segunda-feira, 31 de março de 2014

Alimentos produzidos em assentamentos chegam a 60 mil estudantes em Uberlândia (MG)


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segunda-feira, Março 31, 2014 - 11:15
Foto: Eduardo Aigner
Escolas municipais de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, começaram a receber alimentos para a merenda escolar produzidos por 21 famílias dos projetos de assentamentos Emiliano Zapata e Canudos, criados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A aquisição dos produtos dos assentados pela prefeitura municipal está sendo feita por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), em um contrato que soma R$ 350 mil.
Foram entregues, nos últimos dias, no centro de distribuição da agricultura familiar da prefeitura, seis toneladas de produtos entre couve, berinjela, cheiro-verde, limão e melancia. De acordo com o contrato, ao longo do ano estão previstas entregas no total de 113 toneladas e 77 mil maços incluindo acelga e brócolis. Os hortifrutigranjeiros vão compor a merenda escolar de quase 60 mil crianças da rede municipal de ensino.
De acordo com o presidente da Associação Camponesa de Produção da Reforma Agrária do Município de Uberlândia (Acampra), Juarez Moura, os valores recebidos devem aumentar em 70% a renda de cada família, que pode superar os R$ 2,5 mil/mês. “Com a garantia de fornecimento, podemos planejar a produção do assentamento”, ressalta.
Satisfação
Para o agricultor, a satisfação é maior pelo destino dos produtos. “São crianças que irão comer esses alimentos, inclusive as minhas duas filhas, um público que precisa, o que nos dá ainda mais felicidade”, observa.
Com a Lei 11.957/2009, 30% dos recursos destinados à alimentação escolar devem ser destinados à aquisição direta de produtos da agricultura familiar, medida que estimula o desenvolvimento econômico e sustentável das comunidades.
*Com Informações do MST
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CERVEJA SEM ÁLCOOL NA TV, É LEGAL!

Podem empresários da indústria da bebida alcoólica e dos meios de comunicação, só pela projeção social que alcançaram, estarem eximes de crítica? 
Até quando a sociedade vai pagar pela prosperidade material dessas pessoas?
"O amor é a força mais abstrata e também a mais potente que há no mundo.
Só podemos vencer o adversário com o Amor, nunca com o ódio."
Gandhi.



