segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O moço compra o café da moça



Por Josiane Cotrim Macieira
postado em 26/11/2012

Ela costuma brincar que é capaz de atravessar um rio com um punhado de sal na mão sem que ele se dissolva. Portanto, ninguém melhor que Daniella Pelosini para ocupar o cargo de tesoureira da Aliança Internacional das Mulheres do Café-IWCA Brasil. Brincadeiras à parte, o fato é que economia e planejamento são elementos levados a sério na administração dessa cafeicultora de Pardinho, região Centro-Oeste Paulista, que acaba de ganhar o segundo lugar no 11° Concurso Estadual de Qualidade de Café de São Paulo na categoria cereja descascado.

No leilão que seguiu a cerimônia ocorrida no Salão do Pregão do Museu do Café em Santos, na tarde do dia 13 de novembro, o Café do Moço, do carioca Léo Moço, foi o campeão na Categoria Diamante por realizar o maior investimento pagando R$ 930,00 por cada uma das 8 sacas do premiado café da Daniella. E o barista avisa que o "delicioso café" vai estar disponível por todo Brasil em breve, não só no Rio, mas também São Paulo, Curitiba e Nordeste depois do lançamento da 10.ª Edição Especial dos Melhores Cafés de São Paulo dia 17 de dezembro no Palácio Bandeirantes.




A presença de Daniella na sede do governo do estado é muito significativa. Ela é um exemplo de resistência em uma região que já teve no café uma atividade de grande importância no passado. Daniella integra um grupo seleto de produtores de café que resiste enquanto muitos desistem. Ela estará representando muitas mulheres do negócio café de todo o Brasil. Mulheres que acompanham sua trajetória e vibram com o reconhecimento de seu trabalho e que desejam aprender com ela a produzir café de qualidade.

Daniella entrou para a cafeicultura há pouco mais de 10 anos depois de ter se dedicado à pecuária leiteira. O sítio Daniella, nome da propriedade a 3 quilômetros de Pardinho e 200 de São Paulo, possui 40 hectares de café das variedades catuaí vermelho e amarelo. A safra deste ano foi de 1380 sacas e a produtividade de 34,5 sacas por hectare. "Temos diversos espaçamentos sendo que os talhões mais recentes foram implantados com 3,5 metros por 70 cm. Assim conseguimos mecanizar os tratamentos e até a colheita, se desejarmos" explica Daniella, com autoridade de quem entende do riscado e tem visão de futuro.

A colheita é, no entanto, toda feita manualmente e este ano começou bem tarde, em meados de agosto. Foram contratados 44 safristas - como se diz na região - vindos de Minas e o café foi todo colhido em 45 dias uma vez que não teve nem um só dia de chuva durante a panha, comemora Daniella. Afinal tempo é dinheiro.

Mas não vamos confundir ser econômica com ser mesquinha. O currículo de Daniella inclui o trabalho voluntário de quase de 10 anos na administração da Casa do Idoso de Pardinho e também em creches da região. E não é por nada que sua equipe trabalha há mais de 20 anos na propriedade. Ano passado, em meio à renovação da via úmida, Daniella se preocupou em reformar o alojamento e comprou colchões e camas novas para os safristas. "Afinal, depois de um dia inteiro de trabalho, eles merecem descansar as costas num colchão decente, né não?" argumenta. E quando se soube que seria necessário pagar honorários para um advogado para se cumprir os trâmites burocráticos para que a IWCA Brasil fosse criada, Daniella foi quem abriu a bolsa e pagou sem pestanejar as custas advocatícias.




Essa preocupação com o coletivo sempre foi uma constante na vida de Daniella que motivada pela vontade de fazer alguma coisa para melhorar o mundo à sua volta chegou a se candidatar à prefeitura de Pardinho em 2004. "Não ganhamos, mas fizemos uma campanha bonita com propostas novas" lembra Daniella que diz ter aprendido muito com a experiência.

Ao ouvir falar do encontro das mulheres do café em São Paulo no 6° Espaço Café Brasil ano passado ela não hesitou em participar. "Tenho simpatia imediata por tudo que se refere à união de mulheres. Acredito que nós somos muito competentes em absolutamente qualquer área de trabalho e nossas maiores virtudes são a insistência, perseverança, força de vontade e foco. Além de sermos capazes de fazermos diversas coisas ao mesmo tempo", analisa.

Daniella se comprometeu com a causa da Aliança das Mulheres do Café com a seriedade que lhe é característica. "Quando participei do primeiro encontro no 6° Espaço Café Brasil ano passado em São Paulo, eu percebi que eu tinha obrigação de fazer parte do grupo pois estou praticamente ilhada na minha região que foi muito forte no café mas que hoje perdeu quase todo espaço para a cana de açúcar e eucalipto".

Desde então, tem viajado por várias regiões do Brasil para divulgar a Aliança das Mulheres do Café. E, a fim de entender melhor essa organização global que começou há quase dez anos na Nicarágua ela fez questão de ir visitar as mulheres que inspiraram a criação dessa entidade que está se espalhando por países produtores de todo mundo. Em Jinotega, departamento do norte da Nicarágua ela se encontrou com Fátima Ismael presidente da Alianza de Mujeres en Café e outras produtoras nicaraguenses com as quais trocou informações e experiências.




Para 2013, muitos planos a serem avaliados. Entre eles a instalação de uma sala de torra no sítio. O torrador já foi adquirido e os trâmites com a Vigilância Sanitária estão em andamento. Daniella imagina um local onde produtores da região poderão participar de treinamentos e workshops sobre caféicultura. "Além de tomar um bom café, colhido e torrado da forma correta, claro" diz ela.

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