quarta-feira, 30 de abril de 2014

Café robusta pode ganhar com alta do arábica


Folha de S. Paulo 
Vaivém das commodities / MAURO ZAFALON

A forte alta nos preços do café arábica no país, causada pela expectativa de quebra na safra brasileira devido à seca, pode aumentar a demanda pelo café robusta, chamado também de conilon.
Considerado de qualidade inferior, o robusta é negociado a preços inferiores aos do arábica. Hoje, esse diferencial está em patamar recorde.
No acumulado do mês, até sexta-feira passada, a média do indicador Cepea/Esalq do arábica tipo 6 está em R$ 445,91 por saca, enquanto o indicador do robusta tipo 6 está em R$ 256,72 por saca.
O diferencial de preço entre ambos, portanto, está em R$ 189,19 neste mês, o maior valor desde dezembro de 2011, segundo o Cepea.
Concentrada no Espírito Santo, a produção de café robusta não foi prejudicada pelo clima como a do arábica, afetada pela estiagem em São Paulo e em Minas Gerais.
Com o preço do robusta mais atrativo para a indústria, a demanda por esse tipo de café pode aumentar, diz Caroline Lorenzi, analista do Cepea. Hoje, cerca de 50% do café tradicional (em pó ou solúvel, vendido nos supermercados) já é robusta. A outra metade --ou até menos da metade-- é arábica.
O percentual do conilon no "blend" (mistura) do café brasileiro tem crescido devido à melhora da qualidade do café robusta, que ganhou novas variedades nos últimos anos, e à adaptação do consumidor ao sabor da bebida.
"A indústria percebeu que o brasileiro aceitou e adotou esse blend como uma característica de café forte", diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic, que representa a indústria do café.
Como o brasileiro está mais adaptado ao sabor do robusta, Caroline diz que o maior potencial de aumento na demanda está nas torrefadoras nacionais, que podem utilizar mais essa espécie nos "blends", reduzindo a quantidade de arábica na mistura.
Herszkowicz concorda que o diferencial de preço é um estímulo para aumentar a participação do robusta no blend, mas ressalta que essa mudança deve ser feita com cautela, para não prejudicar a aceitação do produto.
A mudança na mistura, diz ele, pode ser a saída para algumas indústrias que estão com dificuldade de repassar ao preço de venda ao varejo a alta da matéria-prima, que chega a 100% neste ano.
- See more at: http://www.redepeabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=51622#sthash.XP4IumQg.dpuf

Seca reduz safra e eleva preço do café em Minas


postado há 1 dia atrás

A perspectiva de redução na safra de café deste ano em Minas Gerais, em função da estiagem prolongada que atingiu o Estado nos três primeiros meses do ano, poderá ser compensada pela valorização da cotação do grão – atualmente, a saca do produto padrão de mercado está valendo cerca de R$ 500.

Levantamento feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no mês passado mostrou que o Valor Bruto da Produção (VBP), que consiste no volume estimado da produção multiplicado pela cotação média do café, deverá alcançar R$ 9,2 bilhões em Minas, um crescimento de 13,6% em relação ao registrado no ano passado, quando a saca estava avaliada em, aproximadamente, R$ 250.

Segundo o gerente comercial de mercado interno da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), no Sul do Estado, Luiz Fernando dos Reis, ainda há muita especulação sobre a safra 2014, que começará a ser colhida no final deste mês, mas, por ora, os cafeicultores estão tendo um retorno favorável.

“Hoje, o produtor está sendo bem remunerado, porque o preço atual está acima dos custos de produção. Mas, se o mercado devolver a alta dos últimos meses e voltarmos a patamares anteriores, teremos, novamente, preços que ficam bem aquém do custo do produtor. O café a R$ 250 não remunera, mas a R$ 500, sim. Só que é difícil avaliar se (o preço) vai continuar subindo ou se vai cair. Ainda não temos números concretos em mãos”, diz Luiz dos Reis.

Projeções

De acordo com o assessor especial de café da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Niwton Castro Moraes, porém, já existem dados que apontam para uma perda equivalente a oito milhões de sacas de café em decorrência da seca na região Sudeste do Brasil, no primeiro trimestre deste ano.

“Esse número é importante, porque reduz os estoques, que até então existiam. Além disso, os impactos na safra brasileira exercem um efeito importante na safra mundial, uma vez que o Brasil é responsável por um terço da produção de todo o mundo”, afirma Moraes.

O assessor lembra que, além de prejudicar a safra atual, a seca poderá comprometer a colheita do próximo ano, porque as sementes provavelmente não atingirão o tamanho ideal.

As informações são do Hoje em Dia 

Tabaqueiras brasileiras assumem compromisso de não mais veicular propaganda de derivados do tabaco em pontos de venda.