O PROBLEMA:
A indústria da bebida alcoólica foi corresponsável nos últimos trinta e um anos por quase 700 mil mortes no Brasil, só no trânsito, considerando-se as 980 mil mortes ocorridas nesse período (Centro Brasileiro de Estudos Latino Americanos), combinadas com o fator álcool estar presente em 70% dos casos, mesmo sem configurar embriaguez (Portal do Trânsito Brasileiro).
E quantas mortes prematuras ocorreram pelo consumo do álcool, ou pela influência em assassinatos, inclusive familiares, ou suicídios, nos últimos trinta anos, numa prevalência de 12,3% de dependentes no Brasil segundo o Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas no País de 2005 (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas)?
Não bastassem as mortes, considerando o percentual nove vezes maior de feridos no trânsito (40 mil mortos para 376 mil feridos por ano - Portal do Trânsito Brasileiro), o número da corresponsabilidade da indústria da bebida alcoólica em relação aos feridos aproximou-se de 6,3 milhões.
Qual a corresponsabilidade dessa indústria no déficit previdenciário se apenas em acidentes de trânsito o governo gasta, em média, R$90.000,00 com vítima não fatal e R$550.000,00 em caso de morte, segundo dados do IPEA, gerando prejuízos materiais e morais, acumulantes e progressivos a cada ano, de R$10 bilhões anuais (Portal do Trânsito Brasileiro)?
E pelo absenteísmo devido ao álcool, responsável por 50% dos casos, e, portanto, de metade dos US$ 19 bilhões perdidos por ano pelo Brasil pelas faltas ao trabalho, de acordo com cálculos doBanco Interamericano do Desenvolvimento (BID)?
E o Judiciário transfere o problema de saúde pública do alcoolismo para os empresários, o que redunda, consequentemente, em mais encargos à Previdência Social.
O pior de tudo. O álcool é a porta de entrada das drogas mais pesadas, que assolam o país. Há um viciado em crack que não tenha inciado o vício da bebida alcoólica ou do tabaco? O que gera ainda mais encargos à Previdência Social e à sociedade, pois os afastamentos por auxílio-doença por drogas ilícitas superam em 8 vezes o por álcool e tabaco, aproximando-se de 125 mil em 2012, tendo gerado prejuízos, em 2011, de, no mínimo, R$107,5 milhões, segundo dados levantados pelo Ministério da Previdência.
É inaceitável!
OS REPONSÁVEIS:
Podemos vir a corrigir e ampliar a ordem dessa lista, mas, a princípio, são responsáveis pelo fomento dessa situação:
* Empresários da indústria da bebida alcoólica, especialmente Ambev, Heineken, Schincariol, Petrópolis, e outras que já possuem cerveja sem álcool e podem, hoje mesmo, anunciar apenas esse tipo de cerveja.
* Proprietários de meios de comunicação, que podem, hoje mesmo, anunciar apenas cerveja não alcoólica. Em especial a Rede Globo, que em 2013 teve um lucro de 2,583 bi, superior, por exemplo, a todo o faturamento da Rede Record.
* Setores econômicos, como o futebolístico (confederação, federações e clubes), que podem excluir a bebida alcoólica dos patrocínios.
* Classe política, que pode iniciar e dar andamento a projetos nesse sentido.
* Imprensa e classe publicitária, através de uma maior responsabilidade social e senso crítico.
* Cada um de nós da sociedade, apesar de vítimas ou vítimas em potencial, pela aceitação dessa situação.
PROPOSTAS:
Diferentemente da indústria do tabaco, para a qual não há níveis seguros para o consumo do seu produto, a indústria da bebida alcoólica, em especial as cervejarias, possuem uma mina de ouro não explorada: a cerveja sem álcool.
Propriamente, o termo cerveja já deveria ser utilizado para a sem álcool, merecendo, a antiga, o título de cerveja com álcool.
O gosto real de cerveja, na verdade, é encontrado nas cervejas sem álcool.
Isto posto, diferente da proibição total da cerveja na televisão, a mudança para a bebida sem o álcool demonstra-se prática e oportuna.
CONTRA-AGRUMENTOS:
Como já é conhecido do discurso dos que lucram com o prejuízo alheio, lembramos contra quaisquer contra-argumentos que estamos falando da vida e da saúde publica, e o que se propõe é a mudança do paradigma do consumo da cerveja com álcool para a cerveja sem álcool.
A Fifa, patrocinada por bebida alcoólica, é um péssimo exemplo, e países de perfil diferente do Brasil também não podem servir de contra-argumento.
Felizmente, publicitários de visão demonstram ganhos, na prática, em se voltar os olhos para aspectos saudáveis.
E quanto à velha alegação de que o que se anuncia é a marca, e não o produto, relembramos que é hora de se anunciar a cerveja sem álcool...
AÇÕES:
De experiências passadas, verifica-se que assim como algumas mudanças ocorrem apenas através de lei, como o fim da publicidade de cigarros na TV, outras, como a de que as propagandas não apelassem a animais simpáticos e bem-humorados, como tartaruguinhas ou caranguejos, com grande impacto principalmente entre o público jovem e crianças, foram resultado do acolhimento de um manifesto.
Assim sendo, iniciamos este manifesto para a mudança do paradigma da publicidade de cerveja na TV, de alcoólica para não alcoólica.
Este assunto é uma tragédia, e não podemos esperar que outras continuem ocorrendo!
Você precisa dizer a todos que sabe que este é um problema, que precisa ser corrigido, e que não quer mais pagar essa conta...
Obrigado!

domingo, 30 de março de 2014

Mercado de trabalho menos desigual em 2013

Os indicadores do mercado de trabalho de 2013 no

 Brasil apontam uma tendência positiva e uma melhoria 

da situação de ocupação, desemprego e renda.


José Carlos Peliano (*)
Arquivo

Em contraste com os analistas de plantão de boa parte da mídia brasileira, que dia a dia descrevem situações e condições preocupantes da economia do país, um olhar imparcial e limpo de impurezas ideológicas dos indicadores mostra uma realidade totalmente diferente inclusive em comparação com quadros semelhantes de outros quadrantes do mundo.

A tendência da mídia em qualquer área econômica segue à risca sua postura em outras áreas e não foge ao padrão convencional. Evita a todo custo apontar os bons resultados, relegando-os, e quando não  consegue escapar por ser muito evidente, minimiza o lado positivo e trata de indicar uma observação negativa, factual ou inventada, a qual invariavelmente maximiza.

