terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Associação Mundial Antitabagismo - AMATABR

 nosmoke@uol.com.br por  amata112.mktnaweb.com 
10:13 (2 minutos atrás)


Apesar de tudo, Feliz 2014 sem tabaco!
2013 foi o ano em que o lobby da indústria do tabaco e o governo federal mantiveram inertes, pelo segundo ano consecutivo, ações para cumprimento dos já legalizados ambientes livres da fumaça do tabaco e proibição de publicidade nos pontos de venda no Brasil (arts. 49 e 50 da Lei nº 12.546/2011).
Vale lembrar que esse lobby conseguiu postergar a obrigatoriedade de advertências e mensagens em 30% da área frontal dos maços de cigarro para janeiro de 2016 (§ 6º da Lei 9294/96, com redação dada pelo 49 da lei nº 12.546/2011), apesar do compromisso do governo brasileiro de adotar tal medida a partir de 03/02/2009, de acordo com o art. 11, item "1.b.iv", cc art. 36, item "2", da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, aprovada pelo Brasil em 03/11/2005.
2013 foi também o ano em que a indústria do tabaco, graças à Ministra Rosa Weber, à revelia do Plenário do STF, como determina a Lei e protestado pela Advocacia Geral da União e pela Amata, manteve a produção de cigarros mentolados e com aditivos, na sua maioria cancerígenos, proibida desde 14/09/2013 pela Resolução nº 14/2012-Anvisa.
É de se pensar quem vai pagar a conta pela fabricação desses produtos, com venda proibida a partir de 14/03/2014!
Estamos certos de que o poder das instituições legalmente constituídas, a boa-fé, a dignidade e o respeito hão de prevalecer em 2014, ao menos em consideração às 27 mil vítimas de câncer de pulmão anunciadas para o próximo ano, das quais 90% são decorrentes do cigarro. Por sinal, em dezembro, o tempo entre a descoberta desse tipo de câncer e a morte do cantor Reginaldo Rossi, tabagista, foi de apenas dez dias...
E no fechar das cortinas de 2013, a Anvisa declarou que vai "mobilizar forças no Congresso Nacional" para a adoção de embalagens genéricas para os cigarros no Brasil.
O que se pode esperar do Congresso Nacional?
Por fim, neste mês o Fantástico reforçou o anúncio do INSS de que o Instituto vai cobrar de motoristas, especialmente embriagados, que causarem acidente de trânsito a aposentadoria ou pensão da vítima ou da família.
Simples assim, e tão aguardado para se ver concretizado em 2014, apesar dos inúmeros recursos e instâncias judiciais no Brasil.
Boa leitura!
Silvio Tonietto
Agora só não se motiva a parar de fumar quem não quer!!!
Palestra "Preparação para Deixar de Fumar" e Revista "Pare de Fumar Agora!", disponíveis on linewww.paredefumaragora.com.br
"30 minutos que valem uma vida"
Resumo mensal de notícias sobre o tabagismo e o alcoolismo:
10/12/2013 - UOL - (Ledo engano!) Senado uruguaio legaliza produção e comércio de maconha. Presidente uruguaio terá dez dias para sancionar a proposta, considerada única no mundo. Após essa etapa, os congressistas terão 120 dias para regulamentar a lei, e então começará a produção e a venda de maconha de forma controlada pelo Estado, que criará um registro de consumidores e distribuirá a substância em farmácias e casas especializadas. Segundo o governo, o objetivo da lei é tirar poder do narcotráfico e reduzir a dependência dos uruguaios de drogas mais pesadas. Embora o governo pretenda competir com o narcotráfico estabelecendo preços de mercado, por exemplo, US$ 1 (R$ 2,30) por grama, organizações de usuários asseguram que essa meta será difícil de ser cumprida
10/12/2013 - Diário de Pernambuco (Correio Braziliense) - (Olha ai!) Cigarros eletrônicos levam os usuários a fumar ainda mais, mostra estudo realizado entre quase 76 mil jovens. De acordo com o novo artigo, publicado no Journal of Adolescent Health e realizado a partir de dados de uma pesquisa epidemiológica da Coreia do Sul, jovens de 13 a 18 anos que mostraram interesse em parar de fumar com a ajuda do dispositivo não só continuaram com o vício, como passaram a fumar em dobro. Um mês depois de adotar o método alternativo, os tabagistas estavam, na verdade, consumindo tanto o cigarro normal quanto o eletrônico. Além disso, os pesquisadores estão preocupados com um percentual de adolescentes que nunca experimentou o cigarro tradicional, mas é fumante habitual do eletrônico. O estudo indicou que esse é o caso de 1,4% dos coreanos. "Esses equipamentos representam um novo padrão de vício em nicotina entre adolescentes", alerta o principal autor do artigo e pesquisador do Centro de Controle, Pesquisa e Educação sobre Tabaco da Universidade da Califórnia, em São Francisco. O especialista também destaca que, em três anos (de 2008 a 2011), o uso de cigarro eletrônico pelos adolescentes coreanos aumentou 20 vezes

Empresa Angonabeiro inicia em 2014 venda internacional de café de Angola


Macauhub 

30/12/2013 

A Angonabeiro, empresa do grupo português Nabeiro, vai iniciar em 2014 a comercialização internacional da marca de café Ginga, afirmou ao jornal angolano Expansão o director-geral da empresa, José Carlos Beato.

