sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O Natal pode ser...



 
Selvino Heck
Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República
Adital
O encontro de velhos amigos/as, companheiras/as que, fazia tempo, não tocavam seus rostos, não cruzavam seus olhares, não se amavam.
A poesia e suas palavras, a poesia e seus verbos, a poesia e seus espantos, a poesia e seu eterno retorno ao que mais vale a pena.
O nascimento cotidiano e permanente dizendo de seus milagres, expressando na ciranda da educação popular seu sentimento de mundo.
O ser gente e seus risos, o encantamento de seus gestos e frases, o toque de seus cabelos com a leveza da brisa, o beijo e sua gostosura.
O caminho que nunca foi feito, a trilha que jamais foi percorrida, o ar fresco das montanhas a invadir os bosques, a pele, os poros, as veias.
O ser diferente e suas belezas, a biodiversidade de jeitos e matizes, o colorido brilho dos amores possíveis e impossíveis, a ternura de ser e gostar-se de qualquer jeito ou do jeito que se é.
A vida que sopra com intensidade, igual manada de ovelhas correndo nos campos, ou flores brotando no deserto, na caatinga, no cerrado e nos imensos pastos do pampa.
A luz e suas contradições, a claridade a ferir os tímpanos, a transparência nas profundezas da alma em chamas, sem vergonha de ser tri feliz.
A criança e seus passos tímidos, seus gestos simples e óbvios, a sinceridade sem limites, a candura de quem pode pedir tudo e ser alegre e triste ao mesmo tempo e ressurgir em seguida como se nada tivesse acontecido.
O jovem e seus titubeios, sua ansiosa busca, seus sentimentos em preparo, os passos incertos e imaturos, a verdade começando a aparecer, as brotoejas como marcas e feridas.
O novo homem, a nova mulher, revestidos de todas as virtudes do ser humano, despidos de preconceitos e vaidades, encarregados de entender os silêncios e carregar todos os sofrimentos, a chance de dançar o que nunca foi dançado, a oportunidade de arriscar e comover.
O idoso e sua experiência, a sabedoria de esperar o que virá sem ansiedade, de expressar o choro e o riso, de sustentar as causas do mundo, de ver o sol no ocaso da tarde, de esperar a noite para dormir definitivamente.
A natureza, os animais, as plantas em festa, como se a chuva caísse devagar, aos poucos, pingo por pingo, a água saboreada em sua frescura e vigor, inteireza e simplicidade.
A esperança do novo e do futuro, a certeza do amanhã sem pressa, mas com muita pressa, a democracia com participação popular, a cantata das coisas que não apodrecem, dos vitrais das igrejas que brilham eternamente.
A parceria de fazer o brinquedo posto a serviço de todas e todos, especialmente pobres e trabalhadores, de tecer o tapete onde os pés vão pisar como se pisassem no céu estrelado, de construir juntos, coletivamente, a rede de sonhar, de esmagar as uvas para os melhores vinhos, de fazer do mel a doçura do amor e do prazer.
O encontro da vida e do tempo, da grama sem cercas nem aramados, das casas de portas abertas, dos abraços fortes e apertados.
A voz que canta o amanhecer e o final da tarde, e não deixa de entoar o hino da ternura, e não permite desafinações, e faz do encanto o último suspiro.
A voz dos que não tinham voz e vez e agora as têm, inteiras, lúcidas, para gritar ao vento sua liberdade, e entoar sua consciência e solidariedade.
As canções de ninar e adormecer, os gemidos de dor e a intensidade dos pássaros, o céu e as nuvens fazendo sombra aos insetos vivos, a melodia embalando sambas e tangos, vanerões e forrós, cansaços e invernos.
As casas como abrigos de pedra ou cavernas para hibernar, ou segurança de estar em boa companhia, ou abrigo de peixes e pintassilgos, plátanos e goiabeiras, galpão onde se guardam as boas sementes e os frutos doces da primavera.
Nada como estar em família, nada como estar em paz consigo mesmo e com os seus, nada como participar de uma comunidade, para dar sentido ao espírito de Natal. É hora de felicidade e alegria. É hora de renovação de compromissos. É hora de paz. FELIZ NATAL A TODAS E TODOS! Que a bênção da vida se espalhe pelos lares e comunidades. Que a justiça e a igualdade sigam os passos de homens e mulheres, árvores e bichos. Que os ventos do sul soprem e protejam. Que a vida nasça sempre e sempre, revigore corpos e mentes, seja luz, seja sonho e utopia.
Em vinte e um de dezembro de dois mil e doze.

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