A medida, contudo, só deve estar totalmente cumprida após um ano.
As empresas Souza Cruz e Philip Morris Brasil se comprometeram neste mês, na Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de São Paulo, a se abster de exibir nos locais de venda, em todo o território nacional, pôsteres, painéis ou cartazes de propaganda comercial de seus produtos, nos termos do art. 3º da Lei nº 9.294/96, com redação dada pela Lei nº 12.546/11.
O acordo prevê multas de R$100.000,00 por evento de descumprimento notificado pelo Ministério Público e não sanado no prazo de 15 dias.
O compromisso concedeu, contudo, o prazo de seis meses, prorrogável por mais três mediante solicitação, para o início da sua vigência.
A concessão fundamentou-se nos prazos mínimos de nove meses normalmente concedidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa quando há determinações de mudanças para a indústria do tabaco, conforme as últimas três resoluções da Diretoria Colegiada da Autarquia.
A esses prazos devem ser somados mais aproximadamente dois ou três meses que, costumeiramente, levam os Termos de Ajustamento de Conduta para serem homologados pela Instância Superior da Instituição Estadual.
A propaganda comercial de cigarros nos pontos de venda, portanto, deve ainda levar mais um ano para deixar de ser vista.
Oportunamente, comunicaremos a data de início da vigência do acordo.
Prazos como esses, como dito acima, são naturalmente concedidos.
Lamentável, contudo, foram os 18 meses de inércia do governo federal, que somados aos aproximados doze meses do decurso do inquérito ministerial da Amata, somam dois anos e meio de atraso na entrada em vigor de uma política de saúde pública que poderia ser facilitada pela regulamentação da medida.
Em todo o caso, o acordo foi um grande avanço, e aproveitamos para agradecer a participação ativa da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor - Procon de São Paulo, e as manifestações de apoio de associações de defesa do consumidor e de combate ao tabagismo, no inquérito.
Por fim, dentre as notícias do mês, destaca-se que finalmente o mundo reconhece, embora com medidas tímidas, os perigos dos cigarros eletrônicos, como anunciamos desde o seu aparecimento.
Boa leitura!
Silvio Tonietto 
Diretor-Geral
Motive-se!
Palestra "Preparação para Deixar de Fumar"
www.paredefumaragora.com.br

28 mil views só no youtube
Assista e indique a familiares e amigos
"30 minutos que valem uma vida"
Resumo mensal de notícias sobre o tabagismo e o alcoolismo:
14/04/2014 - O Estado de São Paulo - (Veja o que eles fazem com o nosso dinheiro) Marinha suspende pregão de mais de 180 mil garrafas de bebida alcoólica. Força alega que licitação não a obrigaria a adquirir os produtos, mas abre sindicância para investigar se houve excessos. Entre os produtos que seriam licitados estão 2.574 garrafas de "aguardente/ caninha, incolor, similar a 51"; 131.200 latas de cerveja "similar Skol ou Brahma" e 3.045 garrafas de 900 a 1000 ml de conhaque "similar a Dreher". Há ainda dez tipos de licor: de 215 garrafas de Amarula a 150 frascos de Frangelico, passando por outros produtos, como Curaçau Blue, creme de cassis e Cointreau (139 garrafas cada) e licor de cacau similar a Stock (277 unidades). Há ainda espaço para vinhos: 1.025 garrafas de 750 ml de branco seco, 347 de porto e 3.380 de tinto. O pedido inclui uísque (1.053 litros de escocês similar a Johnnie Walker Red Label oito anos, e 907 litros do uísque 12 anos), além de Martini, rum, vodka, saquê e vermute (este, Cinzano, 187 garrafas)

Após baixa audiência na estreia do novo “Fantástico”, equipe se reúne

Renata Vasconcellos e Tadeu Schmidt apresentam as mudanças do Fantástico Foto: Léo Marinho/AgNews
Renata Vasconcellos e Tadeu Schmidt apresentam as mudanças do Fantástico
Foto: Léo Marinho/AgNews
Conforme divulgamos aqui no TV FOCO, no último domingo (27), foi ao ar a nova aposta de formato para o “Fantástico” da Globo que completa 40 anos no ar pela emissora carioca.
Apesar das mudanças e o foco em mostrar como funciona os bastidores do programa, a audiência não correspondeu a altura e deixou a desejar, marcando 17,7 pontos de média na grande São Paulo e brigando por alguns minutos bem de perto na audiência com o “Domingo Espetacular” da Record.
Agora segundo informa a jornalista Keila Jimenez, a equipe do programa se reuniu novamente nesta semana para discutir o que funcionou e o que não funcionou na estreia do novo formato do jornalistico. Existe quem aposte em uma rodizio de apresentadores por semana, já outros acreditam que o programa não deve mostrar os bastidores de sua produção, já que grande parte da atração acaba sendo exibida de forma gravada.