Dizendo que o processo iniciar-se-á nos mercados da África do Sul, Namíbia e Moçambique, o director-geral da Angonabeiro disse estarem a decorrer negociações com empresas daqueles três países interessadas em comercializar o produto.
Os três países, de acordo com aquele responsável, vão servir igualmente de teste à actividade exportadora da empresa, que pretende igualmente começar a comercializar café em alguns países europeus.
Caso s negociações em curso venham a ter êxito, o café Ginga vai pela primeira vez ser consumido fora do território angolano, uma etapa que, segundo o director-geral da Angonabeiro, constitui um marco na actividade do grupo.
A iniciativa faz parte dos objectivos para 2014 da Angonabeiro, detentora da marca, que incluem acções de no sentido de procurar elevar o consumo de café em Angola, ainda considerado baixo.
A Angonabeiro é a empresa do grupo Nabeiro que, desde 2000, actua no mercado angolano na área do comércio e da indústria, com as marcas de café Ginga e Delta, os produtos Adega Mayor e Agrodelta, a água Vimeiro e a cerveja Sagres.
O grupo Nabeiro e a Delta Cafés mantêm uma forte e antiga ligação a Angola, que remonta à época em que o país ocupava já um lugar de relevo na produção mundial de café. (macauhub)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Café : Retrospectiva : 2013 foi mais um ano ruim para produtor





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27/12/2013
SAFRAS (27) – O ano de 2013 foi mais um período difícil para o produtorbrasileiro de café. Os preços foram desoladores, com o mercado mundial mantendo-se sob a pressão de uma oferta superior à demanda, dando tranquilidade aos compradores, que mantiveram a estratégia de não fazer pressão de compra e seguir com estoques necessários para o curto prazo.
Estratégia que funciona em tempos em que a oferta é justamente abundante.
Brasil colheu uma safra recorde para um ciclo baixo produtivo dentro da bienalidade cafeeira em 2013. O Vietnã também chegou no final do ano com a entrada de uma grande safra de robusta, enquanto Colômbia e América Central chegam com produções crescentes de arábica de alta qualidade. Ficou fácil para as grandes indústrias se posicionarem no ano em relação as suas aquisições. Com a maré de crise financeira global ainda baixando aos poucos, as empresas de maior porte continuam com sua postura cautelosa e de aquisições  da mão-para-boca.
O analista de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, destaca que 2013 foi a sequência do ano ruim para os preços do café que já havia sido 2012. Oferta grande e demanda comedida resumem o quadro. Ele ressalta que os estoques globais e brasileiros cresceram, e que vendedores adversários do Brasil ficaram mais agressivos, como a Colômbia, que teve seu prêmio contra o preço de Nova York diminuído.

Os estoques finais mundiais de café da temporada 2013/14 deverão ficar em 36,330 milhões de sacas de 60 quilos, com um incremento de 7,5% na comparação com 2012/13, quando os estoques foram apontados em 33,789 milhões de sacas. As estimativas são do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), partindo de seu último relatório, de dezembro. A produção total mundial 2013/14 é indicada pelo USDA em 150,465 milhões de sacas, apresentando queda de 1,8% sobre as 153,268 milhões de sacas de 2012/13. O consumo mundial é colocado em 144,4 milhões de sacas em 2013/14, com incremento de 1,6% contra  2012/13 (142,2 milhões de sacas).
Levantamento de SAFRAS aponta que os estoques brasileiros de café em 2013/14 sobem 23,2%, passando de 5,68 de 2012/13 para 7 milhões de sacas.
A SAFRAS estima uma produção brasileira 2013/14 de 52,9 milhões de sacas, contra 55,2 milhões de sacas em 2012/13.
No final do ano, as medidas do governo prorrogando dívidas auxiliaram na sustentação dos preços internos, assim como o programa de opções teve seu efeito positivo, embora sem maiores mudanças nas cotações mundiais do café.
O que ajudou o arábica na Bolsa de NY no fim do ano a ter sustentação foi a valorização do robusta, em função de momentânea queda nos estoques dessa última variedade, o que faz com que as indústrias busquem mais o arábica para  seus blends.
No balanço do ano, até o dia 26 de dezembro, o preço do arábica em Nova York caiu 18,8%, de 142,80 para 116,80 centavos de dólar por libra-peso no contrato spot. Já o robusta em Londres recuou 13,8%, recuando de US$ 1.963 para  US$ 1.691 a tonelada.
No mercado físico, apesar da valorização acumulada do dólar de 15,1% no anos, os preços caíram também acompanhando as bolsas. O café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais caiu no balanço do ano até o dia 26 de dezembro 14,9%, baixando de R$ 335,00 para R$ 285,00 a saca. O conilon tipo 7 em  Vitória/Espírito Santo caiu 16%, de R$ 256,00 para R$ 215,00 a saca.
Fonte : Safras & Mercado