Dados recentes saídos do forno do insuspeito órgão público Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), fornecidos pelo seu Boletim de Mercado de Trabalho, no. 56, de fevereiro deste ano, descrevem a situação prevalecente no país, mês a mês, em 2013. 

O conjunto da obra permite obter uma visão geral de tudo aquilo que não foi comentado pela grande mídia nacional. Ainda bem que apesar das críticas e maledicências dela, a caravana da economia brasileira passa e de cabeça erguida.

Começando pela taxa de atividade da população apta ao trabalho (ativa), que mede a disposição dos trabalhadores de irem procurar trabalho no mercado, o resultado de 2013 é praticamente o mesmo de 2012: enquanto este atingia 57,3%, aquele chegou a 57,1%. 

Os percentuais de 2012 e 2013 superam os observados nos anos anteriores (2012 e 2011). Assim, apesar das oscilações sazonais habituais em cada ano, não houve variação digna de nota na chamada população economicamente ativa nos dois últimos anos. Sinal de que não tem havido dificuldades na procura de trabalho pelo conjunto dos trabalhadores.

Mulheres e homens continuaram a ter praticamente as mesmas disposições ao trabalho, mantendo cada um suas participações anteriores. Pelos grupos de idade, os jovens de 18 a 24 anos tiveram ligeira queda na procura por trabalho e, por anos de estudo, foram aqueles de menor escolaridade os que obtiveram relativamente maior disposição de chegar ao mercado.

Por sua vez, as taxas de desemprego mantiveram-se quase idênticas entre 2012 e 2013, 5,5% e 5,4% respectivamente. Dados estes que confirmam a boa situação da economia brasileira como um todo em termos de cfriação e manutenção de postos de trabalho nos últimos anos. Ainda não foi a vez da crise internacional, que abala outras economias ao redor do mundo, que veio afetar os pilares e as vigas da nossa.

Tomando como referência a zona do euro e utilizando os dados disponíveis de janeiro de 2013 para comparação, somente Áustria e Alemanha registraram taxas menores, 4,9% e 5% respectivamente. Todas as outras economias apresentaram taxas superiores, destacando-se Espanha 25,8%, Portugal 15,3%, Itália 12,9%, Irlanda 11,9%, França 10,9% e Suécia 8,2%.

A performance segura da economia brasileira até aqui é referendada mesmo assim pelos dados de Áustria e Alemanha. As taxas brasileiras de 2012 e 2013 ficam em torno da mesma faixa das taxas daqueles países. As pequenas diferenças em pontos percentuais demonstram a condução favorável da política econômica no país e do impacto menor das rebarbas da crise através das transações comerciais e financeiras com o exterior.

E o desemprego baixo tem sido garantido por vagas no setor formal da economia. Os empregos sem carteira assinada e sem proteção social vêm caindo em proporção ao total nos últimos anos. Hoje em dia, para cada três empregos formais criados, 1 deles ainda é informal (33%) – em 2010 esta proporção estava em torno de 37%.

Já com relação aos rendimentos, o valor médio real alcançado em 2013 é superior a 2012 bem como aos obtidos nos dois anos anteriores subsequentes. O valor alcançado em novembro de 2013 em especial é o maior de todos os anos anteriores desde 2002, quando o levantamento começou a ser feito pelo IBGE.

O crescimento do rendimento médio real foi observado regionalmente para todas as áreas metropolitanas bem como para todas as posições na ocupação, destacando-se os trabalhadores da iniciativa privada com taxa de 2,9%; em seguida os trabalhadores por conta própria com 1,3% e os trabalhadores do setor público com 0,5%.

Em resumo, os indicadores do mercado de trabalho de 2013 no Brasil apontam uma tendência positiva e uma melhoria da situação de ocupação, desemprego e rendimentos reais. A combinação destes três componentes, aliados a maior participação dos trabalhadores com pouca escolaridade no mercado, sugerem também a continuação da redução da desigualdade de rendas, a qual vem sendo observada nos anos anteriores desde o início da década passada.