Fonte: http://otvfoco.com.br/audiencia/apos-baixa-audiencia-na-estreia-do-novo-fantastico-equipe-se-reune/#ixzz30PGtamaG

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Estudo da Previdência Social indica mudança nas causas de afastamento do trabalho

28/04/2014 15:50

I Boletim Quadrimestral sobre Benefícios por IncapacidadeEstudo é apresentado no novo boletim sobre benefícios por incapacidade
Da Redação (Brasília) – Doenças motivadas por fatores de riscos ergonômicos – tais como má postura e esforços repetitivos – e sobrecarga mental têm sido as principais causas de afastamento do trabalho. O dado foi apresentado no Boletim Informativo Quadrimestral sobre Benefícios por Incapacidade, lançado nesta segunda-feira (28) pelo Ministério da Previdência Social.
O estudo, publicado no “Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes de Trabalho”, apresenta um balanço dos auxílios-doença e das aposentadorias por invalidez – benefícios por incapacidade – concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no período de 2000 a 2011.
Durante esses 12 anos, doenças motivadas por fatores de riscos ergonômicos e a sobrecarga mental têm superado os traumáticos – como fraturas. Enquanto as primeiras, responsáveis pelos afastamentos por doenças do trabalho, alcançaram peso de 20,76% de todos os afastamentos, aquelas do grupo traumático, responsáveis pelos acidentes típicos, representaram 19,43% do total. Juntas elas respondem por 40,25% de todo o universo previdenciário.
“Nós temos verificado uma mudança no perfil produtivo do nosso país. Mais recentemente, o setor terciário da economia, que envolve comércio e serviços, tem empregado mais gente que os demais setores. E isso tem refletido numa mudança do perfil do adoecimento do trabalhador em seu ambiente de trabalho”, explica o diretor do Departamento de Saúde e Segurança Ocupacional (DPSSO) do MPS, Marco Pérez.
Segundo o diretor do DPSSO, há alguns anos, o setor industrial registrava, proporcionalmente, mais acidentes. Mas, com a mudança no perfil econômico e com a melhoria e informatização dos ambientes de trabalho, os acidentes típicos vem baixando sua incidência. “Por outro lado, verificamos afastamentos prolongados por algumas doenças que são desencadeadas ou agravadas pelo trabalho. Ou seja, do ponto de vista relativo, enquanto há uma diminuição no número de acidentes típicos, há um aumento no número de afastamentos por doenças do trabalho”, comenta Pérez.
O dia 28 de abril é o Dia Mundial em Homenagem às Vítimas de Acidentes de Trabalho. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a cada 15 segundos um trabalhador morre de acidente ou doença relacionado ao trabalho no mundo.
 Informações para a Imprensa
Talita Lorena
(61) 2021-5109/5009

A grande mídia e o golpe de 64


Não são poucos os atores envolvidos no golpe -

 ou seus herdeiros - que continuam vivos e ativos.

 Algumas instituições continuam presas ao seu passa


Venício A. de Lima
Observatório de Imprensa
Arquivo Carta Maior

No debate contemporâneo sobre a relação entre história e memória, argumenta-se com propriedade que a história não só é construída pela ação de seres humanos em situações específicas como também por aqueles que escrevem sobre essas ações e dão significado a elas. Sabemos bem disso no Brasil.

Ao se aproximar dos 50 anos do 1º de abril de 1964 e diante de tentativas recentes de revisar a história da ditadura e reconstruir o seu significado através, inclusive, da criação de um vocabulário novo, é necessário relembrar o papel – para alguns, decisivo – que a grande mídia desempenhou na preparação e sustentação do golpe militar.

Referência clássica
A participação ativa dos grandes grupos de mídia na derrubada do presidente João Goulart é fato histórico fartamente documentado. Creio que a referência clássica continua sendo a tese de doutorado de René A. Dreifuss (infelizmente, já falecido), defendida no Institute of Latin American Studies da University of Glasgow, na Escócia, em 1980 e publicada pela Editora Vozes sob o título “1964: A Conquista do Estado” (7ª. edição, 2008).

Através das centenas de páginas do livro de Dreifuss o leitor interessado poderá conhecer quem foram os conspiradores e reconstruir detalhadamente suas atividades, articuladas e coordenadas por duas instituições, fartamente financiadas por interesses empresariais nacionais e estrangeiros (“o bloco multinacional e associado”): o IBAD, Instituto Brasileiro de Ação Democrática e o IPES, Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais.

No que se refere especificamente ao papel dos grupos de mídia, sobressai a ação do GOP, Grupo de Opinião Pública ligado ao IPES e constituído por importantes jornalistas e publicitários. O capítulo VI sobre “a campanha ideológica”, traz ampla lista de livros, folhetos e panfletos publicados pelo IPES e uma relação de jornalistas e colunistas a serviço do golpe em diferentes jornais de todo o país. Além disso, Dreyfuss afirma (p. 233):

O IPES conseguiu estabelecer um sincronizado assalto à opinião pública. Através de seu relacionamento especial com os mais importantes jornais, rádios e televisões nacionais, como: os Diários Associados, a Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo (...) e também a prestigiosa Rádio Eldorado de São Paulo. Entre os demais participantes da campanha incluíam-se (...) a TV Record e a TV Paulista (...), o Correio do Povo (RS), O Globo, das Organizações Globo (...) que também detinha o controle da influente Rádio Globo de alcance nacional. (...) Outros jornais do país se puseram a serviço do IPES. (...) A Tribuna da Imprensa (Rio), as Notícias Populares (SP).