sábado, 28 de dezembro de 2013

A essência das coisas. por César Benjamin

Husserl em busca da verdade absoluta
Em fins do século 19, a busca por um conhecimento objetivo e universal era questionada por diversos grupos. Contrário a essa tendência, Edmund Husserl erigiu um novo método de investigação filosófico, a fenomenologia, ao propor um retorno "às coisas", livre das teorias anteriores, para alcançar a certeza transcendental.
Múltiplas formas de relativismo somavam-se, no fim do século 19, para questionar as possibilidades de produzirmos conhecimento objetivo e verdadeiro. Não só as percepções diretas, baseadas nas sensações, eram vistas com desconfiança mas também até mesmo as verdades matemáticas.
Sua certeza aparente, dizia-se, decorria do fato de serem tautologias vazias, que nada informam sobre o mundo. Considerava-se que todo raciocínio dedutivo continha um vício, pois as conclusões estavam sempre embutidas nas suas premissas. Impossibilitados de alcançar as fontes últimas de qualquer certeza, deveríamos considerar o conhecimento como um conjunto de instruções práticas, úteis à vida, mas incapazes de nos dizer como o mundo, de fato, é.
O sensacionismo, teoria do filósofo austríaco Ernst Mach (1838-1916), afirmava que a busca do conhecimento era apenas um tipo de conduta da espécie humana, voltado para nos ajustar melhor ao ambiente; o conceito de verdade era uma relíquia metafísica que a ciência deveria substituir pelo conceito de "aceitabilidade".
Os adeptos do psicologismo pretendiam redefinir o estatuto da lógica, considerando-a apenas uma descrição abstrata --baseada no costume e em certos hábitos de economia mental-- de fatos psicológicos empíricos; ela deveria ser parte da psicologia, não da filosofia.
Positivistas e pragmatistas só viam fatos e relações entre fatos. Para eles, a validade das ciências naturais dependia fundamentalmente de sua eficácia, ou seja, sua capacidade de fazer previsões sobre fenômenos que aparecem no tempo e no espaço. A filosofia era vista como tributária dos resultados das ciências positivas.
Todos esses movimentos convergiam para a ideia de que pode existir conhecimento, mas não uma teoria do conhecimento autorizada a reivindicar, legitimamente, universalidade e objetividade.
CETICISMO Ao destruir as bases de todo conhecimento seguro, as diferentes formas de ceticismo ameaçavam destituir a cultura ocidental de sua posição singular. O filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938) compreendeu a gravidade disso: a busca de certezas e o estabelecimento de verdades eram parte essencial da milenar cultura europeia e fonte de sua universalidade.
Matemático de formação, considerava especialmente perigoso interpretar a lógica a partir de categorias psicológicas, pois as leis da lógica são universais e necessárias, enquanto a psicologia é uma ciência empírica, que deduz suas leis por indução.
Para restaurar a validade absoluta da verdade, Husserl concebeu um programa radical. Precisava encontrar um fundamento transcendental para a certeza e desenvolver um método voltado para descobrir as estruturas necessárias do mundo.
Buscou um recomeço da filosofia, ao modo cartesiano, para lançar as bases de um conhecimento cuja validade não dependesse da psicologia, dos fatos empíricos, da espécie humana e nem mesmo da existência do mundo, tal como o vemos. Isso exigia alterar o lugar que a filosofia ocupava.
Estávamos acostumados a outorgar às ciências a tarefa de conhecer a realidade, cabendo à filosofia refletir sobre esse conhecimento. Assim, a atividade filosófica havia se afastado das coisas, restringindo-se a examinar o conhecimento que tínhamos delas.
Husserl viu que a nova filosofia primeira que tinha em mente --que, por ser primeira, não podia ter pressupostos-- teria de "retornar às coisas", eliminando os diversos estratos de sentido que as teorias haviam depositado sobre elas.
É certo que a quantidade sempre crescente de fatos, teorias, hipóteses e classificações nos permite prever melhor certos acontecimentos e aumenta nosso poder sobre a natureza, mas isso, ele dizia, não nos ajuda a compreender o mundo: as ciências medem as coisas sem conhecer o que medem.
"Conhecer formas objetivas de construção de corpos físicos ou químicos e fazer previsões de acordo com isso --nada disso explica coisa alguma, mas precisa de explicação."
PERCEPÇÃO A certeza só pode ser obtida se conseguirmos eliminar a distância entre a percepção e as coisas, bem como a necessidade, dela decorrente, de construir uma ponte entre ambas. Conhecimento certo, seguro de si, deve ser conhecimento imediato, sem que entre o ato de conhecer e o seu conteúdo seja necessária alguma mediação.
Uma certeza que exige mediações não é mais certeza. E a necessidade de transmiti-la destrói sua imediaticidade, pois tudo o que entra no campo da comunicação humana é incerto, questionável e frágil. As ciências, tal como as conhecemos --conhecimentos indiretos e comunicáveis por natureza--, são incapazes de nos prover tal certeza.
Husserl viu que para "alcançar as coisas" precisamos partir de uma intuição na qual elas se revelem diretamente à consciência, sem distorções. Tal intuição precisa cumprir duas condições: (a) ser independente de um "eu" particular; (b) não se ater a fatos contingentes, mas buscar verdades universais, revelando suas conexões necessárias.
Descartes duvidou de tudo para livrar-se de toda dúvida. Conservou apenas o ego substancial, o único lugar que resistia à dúvida hiperbólica. Husserl seguiu o mesmo caminho, colocando em suspenso a existência do mundo, mas deu um passo adiante.
Não se deteve no ego cartesiano, a substância pensante. Considerou que o caminho da certeza exigia a eliminação também desse ego e a construção ideal de um ego transcendental, um recipiente vazio onde os fenômenos simplesmente aparecem.
O caminho para isso passava pela "epoché", a suspensão do juízo, especialmente sobre o que nos dizem as doutrinas filosóficas e as ciências. "Eu" e "mundo" ficam em suspenso, colocados entre parênteses. Não recusamos a existência deles, nem sequer duvidamos dela, mas a deixamos provisoriamente de lado para que só reste o puro fenômeno, aquele que não pertence a uma pessoa empírica nem representa um objeto real.
Nem as doutrinas filosóficas nem os resultados das ciências nem as crenças da "atitude natural" são pontos de partida indubitáveis, aqueles que Husserl buscava para reconstruir a filosofia como ciência rigorosa. Só a consciência resiste à "epoché". Ela é, pois, o resíduo fenomenológico imediatamente evidente. Mas consciência é sempre consciência de algo.
A esse traço, que diferencia o psíquico e o físico, Husserl denomina intencionalidade. Os modos típicos como as coisas e os fatos aparecem na consciência são os universais que a consciência intui quando a ela se apresentam os fenômenos. Ao prescindir dos aspectos empíricos e das preocupações que nos ligam aos fenômenos, purificando o campo da consciência, podemos buscar a intuição das essências, operação necessária no caminho para a certeza.
RADICAL Husserl encontrou o ponto de partida radical, que buscava, no domínio do absolutamente dado, do fenômeno puro, aquilo que se oferece diante de nós em qualquer das formas da nossa experiência. Era preciso deixar que o "olho do espírito" se dirigisse livremente às coisas para reconquistá-las com confiança profunda, captando em visão imediata o seu conteúdo ideal.
Em vez de valorizar as duas maneiras bem conhecidas de aproximar-se do mundo --a intuição sensível, mas vaga e imprecisa, e a construção intelectual rigorosa, mas hipotética--, ele nos mostrou um outro tipo de intuição, a intuição categórica. Ela não é um processo de abstração que tenha como ponto de partida um dado fenômeno. É uma experiência direta dos universais que se revelam a nós com irresistível evidência.
Diferentemente do que nos diz o senso comum, o individual chega à consciência pelas mãos do universal. Nossa consciência só pode captar um fato (uma cor, um som) se captou sua essência.
Não partimos dos fatos e fazemos uma abstração para conhecer tais essências. Ao contrário: só podemos compreender fatos se já captamos uma essência que os torna compreensíveis e comparáveis. Reconhecemos uma essência comum --uma "essência de som" -- quando ouvimos qualquer som. Sem esse reconhecimento, não poderíamos identificá-lo.
A fenomenologia pretende ser a ciência das essências, não dos fatos. Seu objeto são os universais que a consciência intui a partir dos fenômenos. Husserl chamou "redução fenomenológica" a operação mental que converte a intuição individual (que nos dá esta rosa, esta cadeira, objetos que existem no tempo e no espaço, em constante mutação) em intuição eidética (que nos dá as essências, imutáveis e eternas, de rosa e cadeira). O objetivo é construir um conhecimento que independa de sujeitos definidos.
O que permanece depois da redução são os conteúdos dos fenômenos, que aparecem no ego transcendental, aquele recipiente desprovido das propriedades dos sujeitos psicológicos e que é o sujeito do conhecimento puro.
RENOVADORA A fenomenologia foi a corrente filosófica mais renovadora do século 20. Representou o início de uma nova época na filosofia, algo parecido com o que foi o sistema cartesiano a partir do século 17 e o kantiano a partir do 18.
A Descartes segue-se uma época cartesiana, a Kant, uma época kantiana, em que os debates passam a se dar em torno dos temas propostos por esses pioneiros. Husserl ocupa posição semelhante. Sua enorme influência contrasta com uma personalidade silenciosa e retirada. Viveu obcecado pelos problemas últimos dos quais depende o desenvolvimento do espírito, fixando-se neles com tenacidade exemplar.
Morreu solitário na Alemanha em 1938. De ascendência judaica, ele havia sido afastado do mundo acadêmico pelos nazistas e proibido de deixar o país. Depois de sua morte, o franciscano belga Herman Leo van Breda (1911-74) conseguiu salvar seus manuscritos inéditos --bem mais numerosos que a obra publicada--, levando-os para a Universidade de Louvain, onde estão até hoje.
A obra de Husserl vem sendo publicada gradativamente. Em 1954, como volume seis da Husserliana, veio à luz a versão definitiva de "A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental", que finalmente chega ao Brasil em tradução competente de Diogo Falcão Ferrer [Forense Universitária, R$ 107, 456 págs.].
Na verdade, é de uma ampla crise espiritual e existencial, não só das ciências e nem só da Europa, mas de toda humanidade, que o livro trata, pois a crise nos fundamentos das ciências é também uma crise da filosofia e da subjetividade.
"Não podemos prosseguir seriamente com o nosso filosofar como até aqui", diz Husserl. "A exclusividade com que, na segunda metade do século 19, a visão de mundo do homem moderno se deixou determinar pelas ciências positivas e com que se deixou deslumbrar pela prosperidade' que decorria daí significou o afastamento dos problemas decisivos para uma autêntica humanidade. Meras ciências de fatos criam meros homens de fato."
Diante de sua crise e de seus descaminhos, a razão não pode procurar um fundamento fora de si mesma. Se quiser salvar-se precisa buscar sua justificação em seu próprio seio. É a tarefa da filosofia, esse esforço vigoroso de fundamentação radical que teve em Husserl, no século 20, o seu principal impulsionador. O livro recém-lançado no Brasil é uma grande síntese de seu pensamento.

