segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Tentando entender nulos, brancos e abstenções


Apressado falar em insatisfação generalizada e crescente com os políticos. O que se percebe é que nas grandes cidades há, de fato, distanciamento do Legislativo

Jairo Nicolau
Diversos analistas destacaram o crescimento das taxas da abstenção, votos em branco e nulos nas eleições municipais deste ano.
Alguns chegaram a somar as três taxas para mostrar que o número de eleitores que não votou em um dos candidatos chegou a ultrapassar a votação de nomes importantes. Por exemplo, na cidade de São Paulo o total de eleitores que não foi votar, anulou ou apertou a tecla "em branco" chegou a 2,49 milhões (31% do total), número superior à votação obtida por José Serra (1,88 milhões de votos), o candidato mais votado.
Como sempre acontece, o passo seguinte foi o de apresentar as razões para o crescimento do contingente de eleitores que não votou em nenhum dos partidos ou candidatos.
Os dados revelariam a insatisfação da população com os políticos, com a corrupção generalizada e com a obrigatoriedade do voto.
Com a divulgação dos resultados oficiais, é possível analisar os dados com mais cuidado.
Comecemos com a abstenção. Nas eleições de 2008, a taxa média de abstenção dos municípios brasileiros chegou a 12%. Neste ano, a média foi de 14%. Ou seja, o crescimento foi muito pequeno.
O que chama a atenção é a enorme variabilidade do comparecimento às urnas. O que explica que 18,5% dos paulistanos não tenham comparecido, enquanto que em Frei Paulo (Sergipe) a abstenção foi de apenas 4,5%?
A taxa de abstenção é influenciada por uma série de fatores, muitos deles não estão diretamente associados ao protesto político. Muitos cidadãos mudam de cidade, mas não se alistam em um novo domicílio. Há também a presteza da Justiça Eleitoral em retirar os mortos da listagem. Não é coincidência que cidades que fizeram um recadastramento completo do seu eleitorado tendem a ter uma taxa de abstenção muito menor.
Quanto aos votos nulos e em branco, é importante observar separadamente os dados das disputas para prefeituras dos das Câmaras Municipais. Nas eleições de 2012, a taxa média de votos em branco e nulos foi de 8,5% (prefeito) e 4,5% (vereador). Números praticamente idênticos aos valores das eleições de 2008: 9% (prefeito) e 5% (vereador). É interessante lembrar que em 2012 muitos candidatos considerados "ficha suja" mantiveram-se na disputa e tiveram seu votos contados como nulos.
Se por um lado há estabilidade, por outro o que chama a atenção é o alto contingente de brancos e nulos nas quatro maiores cidades do país. Os números são bem mais altos do que a média nacional.
Os percentuais foram significativos em São Paulo (19% para vereador; 13% para prefeito), Rio de Janeiro (17%; 14%), Belo Horizonte (17%; 15%) e Salvador (14%; 14%). O que intriga é que mesmo com eleições altamente disputadas para prefeito nestas cidades (a exceção é o Rio de Janeiro), mais de 10% dos eleitores que foram às urnas anularam e deixaram os votos em branco.
Estes números são realmente altos e precisam ser estudados com mais calma. Será que existe alguma diferença entre as áreas mais pobres e ricas das cidades? Por que mesmo com milhares de candidatos concorrendo às Câmaras Municipais nestas cidades, o total de eleitores que preferem anular ou deixar o voto em branco tem aumentado?
No quadro geral dos municípios brasileiros, não existem mudanças significativas quando comparamos o percentual de abstenção, brancos e nulos de 2012, com as eleições anteriores. Mas é preocupante que as taxas de votos brancos e nulos estejam tão altas (e tenham subido) em importantes cidades brasileiras. Pelo menos nestas cidades, os sinais de distanciamento dos eleitores em relação ao Legislativo são inequívocos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário