Tubarão para cima da Grande Vitória. É provável que algum gaiato apareça com um plano para desviar a direção dos ventos. Caso consiga, a população viverá feliz, porque poderá estará desobrigada a cheirar e levar para dentro de seus pulmões o gás tóxico e o pó de minério que insistem em atormentar a vida de todos.
Eles são democráticos, freqüentam com extrema habilidade as classes sociais, do miserável casebre até as casas e apartamentos dos que estão no topo da pirâmide social. O incomodo de hoje já foi denunciado há décadas. Mas a chegada do que se chama de progresso teve força maior e ganhou. O hoje é o resultado do ontem. O incômodo de hoje vai ter reflexo mais adiante, na população atual e nas gerações que estão por vir.
Ninguém é ingênuo de imaginar que o mal será cortado pela raiz. A realidade econômica é muito mais forte do que imaginamos e sonhamos. Vamos conviver com o mal e com a raiz.
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