A escola sem significado

Doutor em psicanálise e professor da Unesp, Fábio Villela propõe fundamentos para retomar as
 relações de vínculo entre alunos, professores e a instituição escolar

Juliana Holanda
As queixas são conhecidas: o aluno não tem interesse pela aula, não quer saber da escola, agride - física ou psicologicamente - o professor. O resultado é um docente estressado, que só pensa em sobreviver até o final do dia. O cenário, realidade em muitas escolas, é sintoma de uma mesma causa, na avaliação do professor e pesquisador Fábio Villela: a escola deixou de ser significativa para professores e alunos.
Fábio Villela: todo mundo está esperando as condições, mas elas nunca chegam
Doutor em psicanálise e professor de psicologia no curso de Pedagogia da Unesp Presidente Prudente há 20 anos, Fábio acredita que nenhuma teoria cognitivista ajudou "a salvar a educação nacional" porque as respostas não estão todas no cognitivismo. "Eu acho que, para fazer com que a cabeça cognitiva do aluno funcione, são mais importantes vínculo, empatia e relação. Essa é a minha hipótese."
A hipótese resultou no recém-lançado livro Fundamentos da escola significativa (Edições Loyola), primeiro de uma coleção de cinco títulos, onde, juntamente com a professora de psicologia da Faculdade de Educação da Unicamp, Ana Archangelo, estão estabelecidas as bases de uma escola que seja "por um lado, extremamente importante para o aluno, e que por outro o ajude a ampliar o campo de significação das suas experiências".
Sob a forte influência da psicanálise, mas partindo do eixo escolar, os autores propõem meios para que o professor possa "entender um pouco o aluno e auxiliá-lo na trajetória de ampliar o seu campo de experiências".
Nesta entrevista concedida à Educação, Fábio fala sobre como treinar esse olhar e explica um dos conceitos desenvolvidos para alcançar tal objetivo: o "enquadre", pelo qual o professor estabelece as condições favoráveis para o desenvolvimento de suas aulas. Algo que iria em contraposição à atual tendência normativa da escola.
O que define a escola significativa?
Falamos em três sentimentos básicos: o aluno tem de se sentir acolhido pela escola, ou seja, se sentir bem, feliz de estar lá e se sentir protegido, fisicamente e emocionalmente. Tem de se sentir reconhecido - que faz parte de uma comunidade de iguais, ainda que os professores saibam mais que eles - e não como uma pessoa que é vista como sendo um diferente, um estranho, ameaçador. E tem de sentir que aquele ambiente é dele. Veja como a escola está distante de tudo isso.
Vocês partiram do conceito de aprendizagem significativa?Não, pelo contrário. Repensamos o conceito de aprendizagem significativa a partir do conceito de escola significativa. Entendemos que a escola, que deveria ser um lugar de desenvolvimento, engajamento, de relações criativas, ia se tornando desinteressante e opaca, portanto, que não fazia nenhum sentido na vida do aluno.
A escola deixou de ser significativa também para o professor?
Ah, sim, há muito tempo, sobretudo para o professor da escola pública. Porque o grau de insatisfação, de tensão, em alguns casos até de medo dos alunos, e desse clima institucional - ele precisa pôr ordem, a sala precisa respeitá-lo, ele é pressionado pelos alunos, às vezes é hostilizado pelos alunos, e se também não resolve muito bem isso, a direção cobra - então, a maior parte não tem prazer em dar aula. E para esses professores, a escola não pode ser significativa, a escola é um tormento.