Vale lembrar às gerações mais novas que o poder relativo dos Diários Associados no início dos anos 60 era certamente muito maior do que o das Organizações Globo neste início de século XXI. O principal biógrafo de Assis Chateaubriand afirma que ele foi “infinitamente mais forte do que Roberto Marinho” e “construiu o maior império de comunicação que este continente já viu”.

A visão do USIA
Há outro estudo, menos conhecido, que merece ser mencionado. Trata-se de pesquisa realizada por Jonathan Lane, Ph. D. em Comunicação por Stanford, ex-funcionário da USIA, United States Information Agency no Brasil, publicado originalmente no Journalism Quarterly, (hoje Journalism & Mass Communication Quarterly), em 1967, e depois no Boletim n. 11 do Departamento de Jornalismo da Bloch Editores, em 1968, (à época, editado por Muniz Sodré) sob o título “Função dos Meios de Comunicação de Massas na Crise Brasileira de 1964”.

Lane enfatiza a liberdade de imprensa existente no país e a pressão exercida pelo governo sobre os meios de comunicação utilizando os recursos a seu dispor (empréstimos, licenças para importação de equipamentos, publicidade, concessões de radiodifusão e “recursos de partidos comunistas”). A grande mídia, no entanto, resiste, até porque “o governo não é a única fonte de subsídio com que contam os jornais. Existem outras, interesses conservadores, econômicos e políticos que controlam bancos ou dispõem de outros capitais para influenciar os jornais” (p. 7).

O autor, curiosamente, não menciona o IBAD ou o IPES e conclui que as ações do governo João Goulart e da “esquerda” retratadas nos meios de comunicação provocaram um “desgaste da antiga ordem baseada na hierarquia e na disciplina” que se tornou “psicologicamente insuportável” para os chefes militares e para a elite política, levando, então, ao golpe. 

O artigo de Lane, no entanto, traz um importante conjunto de informações para se identificar a atuação da grande mídia. Tomando como exemplo a cidade do Rio de Janeiro - “o centro de comunicações mais importante” – afirma:

“Apesar das armas à disposição do governo, Goulart passou um mau bocado com a maior parte da imprensa. A maioria dos proprietários e diretores dos jornais mais importantes são homens (e mulheres) de linhagem e posição social, que freqüentam os altos círculos sociais de uma sociedade razoavelmente estratificada. Suas idéias são classicamente liberais e não marxistas, e seus interesses conservadores e não revolucionários” (p. 7).

No que se refere aos jornais, Lane chama atenção para a existência dos “revolucionários”, de circulação reduzida, como Novos Rumos, Semanário e Classe Operária (comunistas) e Panfleto (Brizolista). O mais importante jornal de “propaganda esquerdista” era Última Hora, “porta-voz do nacionalismo-esquerdista desde o tempo de Vargas”. Já “no centro, algumas apoiando Jango, outras censurando-o, estavam os influentes Diário de Notícias e Correio da Manhã”. E continua:

“Enfileirados contra (Jango) razoavelmente e com razoável (sic) constância, encontravam-se O Jornal, principal órgão da grande rede de publicações dos Diários Associados; O Globo, jornal de maior circulação da cidade; e o Jornal do Brasil, jornal influente que se manteve neutro por algum tempo, porém opondo forte resistência a Goulart mais para o fim. A Tribuna da Imprensa, ligada ao principal inimigo político de Goulart, o governador Carlos Lacerda, da Guanabara (na verdade, a cidade do Rio de Janeiro), igualmente se opunha ferrenhamente a Goulart” (pp. 7-8).

Quanto ao rádio e à televisão, Lane explica:

“Cerca de metade das estações de televisão do país são de propriedade da cadeia dos Diários Associados, que também possui muitas emissoras radiofônicas e jornais em várias cidades. (...) Os meios de comunicação dos Diários Associados, inclusive rádio e tevê, empenharam-se numa campanha coordenada contra a agitação esquerdista, embora não contra Goulart pessoalmente, nos últimos meses que antecederam ao golpe” (p. 8).

Participação ativa
A pequena descrição aqui esboçada de dois estudos que partem de perspectivas teóricas e analíticas radicalmente distintas não deixa qualquer dúvida sobre o ativo envolvimento da grande mídia na conspiração golpista de 1964. 

A relação posterior com o regime militar, sobretudo a partir da vigência da censura prévia iniciada com o AI-5, ao final de 1968, é outra história. Recomendo os estudos de Beatriz Kushnir, “Cães de Guarda – Jornalistas e censores do AI-5 à Constituição de 1988” (Boitempo, 2004) e de Bernardo Kucinski, “Jornalistas e Revolucionários nos tempos da imprensa alternativa” (EDUSP, 2ª. edição 2003).

As Organizações Globo merecem, certamente, um capítulo especial. Elio Gaspari refere-se ao “mais poderoso conglomerado de comunicações do país” como “aliado e defensor do regime” (Ditadura Escancarada, Cia. das Letras, 2004; p. 452). 

Em defesa da democracia
Não são poucos os atores envolvidos no golpe de 1964 – ou seus herdeiros – que continuam vivos e ativos. A grande mídia brasileira, apesar de muitas e importantes mudanças, continua basicamente controlada pelos mesmos grupos familiares, políticos e empresariais. 