Mesmo que comentários desairosos continuem a rolar para o lado da economia brasileira empurrados pela turma do contra da grande mídia, dados como os apresentados acima não têm como serem questionados. Nem se comparados com as situações das demais economias. Resta falar mal de alguma estatística menos relevante ou agourar com alguma premissa falsa como bons urubólugos que são!


(*) Economista

Experiência espanhola prova: nem todas as classes sociais perdem com a crise


Questionar as grandes desigualdades econômicas

 não requer muita sofisticação: a liberdade de 

muitos está ameaçada pela riqueza de alguns.


Daniel Raventós, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Barcelona
EBC
Reino da Espanha: 5.896.300 estão desempregados, segundo o Questionário sobre a População Ativa (EPA em sua sigla inglesa) do último trimestre de 2013. Ou seja, a taxa de desemprego é de 26%. Uma taxa que mais que duplica entre as pessoas jovens menores de 25 anos: 55,6%. Quase três milhões de pessoas estão oficialmente desempregadas há mais de um ano, enquanto que 1,8 milhão de lares está com todos os seus membros desempregados. Embora conhecidas, poucas cifras podem descrever uma realidade social de modo mais breve e contundente.
 
A crise e as políticas econômicas colocadas em ação pelo governo do Reino da Espanha para combatê-la (sic) trouxeram, entre outras muitas consequências, um incremento impressionante nas desigualdades sociais.
 
Mais concretamente, de 2008 a 2012, o coeficiente Gini de desigualdade passou de 0,319 para 0,35, o que representa um aumento de quase 12%. Esse índice, vale recordar, vai de zero (distribuição de renda perfeitamente igualitária) a 1 (um ganha tudo e os demais, nada). Quanto mais próximo do zero, menos desigual a renda é repartida; quanto mais próximo de 1, maior é a desigualdade.
 
Um aumento de 12% nesse índice, em apenas 4 anos, é enorme. Para termos uma rápida noção comparativa, nenhum outro Estado da União Europeia sofreu um aumento tão grande nesse indicador no mesmo período. Algumas comparações: a Grécia sofreu aumento de 3,3%; a França, de 2,3%. E, em outros Estados, o índice até diminuiu: em Portugal (!), houve diminuição de 3,5%; na Alemanha, de 5,9%. A média na zona do Euro foi um pequeno aumento de 0,8%.
 
Podemos pensar em alguns divertimentos acadêmicos e fazer algumas perguntas sobre se "é moral que os especuladores dos mercados financeiros possam obrigar Estados inteiros e seus cidadãos a fazer cortes drásticos" [1]. Se, a título de diversão, pode-se pensar em perguntas assim, fazer teses de doutorado e publicar em revistas de maior ou menos prestígio acadêmico.
 
Mas, levando as coisas a sério, as grandes desigualdades econômicas não precisam de perguntas morais aparentemente sofisticadas. Essas desigualdades são um impedimento à liberdade da grande maioria. E, com os dados oficiais, uma conclusão se impõe: a crise econômica e as medidas de política econômica que foram adotadas para supostamente fazer frente a ela aumentaram as desigualdades. A grande maioria viu sua liberdade ainda mais ameaçada do que no início da crise. 
 
Outros poucos dados adicionais para continuar constatando o aumento das desigualdades: de 2008 a 2011, último ano que esse tipo de dados foi publicado pelo Banco da Espanha, as cifras sobre a renda média disponível nos lares do Reino são muito significativas. Em 2011, a renda média diminuiu 8,5% em relação a 2008. Mas, como está relacionada ao aumento do coeficiente Gini antes mencionado, essa diminuição média não foi igual para os distintos grupos de renda: todos perderam, exceto os 10% mais rico. Esse grupo, inclusive, melhorou sua renda média durante esse período de crise. Todos os demais grupos perderam, em maior ou menor proporção.
 
Outra realidade. A economia informal é muito grande. Segundo diferentes fontes, que não diferem significativamente nas porcentagens, a economia informal no ano de 2011 representou em torno de 26% do PIB no Reino da Espanha. Apenas a Grécia, com mais de 30%, supera essa grande proporção. A porcentagem de fraude fiscal que essa economia representa é da ordem de 22,5% do conjunto da arrecadação fiscal (ano de 2010), de mais de 70 bilhões.
 