E isso gera um círculo vicioso.Sim, me parece ser necessário juntar esses dois polos, onde os problemas aparecem. É necessário criar um espaço em que se recuperam os vínculos internos à sala de aula, entre professor e alunos, e também entre alunos, e que isso permita servir de base para a construção de uma escola que começa a ser significativa a partir daí.
Quem dá o primeiro passo para essa reconstrução?
Eu acho que quem dá o primeiro passo é o professor. Se o diretor e o coordenador pedagógico quiserem dar o primeiro passo é melhor. Mas dá para garantir que eles vão dar o primeiro passo? Não dá.
Mas os professores, muitas vezes, trabalham em condições extremamente desfavoráveis. Qual a importância das condições estruturais para que essa transformação ocorra no dia a dia?Quase todos os professores alegam que faltam as condições para dar o primeiro passo. Isso que me preocupa. Eu também sou favorável às condições. Todo mundo está esperando essas condições, mas elas nunca chegam. Então, ao escrever o livro, pensamos naqueles professores que tenham interesse em melhorar o aprendizado, as relações internas em sala de aula, mas não sabem como. O livro não é prescritivo, mas traz algumas dicas, por exemplo: saiba o nome dos seus alunos. Só o fato de chamá-los pelo nome já cria um tipo de vínculo. Um ambiente muito tenso pode melhorar se o professor conseguir perceber minimamente o que está acontecendo em sala de aula e não vir armado para uma situação. Mas é o professor quem vai ter de desmontar isso, nessa relação entre ele e os alunos. Não tem ninguém mais lá para ajudá-lo.
No livro, vocês defendem que a escola assuma algumas responsabilidades que, geralmente, são atribuídas à família. Por que isso é importante?
A primeira coisa que percebemos é que algumas famílias não estão preparadas para lidar com todos os aspectos dos seus filhos. Quem cuida muito bem de toda a parte emocional, em geral, é a família. Mas, especialmente crianças muito carentes e de história de vida problemática, muitas vezes não têm um grande amparo na família. Então, para elas não sobra ninguém mais do que a escola. Na formação dos professores e educadores há todo um discurso valorizando a formação integral, a integração dos aspectos emocional e intelectual, valores morais, etc., mas esse discurso vale até aparecer o primeiro problema em sala de aula. E aí o professor, e eventualmente a direção, diz ''isso não é problema nosso'', e ''se a família não conseguiu resolver isso, a gente também'', e busca dados na família para ver se pode estigmatizar a criança e justificar todas as dificuldades que ela esteja apresentando, em vez de cuidar dessa criança. Se ela não consegue encontrar coisas importantes como bons vínculos, uma relação sadia com a família, com quem ela vai poder estabelecer essas relações? Com pessoas da escola.
Como lidar com a excessiva atenção ao currículo, à consequente pressão dos processos seletivos, e ao mesmo tempo ser uma escola significativa?
Acho que esse conteudismo é ruim. Se a escola tivesse um pouco mais de tranquilidade para passar bons conteúdos, e tratar um pouco esse conteúdo da forma como o aluno possa absorvê-lo, enfim, criaria campos de aprendizado onde o aluno poderia referir esse conhecimento às suas próprias vivências. É isso que estamos chamando também de escola significativa. Esse conteúdo tem de ampliar e ao mesmo tempo transformar as formas de conteúdos. Para que esse ensino seja significativo, ele também tem de revirar de forma radical a forma de a criança pensar.
Qual a diferença da teoria de aprendizagem significativa de David Ausubel e o que vocês estão chamando de ensino significativo?
O ensino significativo não é aquele conhecimento que se relaciona com o conhecido ou com conceitos já obtidos, como no caso da teoria do Ausubel. Não negamos Ausubel, mas estamos discutindo a partir de um outro ponto de vista. É lógico que o aluno tem de ter uma base. Agora, não é o que se relaciona a uma base que faz sentido. É o que faz com que ele queira estudar, mesmo que ele tenha de construir as pontes para essa base.
Há algum método para desenvolver o ensino significativo?
Não. Conforme o professor faça uma leitura da sala e perceba como ela está, ele pode manejar uma série de técnicas, atividades.Porque, na verdade, a forma de o aluno entrar em contato com o conteúdo e fazer suas sínteses se dá de maneiras diferentes. A nossa cabeça não está predestinada a funcionar de uma única maneira, por isso que vários métodos têm tido sucessos e eles disputam entre si. Às vezes a sala gosta do professor, mas está mais agitada, querendo participar mais. Então, o professor tem de fazer essa leitura e, a partir disso, escolher sua atividade.
A questão da indisciplina e da violência é uma das grandes preocupações da escola atual. Para isso, vocês propõem o conceito de ''enquadre''. Você pode exemplificar?
Sabemos que as relações na escola são muito variadas e as condições muito diversas, então chamamos de enquadre o estabelecimento de condições ótimas para o desenvolvimento daquela atividade, com aquele professor. Cada professor pode estabelecer os conjuntos dessas condições que sejam mais afeitos ao tipo de atividade que ele vai desenvolver - seja dentro da sala de aula, seja fora - e ao mesmo tempo de acordo com a personalidade dele. Por exemplo: alguns professores se dão muito bem em aulas em que a classe pode fazer um pouco de barulho, mas em que ao mesmo tempo os alunos se conectam e se desconectam, falam com o colega e voltam a atenção ao professor, e isso - para esse professor e para a sala - pode ser muito produtivo. Ao mesmo tempo ele consegue chamar a atenção de um que esteja escapando demais. Outros não, precisam de uma sala um pouco mais silenciosa. Então, achamos que é possível ter diferentes aulas muito boas. Ou diferentes aulas que funcionam, tanto para o professor, quanto para o aluno.
Quem determina esses critérios é o professor?Ele pode estabelecer esses critérios, mas têm de funcionar.
Muitas escolas têm usado acordos normativos para estabelecer suas  regras disciplinares. Qual é a relação do enquadre e o estabelecimento de limites?
A escola está com uma obsessão de criar normas a priori. Parece que é uma coisa educativa, mas, no fundo, se está criando uma certa desconfiança da escola e do professor em relação ao aluno. Porque numa situação de namoro seria absurdo discutir as regras no primeiro dia, numa relação familiar também, e numa relação de escola isso parece normal? A escola está sinalizando ''eu só consigo estabelecer um trabalho com você se a gente acertar os pontos contratualmente e eu quero saber se você não vai me trazer problemas''.Ela tira a questão afetiva, a questão empática. Eu sei que isso é feito na melhor das intenções, mas essa é uma escola que, no fundo, teme o aluno. Ao contrário da norma, o enquadre não é prévio, é processual. Ele vai modelando as condições ótimas para o professor dar aula. Depois, vale para aquela turma de alunos. E para aquele professor. Além de tudo, o enquadre varia de acordo com as atividades. E o professor chama a atenção de um aluno que se desviou, não fala para todo mundo.
A escola foi significativa em algum outro momento histórico?
Eu acho que foi. No fundo, a mesma escola é mais ou menos significativa para mais ou menos alunos. O que propomos é a escola pensar se quer ser significativa  buscando mudar a vida desse aluno e provocando o seu interesse.

