sábado, 31 de dezembro de 2011

JANC



Outro dia estava lembrando dos primeiros anos do Jornal do Campo da TV Gazeta, que vai completar 31 anos no dia 11 de março de 2010. Neste longo tempo foram centenas viagens semanais pelo estado. No começo as viagens eram realizadas aos domingos e algumas vezes, tive o prazer de passar no estádio onde estava sendo realizada a Copa Gazetinha e feito alguns registros para a TV. Foram momentos interessantes ao ver famílias inteiras na arquibancada.
Nesta época eu trabalhava como repórter da Editoria de Economia de A GAZETA. Janc além de cartunista era muito ativo na editoria de Esportes. Às segunda feiras tinha o Jornal do Janc, com algumas páginas.
O tempo correu e a TV comprou mais equipamentos e permitiu que o Jornal do Campo passasse a fazer as suas viagens durante a semana, ficou a saudade das viagens dos domingos. As nossas reportagens que eram feitas em filme, passaram para um sistema mais moderno conhecido como UMATIC, ganhamos em qualidade e em tempo de gravação. O sistema de filme nos permitia poucos minutos de gravação, mas a nova tecnologia permitia fazer uma gravação e depois reutilizar a mesma fita. Neste tempo a Rede Gazeta funcionava na rua General Osório, centro da cidade.
 A evolução tecnológica abriu novas possibilidades para as reportagens, mas afastou o Jornal do Campo da Copa Gazetinha. De longe passei a acompanhar o trabalho do Janc, já que por alguns anos trabalhamos na redação do jornal A Gazeta. Mais adiante por opção pessoal resolvi ficar apenas na TV.  Janc continuou e continua com a Copa Gazetinha.
Pela Copa Gazetinha passaram centenas de atletas e Janc possui registros valiosos sobre cada um deles. No ano passado, 2009, quando o capixaba Maxwel Cabelino Scherrer Andrade, foi campeão italiano, Janc registrou em seu blog:
-Desde pequenininho mostrava muita habilidade e logo, logo estava jogando no time do ABV-Vila Velha, treinado pelo Danuzo Daumas. Ainda na Copa A Gazetinha, jogou pela Aert e João Nery. Foi, por duas vezes, um dos destaques da Seleção da Copa A Gazetinha na disputa de torneios nos EUA, mais precisamente em Boston e Orlando.
Ainda na categoria juvenil, Maxwel foi para o Cruzeiro no ano de 2000 e lá não ficou muito tempo. Em 2001 foi para o Ajax da Holanda, onde o seu futebol passou a ser conhecido internacionalmente. Na Holanda, ajudou o Ajax a conquistar títulos importantes o que motivou a poderosa Inter de Milão a levá-lo para a Itália, isto em 2006. E desde este ano, Maxwel só vem colhendo títulos para a Inter, como o que ajudou a conquistar - inclusive com antecedência - no último final de semana: o “Scudetto” da temporada 2008/2009.
      Aliás, o menino que está hoje jogando a Copa A Gazetinha e que sonha em ser jogador profissional, deveria se espelhar em atletas como o Maxwel. Ele sempre foi um menino dedicado ao esporte, disciplinado e respeitava os seus técnicos como, também, os adversários. Não basta somente saber jogar futebol para chegar onde Maxwel chegou. Tem que ter algo a mais. E para você que quer chegar lá, ter este algo a mais só depende de você mesmo.
No blog do Janc ainda tinha a carteira de identificação do Maxwel. Um dia registrei neste espaço que o Janc era o nosso maior atleta. O que seria deste fabuloso José Antonio Nunes do Couto, que realiza com competência a Copa Gazetinha, a maior competição de futebol do Brasil, se tivesse feito o seu trabalho em outro Estado da Federação?