E quem pratica maior fraude fiscal são os ricos. Um pequeno mas muito significativo exemplo: em um estudo [2] sobre o financiamento de uma renda básica para a Catalunha realizado a partir de mais de 200 mil declarações de IRPF de 2010, concluiu-se que a afirmação anterior vigorava de maneira gritante.
 
Partiu-se de três perfis de renda, pertencentes a funcionários docentes, como é o caso dos professores primários, dos da escola secundária e dos catedráticos das universidades, com um tempo de 12 anos de trabalho nos três casos, e cujas remunerações são públicas. Nesse estudo, observamos que o primeiro perfil citado teve em 2010 uma remuneração bruta anual de 32.500 euros, o que o situa na oitava camada da população ordenada pelos rendimentos do IRPF da Catalunha – isto é, entre os 20% mais ricos da população tributados no IRPF. O segundo caso, dos professores secundaristas, com renda em 2010 de 37 mil euros anuais brutos, se situa já dentro dos 10% mais ricos. Finalmente, um catedrático de universidade, com uma renda anual bruta em 2010 de 54 mil euros, faria parte dos 5% mais ricos. É preciso chamar a atenção para quão distorcida é a realidade que esses dados representam? Trata-se de apenas um exemplo, embora muito revelador, da tremenda fraude fiscal que os ricos praticam.
 
A liberdade de muitos está ameaçada pela riqueza de alguns poucos [3]. A crise e as medidas de política econômica que se colocaram em prática no Reino da Espanha em maio de 2010 [4]fomentaram ainda mais a liberdade da maioria rica.
________________
 
Tradução de Daniella Cambaúva.
 
Notas: 
[1] Markus Christen (2014): “Entre o ser e o dever ser (neurofisiologia das emoções e da moral)”, Mente e cérebro, núm. 65, p. 70. 
 
[2] Jordi Arcarons, Daniel Raventós e Lluís Torrens (2013): “Um modelo de financiamento da renda básica tecnicamente factível e politicamente não inerte”, SinPermiso. 
 
[3]  Daniel Raventós (2014): “A liberdade de todos ameaçada pela grande riqueza de 2.170”, Público. 
 
[4] Antoni Domènech, Alejandro Nadal, Gustavo Búster e Daniel Raventós (2010): “A UE e Zapatero se superam, ou quando os loucos são os guias dos cegos”, SinPermiso.
 
Daniel Raventós é professor da Faculdade de Economia e Empresa da Universidade de Barcelona, membro do Comitê de Redação SinPermiso e presidente da Rede Renda Básica. É membro do comitê científico da ATTAC. Seu último livro é: “O que é a Renda Básica? Perguntas (e respostas) mais frequentes” (El Viejo Topo, 2012).

O funil do mercado e a escola


O mercado afunila o conhecimento adquirido

 na escola, exigindo pouco do que foi aprendido,

 mas requer de cada um habilidade e competência 

específicas.


José Carlos Peliano (*)
Arquivo

Desde a infância ouvimos falar que a educação é tudo na vida não só para aprender a ler, escrever e se dar bem na sociedade como também para alcançar um bom lugar no trabalho e na carreira.

A dificuldade na conjugação de verbos, na acentuação de palavras ou em seus significados, a dor de cabeça na resolução dos problemas, na descoberta das incógnitas nas equações ou no entendimento das funções algébricas, a decoreba dos símbolos e fórmulas químicas, da descrição e funcionamento das características biológicas, enfim tudo isso era visto como necessário e fundamental para a obtenção de um seguro futuro profissional.

Mesmo que a gente viesse a usar bem pouco no futuro do que se aprendeu na escola, a justificativa clássica era de que teríamos de obter um conhecimento geral das matérias para que pudéssemos compreender melhor a realidade.

Não que hoje esse périplo não tenha mais importância ou não exista mais. Ele apenas mudou de perspectiva do ponto de vista do mundo do trabalho e por extensão das famílias. A escola parece ainda não ter percebido.

Antes o que se aprendia na escola servia para o trabalho, certamente não tudo, mas o essencial. Hoje, para a tarefa mais simples, o mercado pede da escola somente que o futuro trabalhador saiba ler e entender bem o que se lê para que se aplique sem dificuldade o que vai ser mostrado no ambiente de trabalho e daí para frente ser replicado.