Ocho tesis sobre el neoliberalismo (1973-2013). José Francisco Puello-Socarrás

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Ocho tesis sobre el neoliberalismo (1973-2013)
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Desde que se anunciara su lanzamiento intelectual con la Sociedad Mont-Perélin más de medio
siglo atrás y cuatro décadas más tarde de su aplicación in situ a nivel global, se hace necesario
hacer un balance sobre el significado político económico y social-histórico sobre qué es y qué
significa el neo-liberalismo.

José Francisco Puello-Socarrás
A pesar que desde los primeros anos del nuevo milenio se vocifera el fin de la llamada Hegemonia Neoliberal, idea reforzada más recien-temente con ocasión de la Crisis global por la que atraviesa el capitalismo hoy y que las posturas neoliberales convencionales reinantes durante las últimas décadas del siglo pasado ciertamente han sido desacreditadas -afortunadamente no desde la teoria abstracta sino desde las realidades concretas-, el neoliberalismo continúa su curso buscando consolidar "nuevos" referentes, sin extralimitar en nin-gún momento su identidad ideológica fundamental. El actual trance crítico ha propiciado no sólo la reemergencia de discursividades (algunas de ellas) novedosas y alternativas sino también una reconfi-guración al interior del neoliberalismo -en general inadvertida- pero que viene gestándose a través de la recomposición de la hegemonia del proyecto neoliberal (su ideologia y prácticas) con el relevo de las posiciones ortodoxas, en su gran mayoría de inspiración leséferista (laissez-faire, laissez-passer, "dejar hacer, dejar pasar") activándose la renova-ción del ideario neoliberal a partir otras perspectivas igualmente neoliberales pero heterodoxas. Este sendero permitiría la reconstrucción del capitalismo neoliberal con el fin de enfrentar las vicisitudes que le plantean los nuevos tiempos y ante los cuales el extremismo ortodoxo no parece ofrecer ya res-puestas viables, sobre todo, desde el punto de vista político-económico. Este trabajo intenta proponer 8 tesis generales en perspectiva histórica que sinte-tizan cambios y rupturas en el neoliberalismo para allanar diagnósticos prospectivos en torno a su su-peración.

