O futebol que ainda é jogado nas ruas de alguns bairros da periferia de São Paulo reflete o quanto a cidade está deixando de ser um lugar de se permanecer e estar. Ao observar as “peladas” jogadas em algumas ruas da Vila Ré — na zona leste da cidade, no distrito da Penha — o geógrafo Glauco Roberto Gonçalves concluiu que a cidade “parece estar doente”.
Antonio Carlos Quinto
Antonio Carlos Quinto
As peladas praticadas nas ruas de bairros de São Paulo já foram mais efetivas
Ares do interior
As modalidades
O futebol nas ruas da Vila Ré é praticado principalmente pelas crianças. Gonçalves identificou grupos com idades entre 6, 7 e 8 anos, os que mais praticam. Outros grupos também são formados por garotos de 12, 14 e 15 anos. “Garotos com idade superior que venham a brincar nas peladas chegam a ser mal vistos pelos próprios moradores”, lembra. E as peladas acontecem com mais frequência nos finais de semana, principalmente aos domingos.
No futebol da rua há muitas semelhanças com o futebol que se pratica num campo. Mas há as diversas modalidades e brincadeiras. “É comum vermos a brincadeira de bobinho, onde os garotos fazem uma roda e tocam a bola um para o outro, enquanto o escolhido como bobinho tenta tomá-la”. Segundo Gonçalves, trata-se de uma atividade aplicada, inclusive, em treinos de futebol. Em outras brincadeiras, como o chamado “golzinho”, os garotos improvisam traves com pedaços de tijolos ou pedras, latas, etc. “Existem ainda as variações numéricas nos jogos. Por vezes 4 contra 4 ou 7 contra 7”, descreve o pesquisador.
Gonçalves explica ainda que o futebol de rua sempre existiu em paralelo ao futebol da várzea em São Paulo. Hoje, a especulação imobiliária eliminou muitos espaços da várzea, mas o futebol nas ruas ainda permanece, mesmo que restrito a alguns bairros periféricos. “Em bairros de classe média alta, a rua já é vista como um espaço perigoso e os pais não têm a segurança de permitir as peladas”, conta o pesquisador.
Outra constatação do geógrafo é que o futebol da rua é um dos principais componentes das principais características do jogador brasileiro, que é a improvisação. “Driblar o adversário, as calçadas, jogar no asfalto são situações que desenvolvem nos garotos habilidades que eles levarão para o campo”, avalia.
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