Para as tarefas mais complexas exige-se o que se requer para a tarefa mais simples além dos conhecimentos específicos adicionais de cada modalidade de trabalho.  Em ambas as tarefas, no entanto, pede-se mais, o que não é via de regra ensinado na escola: pelo menos a habilidade de cada um aliada à competência adquirida ao longo da vida.

Assim, o mercado afunila o conhecimento adquirido na escola, exigindo pouco do que foi aprendido, mas requer de cada um a habilidade e a competência naquilo que pretende fazer no trabalho. 

Ainda bem que existe a escola pois, mesmo com os currículos desatualizados, o aluno sai com um conhecimento, ou deficiência dele, que lhe permite depois aprimorar e adequar à sua ansiedade de saber. Se seguíssemos apenas o que o mercado exige, com certeza seríamos um bando de autômatos bem adestrados, trabalhadores amorfos, paus para toda obra.

Mas vamos lá. Então, se a escola ensina as matérias básicas consideradas pilares de educação para a vida e se o mercado leva mais em conta a habilidade e a competência de cada um no desempenho do trabalho, por que esse descompasso? Ainda mais porque boa parte do que se aprende na escola não será nunca mais usado ou tomado como referencia para qualquer tipo de atividade, atitude, comportamento ou mesmo decisão.

O ajuste que escola e mercado deram nesse descompasso ao longo dos anos parece ter sido mais ou menos o seguinte: a escola “diz” ao mercado “eu ensino as matérias curriculares que servem como parâmetro para a minha aferição do desempenho educacional do aluno” e o mercado “responde” a escola “ok, faça isso que eu uso os certificados ou diplomas que você fornece como credencial para o meu aproveitamento para o trabalho do candidato”.

Assim, a educação acaba servindo como ajuste fino pelo mercado para a admissão ou não do candidato ao trabalho. Do 1o e 2o graus, seleciona-se em geral os melhores em matemática e português, mas deles aproveita-se aqueles com melhores habilidade e competência.

Não que o mercado nesses níveis esteja atrás de matemáticos ou especialistas na língua pátria mas deles sairão provavelmente, mas não necessariamente, os candidatos com melhor nível de entendimento, resolução de problemas e discernimento no manejo de situações.

Do mesmo modo, do ensino superior seleciona-se os que tiveram melhor aproveitamento nos cursos respectivos e afunila-se naqueles que têm mais habilidade e competência nas áreas pretendidas pelo mercado.

É claro que aqui, por exemplo, os candidatos a vagas nas áreas de economia deverão vir das faculdades de economia e não de biologia. Deverão ser aproveitados, no entanto, quase com toda certeza aqueles que, além do desempenho curricular, se saírem melhor nas entrevistas.

Há ainda critérios adicionais que são usados pelo mercado para apurar ainda mais a escolha final dos candidatos, os quais são focados nas entrevistas. Eles se abrigam nas características pessoais de cada um. Responsabilidade, espírito de grupo e liderança fazem parte do rol de critérios que pesam mais para alguns em detrimento de outros. Na saída do funil, por fim, ficam os escolhidos.

Claro que em toda regra há exceções, mas são tão poucas que não alteram o quadro geral até aqui apresentado. A maioria esmagadora das exceções retiram a escola do currículo e em seu lugar fica a escola da vida, ou seja, tudo o que se aprendeu como conhecimento tácito na execução diária de trabalho, observação, troca de ideias e experimentação.

Um bom exemplo de exceção. Conta-se que em Minas, minha saudosa terra, quando não se acha um engenheiro ou arquiteto para abrir uma estrada num morro, convoca-se um burro. Um burro? Sim, ele mesmo, o animal, solta-o para subir o morro e segue-se atrás. Por onde ele passar será o lugar ideal para ser aberta a estrada! A observação do homem da roça levou-o a esse achado.

Outra exceção talvez, as atividades universitárias, onde por certo uma maior parte do que se aprendeu no 1o e 2o graus será mais e melhor aproveitada. Quem para de estudar antes do 3o grau com certeza vai direto para o mercado procurar trabalho. Quem segue o estudo quer adquirir mais conhecimento para ser aplicado mais tarde ou na própria universidade ou em ocupações técnica ou cientificamente específicas.

A relação escola e trabalho é bastante abrangente e intrincada para que seja discutida amplamente num texto como este. O que se procurou aqui foi demonstrar mais de perto a grande diferença entre o que se ensina na escola e o que se aproveita no trabalho.