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

NOVA GERAÇÃO POMERANA


Os pomeranos começaram a chegar ao Espírito Santo em 1859. Os seus descendentes que estão nascendo hoje devem ser da quinta ou da sexta geração. Da Pomerânia para o Brasil, aqui vieram para Santa Leopoldina, depois subiram a serra e foram para o que é hoje Santa Maria do Jetibá, Santa Teresa, Itarana, Afonso Claudio, Vila Pavão e os demais municípios na divisa com Minas Gerais – lá também chegaram. Um salto no tempo nos leva até a década de 60/70, muitas famílias arrumaram as malas rumo de Rondônia. Mas muitos vieram para os centros urbanos.
Mas tem gente da colônia pomerana que continua na busca do resgate da História dos que vieram antes. Uma preocupação constante e marcante com os próximos passos em direção ao futuro. Nada de ficar só olhando o passado. É o que trata o livro A Pomerânia Brasileira: uma eterna migração, de Jorcy Foesrte Jacob, editado pelo Banco do Nordeste e pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), Ministério da Cultura.
Logo nas primeiras páginas a autora sinaliza o que vai colocar à nossa disposição: Eu percorri sim o labirinto da solidão, antes de estar aqui com você. Mas não encontrei saídas definitivas, só possibilidades, e por isso eu ainda busco. Mas é justamente disso que trata esse livro e tudo mais na vida: busca e fuga. Isso é o ato de migrar. É por isso que ele é eterno. Migrar é como um infinito de perguntas: você busca ou você foge? Para onde você vai? Mas a questão maior è: o que te move ir.
Reconhece o documentário Os Pomeranos (Amylton de Almeida e Vladimir Godoy, TV Gazeta/1977), como sendo “uns dos primeiros e mais importantes trabalhos sobre essa etnia na mídia brasileira”, a autora lembra que foi colocada uma entrevista onde um descendente de pomerano fala que seus antepassados chegaram em 1932 de avião e que “o poder de julgar como errado pertence a quem dirige aquela história que não se preocupa em indagar porque Laufe acredita no ano de 1932 ou no avião” e que “esse erro de informação deve-se à carência de estudos sobre o tema na época.”
Jorcy lembra o êxodo para Rondônia iniciado em 1969, mas que de 1972 em diante teve a presença pastoral da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Até 1978 a posição da Igreja era “afinada com o programa de desenvolvimento governamental”, mas que em 1979 passa a ter “um posicionamento político mais acentuado e por uma forte crítica ao modelo desenvolvimentista, com maior influencia da Teologia da Libertação.” O faz resultar num “acompanhar os membros de forma integral, não só religiosa. Além disso, colaboravam com os pequenos agricultores para que esses não cedessem ao êxodo rural.”
Jorcy é estudante História da Ufes, com 21 anos, ao falar sobre a História dos seus antepassados nos indica que “é ela que mantém os elos comunitários e o aprendizado contínuo que se adquire através dos vínculos pessoais. É ela que liga o presente e o passado como experiência que cria os laços de pertencimento e torna a ação individual responsável pela coletividade. O elo com o passado não pode ser perdido. Para existir o novo, é preciso conhecer o velho. Pois, aquele nasce deste. A migração precisa começar para dentro de nós mesmos.” Quem tiver interessado no livro, me procure ou vá à loja do Hortifruti na Praia da Costa, Vila Velha.
O livro custa 14 reais, com o frete. Os interessados devem acessar ronaldmansur@gmail.com

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

DOM EDGARD MADI


A colônia libanesa no Espírito Santo receberá em breve o dirigente maior de Igreja Maronita no Brasil, Dom Edgard Madi. A informação me foi passada pelo brimo Jamil Moussalem. A vinda de Madi será uma oportunidade para libaneses e descendentes darem uma demonstração sincera e consciente do que pensam e esperam da Pátria Mãe.  Também o que podem fazer por ela.
É bom que se diga que nem todos os imigrantes libaneses que vieram para o Espírito Santo são Maronitas, temos também os Ortodoxos e algumas famílias de origem Drusa. Mas não importa a denominação religiosa neste momento que o Líbano passa. Aliás, o mais correto é dizer que o Líbano passa por mais uma crise. Para saber quantas crises e conflitos o Líbano já viveu, basta consultar a História. Há quem diga que foram centenas de crises, mas também tem gente que fala que o Libano teve apenas uma crise que teve origem há centenas de anos. Vive-se uma crise permanente.
Os conflitos internos, sejam de origem econômica ou religiosa, foram grandes contribuintes para o êxodo de milhares de libaneses pelo Mundo afora. Para o leigo o conflito libanês é resultado de uma miopia e de um sectarismo não muito inteligente. Quando se vive em guetos e/ou aldeias, como os nossos antepassados, o confronto das idéias é sempre decidido pela força bruta, parecendo ser a expressão única e possível para encerrar uma questão.
O êxodo dos nossos antepassados mostra a luta pela sobrevivência econômica e ás vezes até espiritual. Os que aqui chegaram não vieram a soldo do Tesouro do Brasil e nem dentro de um plano para clarear a população do Brasil. A imigração européia teve este caráter e objetivo. O Brasil era uma Nação onde os negros tinham grande peso. A vinda dos libaneses era um projeto individual de sobrevivência, guiado por um endereço de um parente que o acolhia e o orientava. Gesto repetido milhares de vezes. Gesto de acolhimento ainda é hoje feito, embora em menor escala. Gesto feito de forma normal no dia a dia dos libaneses e seus descendentes. Falo por mim. Raríssimas vezes fui mal recebido por um “brimo”. O acolhimento é uma característica da personalidade da alma libanesa, embora toda regra tenha exceção. A presença de Dom Edgadr Madi deve ser aproveitada por todos. Ele aqui não vem somente em nome da Igreja Maronita. Ele tem uma expressão muito maior. Será um momento para pensarmos e agirmos pelo futuro do Líbano.
Nós deste pequeno Espírito Santo, que é quatro vezes maior territorialmente que o Libano não podemos nos omitir. O mínimo que podemos fazer é dizer sim a unidade do Líbano. Se cada um de nós iniciarmos uma pesquisa no âmbito familiar para saber de como vieram e como foram os anos no Brasil dos imigrantes, já estaremos fazendo grande coisa. Como se diz modernamente, devemos fazer o nosso dever de casa. A colônia libanesa deve reconciliar com o seu passado imigrante e mascate, que chegou a terra brasileira com as mãos vazias e com o espírito e desejo de poder viver em paz. Temos de fazer um pacto para deixar que a nossa Pátria Mãe continue a existir, embora pequena, mas inteira no nosso coração e como fonte para podermos reabastecer nossos ideais. Eu quero continuar a dizer: Libano – minha alma veio de lá. Jamil, brimo querido, vamos todos juntos acolher Dom Edgard Madi.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

NÃO SE CURVARAM, FORAM MORTOS


Já se vão quase 46 anos do início dos tempos duros do regime militar que chegou ao Poder em 1964, com a derrubada do presidente João Goulart, eleito em pleito livre e direto por milhões de brasileiros, inicialmente como vice-presidente.
No tempo do regime militar fez uma descabida repressão aos que se postaram contra as suas arbitrariedades. A ação truculenta dos militares e parte da classe política deixaram marcam em muitas famílias capixabas, que perderam filhos mortos sob tortura e também em confronto direto com a máquina militar da repressão. O tempo passa para todos, mas ara as famílias que tiveram as vidas dos filhos retiradas, o tempo passa de forma diferente, passa como dor amarga da ausência de quem lutava pelo bem comum.
Um registro forte e carregado de dados está publicado no livro Dossiê Ditadura- mortos e desaparecidos políticos no Brasil 1964-1985, obra feita sob a responsabilidade da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, publicado pelo Instituto de Estudos Sobre a Violência do Estado e pela Imprensa Oficial do Governo de São Paulo. Agora em segunda edição ampliada, subindo de 433 para 767 páginas, com centenas de fotos, relatos, documentos oficiais e depoimentos marcantes e duros. É ler e conferir.
De um total de 379 pessoas, aparece o grupo de capixabas com cinco. Abaixo um pequeno resumo sobre eles:
Arildo Valadão nasceu em 28 de dezembro de 1948, Muniz Freire, filho de Altivo Valadão de Andrade e Helena Almokdice. Desaparecido em 24 de novembro de 1973. Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Integrante do Destacamento C da Guerrilha do Araguaia.                       
Orlando da Silva Rosa Bonfim Junior nasceu em 14 de janeiro de 1915, em Santa Teresa, filho de Orlando da Silva Rosa Bomfim e de Maria Gasparini Bomfim. Desaparecido em 8 de outubro de 1975. Dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Lincoln Bicalho Roque nasceu no dia 25 de maio de 1945, em São José do Calçado, filho de José Sarmento Roque e Maria Augusta Bicalho Roque. Morto em 13 de março de 1973. Dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
João Gualberto Calatrone nasceu em 7 de janeiro de 1951, em Nova Venécia, filho de Clotildio  Calatrone e Osória de Lima Calatrone. Desaparecido em 14 de outubro de 1973. Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdo). Integrante do Destacamento A da Guerrilha do Araguaia.
Marcos José de Lima nasceu em 3 de novembro de 1947 em Nova Venécia, filho de Sebastião José de lima e Lusia D’Assumpção de Lima. Desaparecido em 20 de dezembro de l973. Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Integrante do Destacamento A da Guerrilha do Araguaia.
José Maurilio Patricio nasceu em 13 de dezembro de 1944, em Santa Teresa, filho de Joaquim Patricio e Izaura de SouzA. Desaparecido em dezembro de 1974. Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Integrante do Destamento B da Guerrilha do Araguaia.
O Jurista Fábio Konder Comparato sintetiza Dossiê: Lendo qualquer de suas páginas temos vontade de baixar a cabeça e chorar: ou, de rezar e meditar sobre o mistério da vida e da morte. 
Estes capixabas morreram pelo ideal que acreditavam e por ele foram sacrificados. É a História sendo passada a limpo. Na História Capixaba deve ter um lugar especial para eles, que não se curvaram e morreram. Devemos a Arildo Valadão, Orlando da Silva Rosa Bomfim Junior, Lincon Bicalho Roque, João Gualberto Calatrone, Marcos Jose de Lima, José Maurilio Patricio, parte da Liberdade e Democracia de hoje. A comunidade capixaba precisa conhecê-los, para reverenciá-los