O mundo mudou, o país mudou. Algumas instituições, no entanto, continuam presas ao seu passado. Não nos deve surpreender, portanto, que eventualmente transpareçam suas verdadeiras posições e compromissos, expressos em editoriais, notas ou, pior do que isso, disfarçados na cobertura jornalística cotidiana.

Tudo, é claro, sempre feito “em nome e em defesa da democracia”.

Por todas essas razões, lembrar e discutir o papel da grande mídia na preparação e sustentação do golpe de 1964 é um dever de todos nós.
____________
 
Matéria originalmente publicada em 13 de março de 2009.

O jornalismo de hoje: uma escolha entre o mercado e as pessoas


A tarefa do jornalismo pós-Reagan 

(ou do pós-ápice do neoliberalismo) é corrigir a escala

 de valores e recolocar o homem no centro do mundo.


Roberto Savio (*)
Arquivo

Por ser uma pessoa com uma longa carreira na profissão, me foi pedido para proporcionar às novas gerações minha opinião sobre o que é o jornalismo.

O fato é que, em pouco mais de uma geração, o jornalismo viveu profundas mudanças. Cabe recordar que ele foi criado pelas elites. No apogeu da era colonial, o Times de Londres tinha uma circulação de apenas 50 mil exemplares, todas para a elite e os funcionários públicos do Império Britânico.

O jornalismo só se transformou em um meio de “massas” quando, no século 19, os Estados Unidos receberam uma onda de imigrantes e precisaram adaptar seu jornalismo às necessidades de seu “cadinho de culturas”, no qual milhões de pessoas de diferentes lugares e antecedentes tiveram que se adaptar a ou assumir a identidade americana.

É assim que surge o jornalismo moderno, com sua bagagem das denominadas “técnicas” devidamente estudadas nas escolas de jornalismo. Por exemplo: todas as notícias devem conter um “quem, onde, quando e como” ou “se um cachorro morde um homem não é notícia, mas se um homem morte um cachorro, é”, e assim sucessivamente. No entanto, após uma análise cuidadosa, essas técnicas não ensinam como ser um jornalista melhor, mas indicam como empacotar a informação da maneira mais clara e atraente para o leitor médio.

Desde a criação dos meios de comunicação, um elemento muito importante da profissão jornalística é que você é responsável diante de seus leitores. Espera-se que você os ilustre, para que conheçam seu tempo e seu mundo. Pediu-se aos jornalistas que proporcionassem esse vínculo da maneira mais equilibrada e justa possível, apresentando seus textos com informações oriundas de diferentes pontos de vista e fontes. Os diretores dos meios basicamente compartilham desse ponto de vista deontológico, mas na ótica de seus interesses pessoais, é claro.

Os jornais foram capazes de sobreviver ao surgimento do rádio e da televisão, com cada um desses três meios de comunicação adotando um caminho especializado. Mas, depois de ter trabalhado nos três, estou convencido de que o mundo da informação mudou com dois eventos, sem dúvida alguma: a chegada da internet e a presidência de Ronald Reagan.

A internet marcou o começo de uma mudança de época: pela primeira vez na história, as pessoas podiam ter acesso à comunicação. A informação é uma estrutura vertical, na qual poucos enviam fatos e pontos de vista a um grande número de destinatários, um processo em uma só direção que os regimes autoritários ou ditatoriais foram rápidos em utilizar para apoiar suas relações verticais com os cidadãos. Ao contrário, a comunicação é um processo horizontal, no qual os que enviam também estão prontos para receber. É por isso que a China tem 30 mil censores em tempo real para o monitoramento da rede.

Com o aparecimento da internet, os meios de comunicação foram de repente desafiados como guardiões da sociedade. Permitam-me dar apenas um exemplo: a voz das mulheres. Na Primeira Conferência Mundial sobre a Mulher, organizada pelas Nações Unidas em 1975, as vozes das mulheres nos meios de comunicação eram muito escassas e marginais.

Na Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher de Pequim, em 1995, a cobertura midiática foi igualmente patética, se excluirmos os quase 80% da cobertura jornalística da conferência que foi dada a Hillary Clinton (mulher do então presidente dos Estados Unidos). A cobertura midiática não abordou temas reais das mulheres, mas sim o que aconteceu na conferência. O importante é que, na conferência de Pequim, as mulheres chamaram para si a responsabilidade utilizando a internet para criar uma plataforma comum, marginalizando os funcionários – em sua maioria, homens. Sem sombra de dúvidas, as mulheres com consciência de gênero em todo o mundo não podiam depender dos meios de comunicação para divulgar a informação que queriam. Graças à internet, de repente foram criadas milhares de redes para discutir os temas reais da mulher, questões que os meios não eram capazes de tratar em profundidade. O mesmo acontece com os direitos humanos, o meio ambiente, a sociedade civil etc., nos quais os meios de comunicação não podem competir.