Pochmann: Estamos assistindo ao fim da imprensa como a conhecemos


"Parece que os jornais assumiram aquilo que eles criticavam da imprensa comunista”, sustenta o economista ao afirmar que os periódicos "escrevem para seus militantes”
"A sociedade está aprendendo a identificar o potencial da rede, que parece ser enorme”
Por Marcelo Hailer
Marcio Pochmann, economista e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudo Sindicais e de Economia do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), recebeu a reportagem da revista Fórum para conversar sobre o primeiro ano de sua gestão à frente da Fundação Perseu Abramo (FPA). Ele também falou sobre a cobertura política da imprensa e o papel das redes no ativismo.
Segundo Pochmann, a imprensa clássica não dialoga com a geração atual, mas apenas com "seus militantes”. O economista fez uma análise das manifestações de junho e afirma que não se pode fazer uma leitura dos atos tendo como referencial as organizações sociais do século XX. Confira a entrevista abaixo:
Fórum– O que você destacaria deste primeiro ano de sua gestão frente à Fundação Perseu Abramo?
Marcio Pochmann – A Fundação Perseu Abramo tem 17 anos de existência e tem reproduzido a evolução do PT ao longo desse período. 2013, de certa maneira, apresentou algumas conexões mais fortes em relação aos desafios que o partido vem vivendo e nós organizamos a Fundação para responder a três desafios que são centrais na perspectiva do Partido dos Trabalhadores.
Fórum–E quais são esses desafios?
Pochmann – O primeiro desafio foi buscar responder a questão a respeito do projeto petista de governo. O PT é governo em mais de 600 prefeituras, em vários estados, já é governo federal há mais de dez anos e, portanto, tem uma série de carências em relação ao próprio monitoramento das suas ações. Ao mesmo tempo, tem uma necessidade enorme de formação de quadros, de gestores, justamente para viabilizar o projeto petista de transformação da sociedade. Essa reconstrução do projeto em termos de ênfase, de método, de atuação é um dos aspectos que nos fez organizar a Fundação para responder a isso.
O segundo desafio que o PT enfrenta é em relação ao seu projeto para o país e, em última análise, para o mundo. O partido político, do ponto de vista da esquerda, tem essa visão mais ampla em relação ao mundo no que diz respeito à transformação da sociedade. E nesse aspecto a Fundação reuniu cerca de 400 estudiosos, professores, intelectuais de maneira geral, trabalhando em torno de 20 temas que, para nós, são definitivos do ponto de vista de um diálogo sobre o futuro do Brasil.
Fórum–O que estes estudos revelaram até o momento?
Pochmann – Há uma configuração de um novo federalismo no Brasil, um federalismo que não mais depende, na perspectiva do passado, de haver uma "locomotiva São Paulo”, com os demais Estados sendo vagões. Os estudos estão mostrando que temos um Brasil reconfigurado, que a dinâmica está mudando, que hoje nós temos novas elites, há uma reestruturação da sociedade. E como é que o partido está conectado com as grandes mudanças que tivemos na estrutura social? Somos um país que está envelhecendo, ou seja, uma crescente participação de pessoas com mais idade. Tivemos uma mobilidade social enorme no Brasil, fruto da geração de mais empregos, que permitiram à base da pirâmide social se recolocar no mercado de trabalho, mas grande parte dessas pessoas não foram para os sindicatos.Da mesma forma, tivemos mais de 1,5 milhão de jovens que ascenderam à universidade por intermédio do ProUni, mas não se envolveram com as instituições que representam os estudantes; tivemos quase 1,3 milhão de famílias que ascenderam à casa própria a partir do programa Minha Casa, Minha Vida, mas essas pessoas não se engajaram nas associações de bairro e de moradores.
Então, a nossa preocupação é conhecer melhor essa estrutura social para entender os seus desejos, os seus anseios e que medidas o partido precisa desenvolver. Fizemos uma série de debates e pesquisas sobre classes, drogas, reforma política, sobre a mídia. Agora, vamos fazer um debate sobre Estado Laico, sobre a questão das religiões, são vários temas quase que pontuais, mas com o objetivo de entender como conectar esse segmento com a política.
Fórum–Há uma tese de que estes jovens que ascenderam à universidade, as famílias que passaram a ter casa própria, são grupos não foram para os espaços políticos por que os partidos de esquerda esqueceram da sua base. Você concorda?
Pochmann – Temos duas hipóteses para explicar, pelo menos. Uma que é a crise da direção. Ou seja, a direção das instituições não está conectada com estes segmentos que estão ascendendo. A outra é que as instituições que nós não são contemporâneas a esses novos segmentos. Se é um problema de crise de direção, é mais fácil de mudar. E, até nesse sentido, o PT fez um grande debate neste semestre que envolveu meio milhão de participantes e também uma oxigenação na sua direção. Ele está contemporâneo a essa ascensão.
Agora, se de fato for um problema das instituições, aí a questão é muito mais grave. Particularmente, acredito que, de certa maneira, esses novos segmentos que ascenderam representam um fenômeno que ocorreu à margem das instituições que temos, não se envolveram muito com esses segmentos novos. Algumas interpretações são de que estes segmentos são muito conservadores, individualistas, que acreditam que o êxito de sua ascensão se deveu ao seu esforço individual. É natural que ocorra isso quando se trata de uma ascensão sem politização do ponto de vista da interpretação, da narrativa necessária a ser feita pra demonstrar que as pessoas ascenderam por que tiveram um salário mínimo maior e que foi necessário tomar uma decisão para ter um salário mínimo maior. Teve emprego porque houve decisões favoráveis ao investimento e a políticas de renda que integrassem as pessoas de baixa renda.
Fórum–Qual tem sido o papel da rede/ internet no embate no político?
Pochmann – O papel da rede não é, está sendo. É um processo de construção e essa construção é permeada de idas e vindas. A sociedade está aprendendo a identificar o potencial da rede, que parece ser enorme, e a forma como isso pode ser usado por um lado e pelo outro. A nossa preocupação em relação às mídias digitais é em torno da regulação, a construção de um marco civil.
Fórum–Você acredita na aprovação do Marco Civil com a neutralidade de rede?
Pochmann – Se não for pra isso, eu não sei qual é o sentido de ter um Marco Civil.
Fórum–E, falando em redes, nós tivemos as manifestações de junho, que foram organizadas, majoritariamente, pelas redes sociais. O que estas manifestações trouxeram?
Pochmann – As manifestações aqui são mais contemporâneas às questões ocidentais do ponto de vista da vida humana neste século e dizem respeito à revolução informacional e dos serviços. Nós estamos transitando de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços e, de maneira geral e heterogênea, as reclamações que levaram o povo às ruas eram questões relacionadas aos problemas de serviço: saúde, educação… A minha leitura é que se trata de serviços públicos: a saúde não funciona, a cidade não tem mobilidade. Se formos olhar do ponto de vista do consumidor, as maiores reclamações são direcionadas aos planos de saúde privada, para as empresas de transporte aéreo, para os bancos, então há um problema nos serviços para os quais não temos grandes respostas, a não ser a resposta derivada da forma de o Estado atuar que vem do século passado, que é trabalhar com caixinhas. O todo ainda é fatiado e as pessoas que foram para as ruas foram reclamar de tudo. Perdemos a capacidade de olhar o indivíduo na sua totalidade e o Estado ainda não teve a capacidade de entender isso.
Fórum–Muitos setores da política disseram que os atos eram despolitizados, não tinham um foco. Você concorda com essa crítica?
Pochmann – É uma crítica adequada para os movimentos sociais do século XX, que eram constituídos a partir de organizações existentes que articulavam os atos políticos. Esses movimentos (que atuaram nos atos de junho) são característicos do século XXI. Essas pessoas foram às ruas por que não acreditam nas instituições existentes e essa é uma explicação para a qual não tenho resposta, mas acredito que na política, onde não existe o tal do vácuo, em algum momento alguma instituição vai ter que assumir essa contemporaneidade.
Fórum–Recentemente, tivemos a descoberta da máfia dos fiscais a partir de uma investigação da atual gestão municipal de São Paulo. Posteriormente, a cobertura jornalística acabou misturando as responsabilidades da administração Haddad e da gestão Serra-Kassab. Como encarou essa cobertura?
Pochmann – É uma cobertura coerente com a forma de imprensa que temos no Brasil. Incoerente se ela tivesse dado uma certa imparcialidade, o que não aconteceu.
Trabalhei na gestão da Marta (2001-2004), é impressionante a presença da chamada grande imprensa. Encerrado o governo da Marta, iniciou-se outro governo e praticamente desapareceu. Quando tinha um problema na Secretaria de Transporte, a chamada era "O governo da Marta está com um problema assim…”, depois que mudou o governo era "Secretaria X…”, nunca estava vinculado ao prefeito. Na verdade, quando você define a pauta, já é uma coisa muito ideológica. Então, vejo com coerência, incoerência é a nossa de imaginar que a imprensa faria uma cobertura imparcial.
Fórum–Há 20 anos Perseu Abramo escreveu o ensaio "Padrões de Manipulação da grande imprensa” e lá ele já identifica a imprensa enquanto uma força política. Acredita que hoje vivemos isso de maneira aprofundada?
Pochmann – Parece que os jornais assumiram aquilo que eles criticavam da imprensa comunista. Você tinha o Pravda, que sempre tinha uma crítica ao capitalismo, ou seja, era um jornal que escrevia para os seus militantes. Os jornais que temos hoje também escrevem para os seus militantes, escrevem o que eles querem ouvir, e por isso esses jornais estão com dificuldades para ampliar o seu número de leitores, é por isso que os jovens não interagem com esses jornais. Mas eles têm um público cativo, e para manter esse público cativo ficam alimentando uma visão que é, a meu ver, insustentável, isso não tem futuro. Estamos assistindo ao fim desse tipo de imprensa. Está em construção uma outra imprensa, uma outra cobertura, que é a coisa digital e isso também está em construção.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

