Selvino Heck
Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República
Adital
Anos atrás, uma pessoa apaixonou-se perdidamente por mim.
Foi assim. Num Encontro Nacional da Rede de Educação Cidadã (RECID) na sede da CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura Familiar), no Núcleo Bandeirantes, Brasília, exibiram ‘2 Filhos de Francisco’, à noite. Fiquei olhando o filme na televisão do bar da entidade, quase sozinho. O filme conta a história da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, que caíram no mundo pra mostrar sua arte, tendo como apoio um pai determinado a fazer os filhos famosos. ‘2 Filhos de Francisco’ termina de forma emocionante, quando o pai e a mãe dos dois cantores aparecem no final de um show, eles relembrando a vida dura, os esforços do pai para o seu sucesso, os cuidados da mãe.
Chorei. Ela me viu chorar e se apaixonou, achando que eu não seria capaz de me emocionar, eu alemão-gaúcho ranzinza, meio ou muito durão e turrão, ‘grosso, mas democrático’, como um dia alguém que trabalha comigo resumiu meu jeito de ser.
Há poucos dias, a RECID fez uma Reunião Ampliada em Brasília, na Chácara Irmão Sol: balanço do ano, planejamento/2013, quando a Rede completará 10 anos. Não poderia haver homenageado mais próprio que Luiz Gonzaga, o Gonzagão, que faria 100 anos em 2012. Forró, cantorias, declamações lembraram o Rei do Baião.
Não foi possível rodar o filme de sua vida na reunião. Dias depois, fui ver na tela grande ‘Gonzaga – de Pai pra Filho’, que retrata a relação conturbada entre o pai Gonzagão e o filho Gonzaguinha. Chorei, como, aliás, aconteceu com outros que viram o filme: a reconciliação final entre pai e filho, as verdades ditas, as lindas músicas que a gente sabe de cor desde sempre, o retrato do Nordeste, suas grandezas e sofrimento, a capacidade de ambos em retratar o povo e falar ao seu coração. Não tinha como não se emocionar e chorar.
Final de semana, estou em casa, passa o filme ‘Meu País’ no Canal Brasil. A história de três irmãos que se redescobrem quando morre o pai. O mais velho está na Itália, casado com uma italiana, o mais novo no Brasil perdido na jogatina, a irmã internada com problemas mentais. A morte do pai leva ao reencontro dos três, o resgate da irmã doce e frágil, ao reencontro do amor, ao cuidado com quem mais precisa. De novo, chorei.
São filmes que mostram instantes e pedaços de um país que sofre, passa por dificuldades, onde seus personagens principais quase sempre vêm de baixo, ou são frágeis. Retratos de um povo com suas virtudes, seus desafios, sua solidariedade, sua capacidade de, através da cultura e da sabedoria, cantar o seu ser povo e gente, seu esforço imenso de tornar-se gente e povo, acreditar um no outro, reconciliar-se como Gonzagão e Gonzaguinha, cantar juntos a vida sofrida do nordestino, a alegria de ser feliz de brasileiras e brasileiros.
Como não chorar quando Zezé di Camargo e Luciano cantam em ‘O Dia em que saí de Casa’, ainda mais para quem como eu saiu de casa aos onze anos para o Seminário?: "No dia em que eu saí de casa/minha mãe me disse:/ filho, vem cá!/ Passou a mão em meus cabelos/olhou em meus olhos,/começou falar./Por onde você for eu sigo/com meu pensamento/ sempre onde estiver./ Em minhas orações/ eu vou pedir a Deus/ que ilumine os passos seus./ Eu sei que ela nunca compreendeu/os meus motivos de sair de lá/ Mas ela sabe que depois que cresce/ o filho vira passarinho e quer voar.”
Ou quando Gonzagão, com aquele vozeirão, canta ‘A Vida do Viajante’: "Minha vida é andar por esse país/ pra ver se um dia descanso feliz,/ guardando as recordações/ das terras por onde passei,/ andando pelos sertões/ e dos amigos que lá deixei”.
Ou Zezé di Camargo e Luciano, em ‘Meu País’, usada na eleição de Lula em 2002: " Aqui não falta sol,/ aqui não falta chuva./ A terra faz brotar qualquer semente/ (...) Se nessa terra tudo que se planta dá,/ que é que há, meu país?/ O que é que há?”
Mais. Gonzaguinha e suas músicas cantadas em prosa e verso em encontros de formação de militantes sociais e educadores/as populares. Como em ‘Acredito na Rapaziada’: "Eu ponho fé é na moçada/ que não foge da fera e enfrenta o leão./ Eu vou à luta com a juventude/ que não corre da raia a troco de nada./ Eu vou no bloco dessa mocidade/que não tá na saudade e constrói/ a manhã desejada”.
E, finalmente, Gonzaguinha, épico, em ‘O que é, o que é?’, hino de todas e todos nós e da Rede de Educação Cidadã: "Eu fico com a pureza da resposta das crianças./É a vida,/ é bonita/ e é bonita./ Viver e não ter a vergonha de ser feliz./ Cantar e cantar e cantar/ a beleza de ser/ um eterno aprendiz”.
Importa menos se aquelas lágrimas de amor de ‘2 Filhos de Francisco’ na sede da CONTAG prosperaram. Importa acreditar no país e sua gente. Importa construir uma Nação livre, democrática, justa e soberana. MEU PAÍS.