O segundo fato importante foi registrado em 1981, com a chegada de Ronald Reagan à presidência dos Estados Unidos. Um homem que, habilmente assessorado pela primeira ministra britânica Margaret Thatcher, quase sozinho alterou o próprio conceito das relações internacionais, até então baseadas na ideia de cooperação internacional. Reagan foi o primeiro político que deu respostas simples a perguntas complexas, as que foram os “bytes” de suas convicções políticas. Desdenhou do movimento ecologista ao declarar: “As árvores causam mais contaminação do que os automóveis”. Reduziu os impostos para os ricos asseverando que “os ricos produzem riqueza, os pobres a utilizam”. Thatcher fez eco: “... não existe essa coisa de sociedade. Existem homens e mulheres, individualmente”.

Foi nesse período que as Nações Unidas começaram a entrar em declínio e, bem como a ideia do desenvolvimento e da solidariedade internacional. O lema do dia foi: “Comércio, não Ajuda”. O Consenso de Washington , que defende o desmantelamento do Estado de Bem-estar e a redução de tudo o que é público, foi impulsionado em todo o mundo pelo Banco Mundial, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Departamento do Tesouro dos EUA. Essa nova visão de mundo penetrou em todas as instituições internacionais, especialmente na União Europeia.

Logo o Muro de Berlim foi derrubado, em 1989. E a vitória não era simplesmente de um lado contra o outro, ou seja, do capitalismo contra o socialismo. Foi “O fim da história”, como escreveu Francis Fukuyama em 1992. A globalização havia chegado, e todos conhecemos os resultados. As 300 pessoas mais ricas do mundo têm a mesma riqueza que outras 3 bilhões de pessoas. E, durante os últimos cinco anos, 75% de toda a riqueza produzida foi destinada ao 1% dos já imensamente ricos. Os cem homens mais ricos do planeta aumentaram sua riqueza em 2012, até chegar ao equivalente aos orçamentos nacionais de Brasil e Canadá.

Eu defendo que ambos os fatores tiveram um impacto muito profundo nos meios de comunicação e em seu sistema de valores. Os jornais diminuíram sua circulação, pois um número crescente de jovens não os compra, e o rádio e a televisão são utilizados devido a seu valor de entretenimento. Eles recorrem à internet, em que podem adaptar sua informação e análise diárias de acordo com seus interesses. Como consequência, os meios de comunicação já não são um bom negócio e a reação foi concentrá-los com a finalidade de reduzir os custos.
 
Rupert Murdoch é o melhor exemplo desse fenômeno. A concentração se traduziu em uma redução de diversidade e estilo. Desde que Murdoch o assumiu, o Times, de Londres, “perdeu” 20% de seu vocabulário. A linguagem perdeu valor literário, usando orações mais curtas em que os adjetivos são “proibidos”. A cobertura mundial, que é complexa, vai perdendo espaço. Enquanto a homogeneização dos meios de comunicação era antes um fenômeno superestrutural, agora está chegando a nível nacional.

Isso foi acompanhado por uma séria mudança de deontologia. Os meios de comunicação têm que vender para sobreviver. A informação se tornou cada vez orientada a eventos, e não a processos. O sociólogo norueguês Johan Galtung escreveu, na década de 1970, sobre uma “escala de valores da informação”: o que ocorre perto de você vende mais do que aquilo que é de longe. Uma pessoa conhecida venderá mais do que um cidadão comum; algo dramático e pouco usual vende mais do que uma análise econômica pouco atrativa, ou o que se pode descrever como normalidade. O negativo atrais mais do que o positivo, e assim sucessivamente. Pois bem, isso agora chegou ao extremo.

O primeiro jornal online, o Huffington Post, abriu suas páginas para o mundo todo. Paga-se conforme o número de cliques que um texto recebe. O que compensa mais: um texto sobre as histórias de amor do presidente francês, François Hollande, ou um sobre suas políticas relacionadas ao emprego? Como resultado, as pessoas interessadas sobre a questão central do impacto das políticas de austeridade devastadoras na Europa podem clicar aqui (http://www.troikawatch.net/2nd-newsletter-of-troikawatch) e encontrar o que os meios não proporcionam.

Falo por experiência pessoal. Cansado do fato de meus amigos estarem menos informados do que eu sobre temas globais, comecei um serviço de informação diária (Other News) com critérios de uma agência de notícias, mas usando a internet como fonte, e não os jornalistas, a fim de ser capaz de proporcionar um serviço gratuito. Dos 60 destinatários originais, agora já são mais de 20 mil usuários em inglês e espanhol. Se você estiver interessado, clique emhttp://www.other-news.info/noticias e veja o que não encontrará em seu trabalho diário. Milhares de ativistas sociais, funcionários internacionais e acadêmicos já enviaram mensagens de agradecimento por lhes ter proporcionado outro horizonte... o que um bispo chamou de “a outra cara da lua”.

O verdadeiro problema é que o jornalismo se converteu em tão somente um espelho de nosso tempo, abdicando de qualquer função social, para limitar-se a ser um abastecedor da informação como uma mercadoria. Nossos temos estão marcados pelo neoliberalismo, e vícios como a cobiça e o individualismo se transformaram em virtudes exaltadas por Hollywood e pela homogeneização dos meios de comunicação. Os valores do desenvolvimento, consagrados em todas as constituições modernas, eram a justiça social, a igualdade, a solidariedade e a participação, entre outros. Pelo contrário, a globalização é a riqueza e o êxito, o triunfo do indivíduo, com o Mercado no lugar do homem. O desenvolvimento é um processo ao final do qual você é mais – a globalização significa ter mais. 