PREVIDÊNCIA - Setor urbano tem superávit de R$ 12,9 bilhões no acumulado de janeiro a novembro deste ano

26/12/2013 15:01

RGPSEm novembro, o setor urbano registrou a segunda melhor arrecadação da série histórica (desconsiderando os meses de dezembro, em que há incremento de receita em função do 13º salário): R$ 25,2 bilhões. Se comparada a novembro de 2012, houve crescimento de 8,4%. Já a despesa com pagamento de benefícios foi de R$ 22,8 bilhões – aumento de 4,3%, em relação a novembro de 2012 e de 3,9% na comparação com outubro de 2013. O crescimento na despesa pode ser explicado pelo último pagamento da metade do 13º salário dos beneficiários com renda mensal de até um salário mínimo. O gasto adicional foi de R$ 1,3 bilhão na clientela urbana.
O saldo entre arrecadação e despesa foi de R$ 2,4 bilhões – é o nono superávit do ano. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o resultado melhorou 73,9%. Os valores levam em conta o pagamento de sentenças judiciais e a Compensação Previdenciária (Comprev) entre o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e os regimes próprios de Previdência Social (RPPS) de estados e municípios.
No acumulado do ano (janeiro a novembro), o setor urbano registra superávit de R$ 12,9 bilhões – resultado de arrecadação de R$ 264,4 bilhões e despesa de R$ 251,6 bilhões.
Os números são do fluxo de caixa do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O resultado do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) é apresentado considerando as duas clientelas da Previdência: urbana (empregados, domésticos, contribuintes individuais, facultativos) e rural (empregados rurais, trabalhadores rurais que produzem em regime de economia familiar, pescador artesanal e índio que exerce atividade rural).
Rural – Em novembro, a arrecadação no setor rural foi de R$ 499,3 milhões. Se comparada a novembro do ano passado houve queda de 1,1%.  A despesa com o pagamento de benefícios rurais foi de R$ 7,9 bilhões – crescimento de 4% se comparada a novembro de 2012 e de 23,5% em relação a outubro deste ano. O crescimento na despesa pode ser explicado pelo último pagamento da metade do 13º salário dos beneficiários com renda mensal de até um salário mínimo. O gasto adicional foi de R$ 1,5 bilhão na clientela rural.
A diferença entre arrecadação e despesa gerou necessidade de financiamento para o setor rural de R$ 7,4 bilhões – 4,4% mais que no mesmo mês do ano passado.
Agregado – Considerando-se as duas clientelas (urbano e rural), o resultado de novembro de 2013 ficou negativo em R$ 5 bilhões – 12,3% menor que o registrado em novembro de 2012. A arrecadação do mês foi a segunda maior da série histórica (desconsiderados os meses de dezembro) e ficou em R$ 25,7 bilhões, com aumento de 8,2% em relação ao mesmo mês do ano passado. Já a despesa com pagamento de benefícios foi de R$ 30,7 bilhões.
No acumulado dos últimos 12 meses, a necessidade de financiamento está em R$ 49,4 bilhões – resultado de arrecadação de R$ 310,5 bilhões e despesas com benefícios de R$ 360 bilhões. 
Benefícios – Em novembro de 2013, a Previdência Social pagou 31,053 milhões de benefícios, sendo 26,880 milhões previdenciários e acidentários e, os demais, assistenciais. Houve elevação de 3,5% em comparação com o mesmo mês do ano passado, considerando os benefícios do Regime Geral. As aposentadorias somaram 17,5 milhões de benefícios.
 Valor médio real – O valor médio dos benefícios pagos pela Previdência, no período de janeiro a novembro de 2013, foi R$ 1.004,01 – crescimento de 16,8% em relação ao mesmo período de 2006.
A maior parte dos benefícios (69,3%) – incluídos os assistenciais – pagos em novembro de 2013 tinham valor de até um salário mínimo, contingente de 21,5 milhões de beneficiários. (Renata Brumano).
Informações para a Imprensa
(61) 2021-5109/5009
Ascom/MPS