No mundo moderno os dois lados necessitam de ajustes. A escola, chegar mais perto das inclinações vocacionais dos alunos, reforçando matérias adequadas ao seu perfil em detrimento de outras. Isto leva com certeza a uma boa e ampla reforma educacional. Ao mercado, abrir mais espaço para a interação escola-empresa onde os alunos possam conhecer melhor o mundo em que irão trabalhar, seja por meio de cursos interativos, seja por meio de estágios integrados aos currículos.

Quem sabe as diferenças comecem a diminuir e não fazer mais tanto a diferença!


(*) Economista

As agriculturas do mundo e o negócio das sementes, fertilizantes e pesticidas


O percurso histórico de agravamento 

das desigualdades produtivas e 

da fome, no século XX, é coincidente 

com o da história das principais multinacionais.


Ricardo Vicente - Esquerda.net
Esquerda.net
Atualmente os discursos políticos e técnicos dominantes nas sociedades ocidentais condicionam brutalmente a opinião de qualquer cidadão sobre o que é hoje a agricultura no mundo. Propagam-se as ideias sobre os avanços tecnológicos da ciência e a sua facilidade de acesso: a mecanização, a comunicação, os processos de automatização, as ferramentas biotecnológicas, a obtenção de novas variedades, etc.
 
A sociedade absorve a ideia de que a população mundial é suportada por uma espécie de agricultura industrializada. Esta ideia é falsa, mas é sobre ela que se desenham e promovem políticas que são aplicadas local e globalmente. A agricultura é muito diversa e bastante desigual. Esta situação é fácil de constatar, não apenas comparando países “desenvolvidos” com países pobres mas também dentro de cada país.

Pensar e desenhar políticas agrícolas significa intervir sobre a vida de todos nós, mas em especial sobre a vida de uma grande fatia da população mundial que depende diretamente da agricultura enquanto atividade económica e de subsistência, cerca de 27% (FAO, 2010). Os dados da FAO relativos à população agrícola do ano 2010 mostram um globo onde a agricultura e a produção de alimentos andam a velocidades muito diferentes: 49% da população africana; 56% da África Central; 39% da Ásia; 47% da Ásia do sul; 16% da América Latina; 1,7% da América do Norte; 5,9% da Europa; 2% da Europa Central; 4,4% em Espanha; 10,3% em Portugal.

Segundo Mazoyer e Roudart (2001), 80% dos agricultores em África e 40 a 60% na América Latina e Ásia apenas dispõem de utensílios manuais e, entre estes, só 15 a 30% têm tração animal. Referem os mesmos autores que a diferença de produtividade do trabalho entre a agricultura manual menos produtiva do mundo e a agricultura motorizada e mecanizada mais produtiva, no espaço de um século (o séc. XX), passou de 1:10 para 1:500. No caso dos cereais, afirmam que um trabalhador isolado, na melhor situação, consegue produzir 2.000 toneladas, enquanto que, na pior situação, uma família produz apenas 1 tonelada, no espaço de um ano. Estas duas realidades encontram-se hoje, frequentemente, separadas não por um oceano mas por um muro ou vedação.

 
É sobre esta realidade desigual que se desenham acordos e políticas internacionais que interferem diretamente nas atividades agrícolas, mas é também neste quadro que atuam as diversas empresas multinacionais produtoras e distribuidoras de fatores de produção. Não por mero acaso, o percurso histórico de agravamento das desigualdades produtivas e da fome, no século XX, é coincidente com o da história das principais multinacionais que ainda hoje atuam no mercado mundial.

Foi no decorrer dos anos 60 e 70 que todo o processo se acelerou, com o surgimento crescente de variedades híbridas, adubos e pesticidas, possibilitando o melhoramento da relação semente-fertilizante e consequentemente o grande aumento das produções. Este processo ficou historicamente conhecido por revolução verde. Nos países e regiões mais pobres, onde eram maiores os riscos de fome consequentes do aumento da população e da fraca capacidade produtiva dos sistemas agrários, as consequências foram desastrosas. A maioria dos novos saberes e tecnologias não chegaram aos agricultores locais e as poucas que chegaram retiraram-lhes a autonomia, criando dependências entre agricultores e empresas fornecedoras de fatores. Na história destas empresas abundam as situações fraudulentas que provocaram a destruição de recursos endógenos e criaram dependências dos seus negócios. Surgiram diferenciais de produtividade brutais com a entrada em funcionamento de unidades produtivas modernas, os preços dos alimentos caíram, muitos agricultores abandonaram a atividade, destruíram-se redes de distribuição locais e surgiram novas dependências alimentares que espalharam a fome e o desespero. Iniciou-se uma mudança de paradigma, passou a haver produção de alimentos suficiente para alimentar a população mas a fome agravou-se devido à impossibilidade de acesso aos alimentos.
 