Cabe acrescentar a essa mudança de valores o fator sem precedentes de que hoje gastamos mais (per capta) em publicidade do que em educação; que as instituições políticas perderam a visão e a ideologia para se transformar em pragmáticas (de fato, utilitárias), com cada vez menos participação das pessoas; que o mundo das finanças se apoderou do mundo da produção em termos globais (um bilhão de dólares ao dia na produção, 40 bilhões de dólares em transações financeiras); que agora temos apologistas de uma “nova economia”, que conceitualizam o desemprego estrutural como uma necessidade. É isso o que está refletido no espelho.

Em 1980, o analista financeiro norte-americano Bernard Baruch provocou um escândalo quando defendeu que o gerente de uma empresa pode ganhar 50 vezes o salário de seus trabalhadores. Agora, passamos a mais de 500 vezes, e a distância continua crescendo. A cada mês, os bancos são multados em dezenas de milhões de dólares por atividades fraudulentas, mas isso já não é notícia, e a mesma coisa acontece com as revelações da corrupção política e econômica. Basicamente, as pessoas de deram por vencidas. Ou já renunciaram ou se converteram em passivas, auxiliadas pelo efeito anestésico de programas de televisão como o Big Brother.

Para salvar os bancos, gastamos o equivalente a mil dólares por habitante. Em 2012, apenas na Espanha, salvar os bancos foi mais caro do que o orçamento anual para saúde e educação... mas são incapazes de proporcionar uma alimentação adequada para cerca de 1 bilhão de pessoas, e o número de obesos encurta a distância em relação ao número de pessoas desnutridas. A London School of Economics publicou um estudo em que, para 2030, projeta-se um retorno aos tempos da rainha Vitória, quando um filósofo desconhecido chamado Karl Marx estava na biblioteca do Museu Britânico escrevendo seus ensaios sobre o capital, o trabalho e a exploração, e elaborando seu manifesto.

Encontramo-nos em uma etapa de transição entre um mundo que já não é viável – um mundo no qual as finanças não têm quem lhes dite normas e um capitalismo em roda livre que está avançando em direção a sua destruição –, um mundo que deve encontrar a governança global. Somos incapazes de resolver apenas um problema global, desde o meio ambiente té a fome, desde o desarme nuclear até a imigração, atoe os controles sobre o capital nos paraísos fiscais (onde está depositado dez vezes o capital necessário para resolver a fome, a saúde e a educação em todo o mundo). E assim poderíamos continuar e continuar.

Tudo isso mostra como estamos falhando para assegurar um mundo melhor para as gerações vindouras. É sabido que a ética protestante foi amplamente aclamada como mais estrita do que a ética católica. No entanto, nos últimos anos, Wall Street e a City se converteram em ninho de cobiça e de fraudes sem precedentes.
 
Atualmente, o Papa Francisco é a única voz em defesa dos pobres, lutando por justiça social, denunciando a desigualdade e exortando a paz e a cooperação. Mas quem na escola de negócios ou na faculdade de economia escutou falar da doutrina social cristã?

Portanto, existe a necessidade de um novo jornalismo, e não apenas de uma atualização do anterior. Está claro que não será um trabalho associado ao glamour e à boa vida, tal como foi até uma geração atrás. Inclusive, os meios de comunicação que sobrevivem estão reduzindo custos (em outras palavras, demitindo seu pessoal). Aos repórteres, paga-se por texto, e não muito.

E os meios sociais, para sobreviver, precisam de publicidade e atenção, que são dificultadas devido à enorme oferta da internet. Portanto, para aqueles que querem ser jornalistas nos dias de hoje, a primeira lição é: se o fizer, deve ser porque acredita que está fazendo uma coisa útil, e que a está realizando quando faz... do contrário, vá trabalhar em um banco, onde há menos estresse e mais dinheiro e respeito. Mas, atualmente, poucas profissões oferecem um impacto tão importante, necessário e quantificável na sociedade. 

A tarefa do jornalismo pós-Reagan (ou, para ser menos provocativo, do pós-ápice do neoliberalismo, que agora está perdendo o brilho) é corrigir a escala de valores e recolocar o homem no centro do mundo. Isso não deveria ocorrer como resultado dos ensinos do Papa Francisco. Não é necessário usar a graça da fé para se dar conta de que esse mundo é muito injusto e polarizado, em que a classe média está se reduzindo. Os novos jornalistas devem estar conscientes de que o status quo está mantendo uma situação insustentável para bilhões de pessoas, especialmente para as mulheres, as crianças e os jovens. Portanto, ele/ela devem evitar as armadilhas que ajudam o status quo. 

