A instituição que foi fundada pelos psicólogos colombianos Emilia e Buenaventura Fontán, no fim da década de 80, em um modelo experimental, faz parte hoje do Super Mentor Schools, seleto grupo de escolas mais inovadoras do mundo criado pela Microsoft.
Vagner de Alencar
Vagner de Alencar
O projeto começou em 1957, na Colômbia, com os meus pais, que eram psicólogos catalães. Na época, eles abriram um consultório de psicologia do aprendizado. As crianças iam para lá e meus pais as ajudavam a resolver seus problemas de aprendizagem. Chegou um momento em que os estudantes não queriam mais voltar à escola e preferiam ficar no consultório. Lá, eles trabalhavam os conteúdos autonomamente e, como forma de validação dos estudos escreviam, uma espécie de relatório, mostrando o que haviam aprendido. Já nos anos 1970, os alunos passaram realmente a estudar no consultório e abandonaram a escola.
Como o modelo passou a ser reconhecido pelo Ministério de Educação?
Nos anos 80, o Ministério de Educação visitou o consultório para conhecer o que estávamos fazendo já que apenas 26% dos alunos do país eram aprovados nos testes nacionais de avaliação de desempenho, enquanto os estudantes do consultório alcançavam 98% de aprovação. O MEC passou a acompanhar nossas metodologias e os especialistas ficaram encantados com o sistema. Em 1987, o ministério reconheceu o modelo como “primeira instituição de inovação educativa da Colômbia”. A metodologia chegou inclusive a inspirar algumas diretrizes do ministério.
O que é preciso para que essas escolas, de fato, se tornem inovadoras?
Como as crianças desenvolvem o autodidatismo?
O que as escolas precisam para implantar um modelo como o Fontán?
Primeiro, é preciso que os professores percam o medo. Os educadores estão cômodos: vão dar aulas, terminam e voltam para casa. As crianças vão mal porque o problema é sempre delas. Elas precisam se adaptar ao currículo e, se não conseguem, têm problemas, precisam ser levadas ao psicólogo, a professores particulares. A realidade é que todos os alunos são diferentes. O problema não é deles. Um estudante com síndrome de down, por exemplo, se tiver o que precisa dentro de sua realidade, será uma criança feliz e produtiva na escola. Ele não tem um problema, mas uma diferença. O problema somos nós quem criamos, nós que não damos o que ela precisa.
Como deve ser então um modelo de ensino ideal para potencializar as habilidades de cada estudante?
Uma das tragédias da educação é que o desenvolvimento intelectual funciona muito mal. Os educadores querem simplesmente ensinar um conteúdo e fazer com que os alunos, impostamente, o aprendam. Não importa quem seja a criança, o que gosta ela quer ser, o que está passando. O sistema educativo já impõe as metas, quando é preciso que cada criança construa a sua. O ideal é fazer com que professor e aluno possam planejar, construindo minuto a minuto, o que tem que fazer. Muitas vezes, os alunos não têm senso de realidade e são excluídos da tomada de decisão sobre seu processo educativo; simplesmente fazem coisas prontas. Isso acaba não gerando um sentido de responsabilidade. A posição que o sistema impõe às crianças é sumariamente aversiva. Não permite que eles desenvolvam o que têm de desenvolver para poder encarar o mundo.
Como você avalia o papel da tecnologia no processo de aprendizado dos estudantes?
A questão mais importante não é como a tecnologia transforma a pedagogia, mas como a pedagogia usa tecnologia como ferramenta. Temos à nossa disposição muitas informações oriundas da internet e precisamos usá-las para não perdê-las. No caso do nosso modelo, que usa uma metodologia chamada Serf (Sistema Educativo Relacional Fontán), centrada na realidade de cada estudante e em que cada um deles tem um projeto educativo pessoal, a tecnologia é indispensável para que eles possam montar e trabalhar seus currículos.
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