terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Contra crise, Dilma e Hollande defendem via do crescimento


Contra crise, Dilma e Hollande defendem via do crescimento

França e Brasil uniram suas vozes em uma mesma reivindicação dirigida à Alemanha para que a chanceler Angela Merkel mude a direção de sua política e aposte no crescimento ao invés de no rigor e na austeridade. A presidenta brasileira entrou em cheio na crise que atinge as economias europeias e criticou abertamente as políticas de austeridade que, afirmou, são responsáveis pelo agravamento da recessão nos países do sul da Europa. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.

Paris - França e Brasil uniram suas vozes em uma mesma reivindicação dirigida à Alemanha para que a chanceler Angela Merkel mude a direção de sua política e aposte no crescimento ao invés de no rigor e na austeridade. No primeiro dia da visita oficial à França da presidenta Dilma Rousseff, a mandatária brasileira abriu junto com seu colega francês, François Hollande, o fórum internacional para o “progresso social”, organizado conjuntamente pelo Instituto Lula e pela Fundação Jean Jaurés. Sob o lema “Escolher o crescimento, sair da crise”, esse fórum que reúne personalidades do mundo inteiro serviu de marco para o início da visita da presidenta Dilma Roussef, na qual Paris e Brasília reforçarão suas já sólidas relações bilaterais com novos acordos.

Os meios de comunicação franceses apostam em um progresso substancial na resolução final da possível compra pelo Brasil de 36 aviões de combate Rafale, cuja aquisição está bloqueada há anos. Nas primeiras horas da estada da presidenta Dilma em Paris, a convergência de pontos de vista com paris ficou manifesta. Durante os trabalhos iniciais do fórum, Hollande e Dilma defenderam juntos “uma nova governabilidade da globalização”, ao mesmo tempo em que apontaram seus dardos para Berlim: os dois chefes de Estado interpelaram a Alemanha para que modifique sua estratégia de rigor e corrija os excedentes comerciais gigantescos que empobrecem seus vizinhos.

A presidenta brasileira entrou em cheio na crise que atinge as economias europeias e criticou abertamente as políticas de austeridade que, afirmou, são responsáveis pelo agravamento da recessão no sul da Europa. Dilma foi ainda mais longe quando pleiteou uma visão “maximalista” sobre o papel a ser desempenhado pelo controverso Banco Central Europeu (BCE). Em total sintonia com a França, Dilma defendeu uma verdadeira “união bancária na Europa” e um princípio apoiado pela França, mas rejeitado pela Alemanha: A emissão, pelo Banco Central Europeu, de obrigações comuns a todos os membros. A líder brasileira somou sua voz a de François Hollande para que se adote um duplo perfil na metodologia de controle da crise: austeridade fiscal e incentivos ao crescimento. Ambas, disse Dilma, são “imprescindíveis”.

Neste contexto, a presidenta saudou o “caminho claro” adotado por François Hollande em seu duplo enfoque da solução da crise mediante os ajustes orçamentários e medidas em favor do crescimento. Também lembrou que, no Brasil, “a recessão econômica e a desordem fiscal tiveram consequências políticas e sociais muito sérias”. Olhando outra vez para a Alemanha, Dilma fustigou aqueles países que “utilizam de forma abusiva a política monetária”.

Os dois líderes políticos expuseram aos participantes do fórum uma visão comum acerca da organização do mundo. Dilma assegurou que a superação da crise “passa necessariamente pela construção de um novo mundo”. A dirigente brasileira também realizou uma calorosa defesa da ação de seu predecessor, Luiz Inácio Lula da Silva para combater a pobreza. “Se sacrificarmos as conquistas sociais, perderemos a batalha do desenvolvimento”, disse a presidenta. A governabilidade do mundo foi o tema mais atraente da intervenção dos dois chefes de Estado e aquele que deu lugar a propostas concretas. Assim, François Hollande defendeu a “criação de um conselho de segurança econômico e social” em escala mundial. Segundo Hollande, “o diálogo social deve também ser concebido na escala econômica mundial”.

A agenda “progressista” apresentada por Hollande e Dilma inclui outra ideia exposta pelo presidente francês: “no futuro, no cenário internacional, no G8 ou no G20, em todas as organizações, não deve haver nenhuma decisão tomada e discutida sem que seu impacto sobre o emprego seja medido, deliberado, assumido”.

No marco dos assuntos bilaterais, a França tem muito interesse em aprofundar suas já boas relações com o Brasil, que é o primeiro sócio comercial de Paris na América Latina. Há um total de 500 empresas francesas instaladas no Brasil, que empregam cerca de meio milhão de pessoas. A França é hoje o quinto investidor no Brasil com mais de 21 bilhões de euros investidos em 2010. Os intercâmbios entre os dois países se incrementaram de forma espetacular. Nos últimos cinco anos, passaram de três bilhões de euros para 7,5 bilhões em 2011. A França compra do Brasil produtos agroalimentares, soja e bens industriais. Por sua vez, vende bens e equipamentos, em especial nos setores automobilístico, aeronáutico e de defesa. E é precisamente neste terreno que a visita de Dilma poderia fazer diferença. O construtor de aviões Dassault espera ganhar a licitação para vender ao Brasil 36 aviões de combate Rafale. Trata-se de um grandioso contrato de 4,5 bilhões de euros. O modelo da Dassault compete com o F18 norteamericano, da Boeing, e o Gripen sueco. Durante seu mandato, Luiz Inácio Lula da Silva expressou publicamente sua preferência pelo Rafale, mas deixou a decisão em suspenso.

Os temas da política interna também se misturaram nesta viagem. No diálogo com a imprensa, o ex-presidente Lula negou a veracidade das declarações do publicitário Marcos Valério, que assegurou ter pago em 2003 gastos do PT por meio de um sistema de subvenções locais. “É mentira”, disse Lula aos jornalistas. Dilma Rousseff também saiu em defesa de seu predecessor e disse que as acusações só tem o objetivo de desgastar a imagem do presidente Lula.

Tradução: Katarina Peixoto

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