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

CLAUDIO HUVER


         Quando Claudio Huver tinha 16 anos, perdeu o pai e teve de assumir a direção de sua família, uma irmã mais velha já havia saído de casa, na comunidade do Chapéu, Domingos Martins. A alternativa que restava era trabalhar um tempo na propriedade e como diarista nas propriedades vizinhas ou no sistema de troca de serviço. A realidade do dia a dia era fazer o que aparecesse e fosse necessário ser feito. Foi a forma encontrada para continuar na propriedade que um dia chegou a ter 72 hectares, mas estava reduzida a 20. A tendência normal seria ele e a mãe engrossarem o êxodo rural. A renda familiar efetiva e segura era meio salário mínimo da aposentadoria da mãe. A escola foi freqüentada até a quarta serie, a necessidade e a vida falaram mais alto. 
          A vida começa a tomar novo rumo quando em 1992, casou-se com Verônica Martins, que havia migrado de Ecoporanga. Nesta época começaram a produção de hortigranjeiros. Vila Velha foi o destino. Faziam feira na sexta feira no bairro Coqueiral de Itaparica, no sábado iam para a feira da Toca, também em Vila Velha. Vender na feira era desgastante, mas era onde obtinham um melhor ganho. Claudio me contou que ficou chocado ao saber que o atravessador vendia por 25 centavos o pé de alface que havia adquirido por cinco. A feira começou com pouca mercadoria que era acondicionada em caixas emprestadas pelos vizinhos. Com dois anos comprou uma Kombi, o que facilitou o trabalho de deslocamento.
              Em 1994 Verônica ficou gravidade e a vida mudou novamente. Surge um pequeno bar e um campo de futebol. Mais adiante um pesque e pague e a criação de tilápias. O abatedouro que estava planejado pelo governo pra funcionar em seis meses, atrasou, demorou três anos. A venda das tilápias passou a fazer parte do cardápio do bar.  A feira de Vila Velha durou até 2004.
Quando eu conheci Claudio e Verônica, em 2003, eles tinham dois filhos (Anderson e Estefani), um dilema e um sonho. O dilema era bar. O sonho era continuar atendendo o público, mas de forma diferente e qualificada. O fim do bar seria acompanhado com a montagem de uma estrutura para atender as famílias da região e as pessoas que transitavam na região. Nesta época eles tinham pensamento em terem um restaurante. A produção de tilápias era de 1.500 quilos por ano e vendida na propriedade.
               Em 2005 recebi um convite de Claudio e Verônica para ir até a casa deles, tinham uma novidade. Fui e fiquei admirado com o restaurante Delicias da Tilápia. Claudio comentou que eles iriam recuperar a velha casa centenária para fazer uma pousada e também construir uns chalés. Hoje eles possuem três chalés e outros três estão sendo feitos. A casa centenária foi adaptada e já recebe os turistas. A propriedade produz café, milho e feijão, que são vendidos aos turistas.   
          Outro dia voltei lá. Na porta do restaurante um jovem cumprimentava todos que iam chegando. Era o Anderson, 15 anos, o responsável pela recepção, dando boas vindas e informando ser filho dos proprietários. No caixa estava Estefani, 13 anos. O Restaurante e Pousada Delícias da Tilápias fica há seis quilômetros do centro de Domingos Martins e recebe 600 pessoas por mês, mas quando ocorre um feriado este número vai bem além. Vale a pena conhecê-los. A caminhada de Claudio e Verônica é uma oração ao trabalho, a dedicação e a persistência de quem tem objetivo. Onde irão chegar? Eu não sei. Sei que eles estão na caminhada.