A PRESIDÊNCIA da República acaba de divulgar um novo programa de governo. A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) revelou que uma de suas prioridades será o “Vozes da Classe Média”, um conjunto de medidas que pretendem ser a base das políticas públicas para esse setor de nossa sociedade. Em tese, tudo parece correto e adequado. Porém, nos detalhes daquilo que passa a ganhar destaque nas páginas dos grandes órgãos de imprensa, a realidade é bem mais complicada do que aparenta.
Paulo Kliass
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Aparentemente, o objetivo do governo é vender a ilusão de que as políticas de transferência de renda transformaram o Brasil de forma radical. “Não, não somos mais um país com elevado grau de pobreza e bolsões de miséria. Não somos mais um país marcado pela injustiça e pela desigualdade. Agora somos um país de classe média”. De acordo com o programa Vozes da Classe Média, mais de 53% de nossa população pertencem a essa nova camada social. Seriam 104 milhões de pessoas.
Ao invés de vender a enganação de uma falsa ascensão social generalizada, o governo deveria é se preocupar em resolver as graves questões sociais que afligem a grande maioria de nosso povo. Isso implica mudar a orientação de corte de recursos e liberar verbas orçamentárias para programas públicos essenciais na área de saúde, educação, saneamento e outros. Mas a opção tem sido a de promover benesses para favorecer o grande capital, por meio de subsídios, concessões e isenção de impostos. E enquanto isso, tenta convencer o povo pobre de que – agora sim – ele pode se orgulhar de fazer parte da classe média.
Paulo Kliass é doutor em economia pela Universidade de Paris 10 (Nanterre) e integrante da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental, do governo federal.
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