Em vinte e três de novembro de dois mil e doze.
Foi assim. Num Encontro Nacional da Rede de Educação Cidadã (RECID) na sede da CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura Familiar), no Núcleo Bandeirantes, Brasília, exibiram ‘2 Filhos de Francisco’, à noite. Fiquei olhando o filme na televisão do bar da entidade, quase sozinho. O filme conta a história da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, que caíram no mundo pra mostrar sua arte, tendo como apoio um pai determinado a fazer os filhos famosos. ‘2 Filhos de Francisco’ termina de forma emocionante, quando o pai e a mãe dos dois cantores aparecem no final de um show, eles relembrando a vida dura, os esforços do pai para o seu sucesso, os cuidados da mãe.
Chorei. Ela me viu chorar e se apaixonou, achando que eu não seria capaz de me emocionar, eu alemão-gaúcho ranzinza, meio ou muito durão e turrão, ‘grosso, mas democrático’, como um dia alguém que trabalha comigo resumiu meu jeito de ser.
Há poucos dias, a RECID fez uma Reunião Ampliada em Brasília, na Chácara Irmão Sol: balanço do ano, planejamento/2013, quando a Rede completará 10 anos. Não poderia haver homenageado mais próprio que Luiz Gonzaga, o Gonzagão, que faria 100 anos em 2012. Forró, cantorias, declamações lembraram o Rei do Baião.
Não foi possível rodar o filme de sua vida na reunião. Dias depois, fui ver na tela grande ‘Gonzaga – de Pai pra Filho’, que retrata a relação conturbada entre o pai Gonzagão e o filho Gonzaguinha. Chorei, como, aliás, aconteceu com outros que viram o filme: a reconciliação final entre pai e filho, as verdades ditas, as lindas músicas que a gente sabe de cor desde sempre, o retrato do Nordeste, suas grandezas e sofrimento, a capacidade de ambos em retratar o povo e falar ao seu coração. Não tinha como não se emocionar e chorar.
Final de semana, estou em casa, passa o filme ‘Meu País’ no Canal Brasil. A história de três irmãos que se redescobrem quando morre o pai. O mais velho está na Itália, casado com uma italiana, o mais novo no Brasil perdido na jogatina, a irmã internada com problemas mentais. A morte do pai leva ao reencontro dos três, o resgate da irmã doce e frágil, ao reencontro do amor, ao cuidado com quem mais precisa. De novo, chorei.
São filmes que mostram instantes e pedaços de um país que sofre, passa por dificuldades, onde seus personagens principais quase sempre vêm de baixo, ou são frágeis. Retratos de um povo com suas virtudes, seus desafios, sua solidariedade, sua capacidade de, através da cultura e da sabedoria, cantar o seu ser povo e gente, seu esforço imenso de tornar-se gente e povo, acreditar um no outro, reconciliar-se como Gonzagão e Gonzaguinha, cantar juntos a vida sofrida do nordestino, a alegria de ser feliz de brasileiras e brasileiros.
Como não chorar quando Zezé di Camargo e Luciano cantam em ‘O Dia em que saí de Casa’, ainda mais para quem como eu saiu de casa aos onze anos para o Seminário?: "No dia em que eu saí de casa/minha mãe me disse:/ filho, vem cá!/ Passou a mão em meus cabelos/olhou em meus olhos,/começou falar./Por onde você for eu sigo/com meu pensamento/ sempre onde estiver./ Em minhas orações/ eu vou pedir a Deus/ que ilumine os passos seus./ Eu sei que ela nunca compreendeu/os meus motivos de sair de lá/ Mas ela sabe que depois que cresce/ o filho vira passarinho e quer voar.”
Ou quando Gonzagão, com aquele vozeirão, canta ‘A Vida do Viajante’: "Minha vida é andar por esse país/ pra ver se um dia descanso feliz,/ guardando as recordações/ das terras por onde passei,/ andando pelos sertões/ e dos amigos que lá deixei”.
Ou Zezé di Camargo e Luciano, em ‘Meu País’, usada na eleição de Lula em 2002: " Aqui não falta sol,/ aqui não falta chuva./ A terra faz brotar qualquer semente/ (...) Se nessa terra tudo que se planta dá,/ que é que há, meu país?/ O que é que há?”
Mais. Gonzaguinha e suas músicas cantadas em prosa e verso em encontros de formação de militantes sociais e educadores/as populares. Como em ‘Acredito na Rapaziada’: "Eu ponho fé é na moçada/ que não foge da fera e enfrenta o leão./ Eu vou à luta com a juventude/ que não corre da raia a troco de nada./ Eu vou no bloco dessa mocidade/que não tá na saudade e constrói/ a manhã desejada”.
E, finalmente, Gonzaguinha, épico, em ‘O que é, o que é?’, hino de todas e todos nós e da Rede de Educação Cidadã: "Eu fico com a pureza da resposta das crianças./É a vida,/ é bonita/ e é bonita./ Viver e não ter a vergonha de ser feliz./ Cantar e cantar e cantar/ a beleza de ser/ um eterno aprendiz”.
Importa menos se aquelas lágrimas de amor de ‘2 Filhos de Francisco’ na sede da CONTAG prosperaram. Importa acreditar no país e sua gente. Importa construir uma Nação livre, democrática, justa e soberana. MEU PAÍS.
Em vinte e três de novembro de dois mil e doze.
Nenhum comentário:
Postar um comentário