Todas as atuais principais empresas de produção e distribuição de sementes, adubos e pesticidas têm um histórico de atividade que iniciou antes ou durante a revolução verde e quase todas já tiveram reestruturações decorrentes da fusão com outras empresas. Há quase um século que atuam numa área de atividade onde o negócio é garantido e ainda não parou de crescer. Se analisarmos as suas histórias, facilmente constatamos que os seus negócios cresceram sem regras nem princípios, ao lado dos interesses financeiros e políticos das maiores potencias mundiais.

Alguns fatos históricos sobre as principais empresas multinacionais que operam no mercado se sementes, pesticidas e adubos:

Monsanto:

Surge em 1901 com a produção de sacarina. Produz vários equipamentos para a 2ª guerra mundial; em 1945 entra no negócio dos pesticidas; em 1960 é uma das principais produtoras de agente laranja, herbicida com efeito desfolhante aplicado na guerra do Vietname e que provocou sequelas brutais nos soldados e na população local; em 1964 lança o primeiro herbicida seletivo pré-emergência para a cultura do milho.

Syngenta:

Surge apenas em 1999, mas resultou de uma fusão empresarial onde se destacava a Geigy, que se fundou em 1935 e produzia inseticidas; em 1974 entrou no negócio das sementes.

Bayer:

Surge em 1863 como produtora de corantes e mais tarde dedica-se à indústria farmacêutica. Prestou serviços à Alemanha de produção de equipamentos necessários às duas guerras mundiais; Em 1956, Fritz ter Meer, depois de sete anos de prisão consequentes de colaboração em ensaios em seres humanos e tráfego de escravos provenientes de um campo de concentração em Aushwitz, foi nomeado presidente do conselho de supervisão da Bayer.

DuPont:

Iniciou em 1802 com a produção de pólvora; Produziu equipamentos para as duas guerras mundiais; Em 1943 participa no Manhattan Project e no desenvolvimento de uma bomba nuclear; Entre 1997 e 1999 comprou absorveu a empresa Pioneer, uma das maiores empresas que atuava no mercado mundial de sementes (desde 1926), altura em que lançou o primeiro milho híbrido comercializado. Em 1960 lança o inseticida Lanate.

Limagrain:

Surge em 1942 com a produção e venda de sementes.

BASF:

Fundada em 1865 iniciou atividade com a produção de corantes. Em 1913 sintetizaram amónio pela primeira vez. Produziram diversos equipamentos para as duas guerras mundiais. Em 1949 lançam um novo negócio com o herbicida U46.

DOW:

Foi criada em 1897 com um negócio de venda de descolorantes e sais. Forneceu materiais diversos para as duas guerras mundiais; nas primeiras duas décadas do século XX assumiu-se como um dos maiores produtores de pesticidas; entre 1951 e 1975 desenvolveu armas nucleares; entre 1965 e 1969 forneceu napalm e agente laranja para a guerra do Vietname.

Potash Corp

O histórico da empresa remonta a 1975, quando o Governo de Saskatchewan, Canadá, decidiu nacionalizar e agrupar o negócio de um conjunto de empresas estratégicas que operavam pelo menos desde 1950 na extração e venda de potássio e derivados. Em 1989 o grupo foi privatizado.

Mosaic Company

Foi lançada em 2004, nos Estados Unidos, e resultou da fusão de duas empresas, a Cargill e a IMC-Global que tinha histórico de atividade desde 1909.

Yara

Fundada em 1905, 10 anos depois, durante a primeira guerra mundial, fornecia nitratos de cálcio e de amónio à Alemanha e aos Aliados.

OCP Group

Formado em 1920, em Marrocos, na extração e comercialização de fósforo e derivados.
 
(*) Ricardo Vicente é engenheiro agrônomo. Publicado em Esquerda.net