A primeira é cair no mito da objetividade. Os filósofos e os cientistas lhes dirão que ela não existe. Aqueles que estão surfando com êxito nas ondas da globalização lhes dirão que seja objetivo e, para sê-lo, não deve escutar e reportar sobre minorias descontentes. A única maneira de ver o país é por meio da macroeconomia, que divide a riqueza por habitante, e não da microeconomia, que se detêm em fatores complicados, como o nível de renda, a redistribuição, a mobilidade social, e assim sucessivamente. Em nome da objetividade, é preciso se informar sobre o que o sistema diz, sem ficar entorpecido com tantas vozes diferentes na rua. Os políticos são eleitos, os líderes da sociedade civil não são. Apenas as estatísticas oficiais são confiáveis. As estatísticas da Oxfam sobre a fome ou as do Greenpeace sobre o meio ambiente não são objetivas. O mesmo acontece com as conclusões do Grupo Intergovernamental de Especialistas para o Controle do Clima, que defende a tomada de decisões ambientais para salvar o planeta e que é contra o crescimento econômico e nosso estilo de vida. Quando pedirem que vocês sejam objetivos, abram seus ouvidos: estão lhes pedindo para ajudar o status quo.

A segunda armadilha consiste em acreditar que apenas quem detém o poder detém toda a informação e, portanto, está mais capacitado para dar declarações. Eles têm toda a informação, mas frequentemente não a leem, ou fazem pouco caso dela quando não se adapta a seus pontos de vista. Nunca ninguém na história teve tanta informação como o governo dos EUA, que, como a Agência Nacional de Segurança (NSA), controla todas as comunicações do planeta. Isso representou uma melhoria na política norte-americana?

A terceira armadilha é: você é mais respeitável porque tem maior acesso ao poder estabelecido. Isso é apenas uma forma de cooptação. A respeitabilidade deve ser com você mesmo, ser capaz de fazer o correto, e isso não é o que estão fazendo. Dar voz aos sem poder, às pessoas reais, e não aos ganhadores em um mundo de cassinos.

E todos os números os apoiarão: a grande maioria não está no 1% que detém 54% dos recursos do mundo, mas sim entre os 75% que detêm apenas 15%. essa é a realidade de nosso tempo e temos que dar voz aos 75% e a seus problemas para encontrar uma vida cotidiana digna. Quando observamos o mundo, devemos ser igualmente capazes de sublinhar o que pode significar a paz e a justiça internacional, assim como expor as consequências da guerra e da injustiça. Tudo isso deve ser realizado com um critério profissional simples: dar voz a todas as partes, e informar da maneira mais fiel possível o que está acontecendo.

O problema é que um jornalista hoje não pode permanecer sempre imparcial. Tomemos como exemplo a mudança climática. Não se pode colocar os interesse das companhias petroleiras e os da raça humana no mesmo nível. Ao fazer isso, perpetua-se um mito que é o resultado de uma visão peculiar do mundo, inclusive se não tiver qualquer base científica: de que o mercado vai redistribuir a riqueza, com um efeito dominó até o último ser humano no mundo, eliminando as guerras e a pobreza. Sob esse enfoque, deve-se levar em conta que as companhias petroleiras oferecem trabalho a dezenas de milhares de pessoas, e que quando mais dinheiro ganham, melhor será para todos nós – a mesma lógica que levou a Corte Suprema dos EUA a determinar que as corporações têm os mesmos direitos que as pessoas, e que portanto podem contribuir livremente e sem limitação nas campanhas políticas.

Atualmente, os jornalistas têm uma ferramenta inestimável com a qual não contávamos no meu tempo: a possibilidade de pesquisar na internet, entrevistas pessoas sem a necessidade de viajar e se reunir com elas, inclusive com o uso de telefones inteligentes para aplicações como Skype, ou com uma câmera de vídeo. Nos meus dias, os custos das comunicações e das viagens eram enormes, e a norma era ter um fotógrafo conosco. Uma equipe de televisão era composta por pelo menos cinco pessoas, com mais de 300 quilos de equipamentos. Atualmente, é o jornalista com seu smartphone, e isso é tudo.

Estamos vivendo em tempos diferentes – em muitos sentidos, melhores –, mas com um grande avanço na tecnologia, o que confere a um jornalista a liberdade para investigar. O problema, portanto, é o que Leonardo da Vinci chamou de “saper vedere”: ser capaz de ver. O jornalismo, enfim, é a capacidade de ver e colocar o que se observou em uma ordem adequada para comunicar a seus leitores. O que faz a diferença não é a forma de escrever, mas a capacidade de observar.

É evidente que estamos em uma época de transição para um novo mundo difícil de prever. Antonio Gramsci, um pensador comunista italiano, escreveu em seus Cadernos do Cárcere: “O velho mundo está morrendo à distância e o novo mundo luta para nascer: chegou o momento dos monstros”. Precisamos de um novo jornalismo que nos conduzirá através desse século, identificará os monstros e converterá as vozes da humanidade em seu conjunto em uma rota em direção ao novo mundo.

(*) Cofundador e ex-Diretor Geral do Inter Press Service (IPS). Nos últimos anos, também fundou o Other News, um serviço que proporciona “informação eliminada pelos mercados”


Tradução: Daniella Cambaúva