terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Estatais chinesas estão no centro do tráfico de madeira


A China está no centro de um vasto tráfico mundial ilegal de madeira, que destrói em total impunidade áreas inteiras de florestas às vezes ainda intactas. Organizações não-governamentais (ONG) como a WWF ou a Global Winess, bem como trabalhos acadêmicos, já colocaram em evidência a existência de redes que, na África Central, em Mianmar ou na Rússia, por exemplo, levam a cidades ou portos chineses.

Laurence Caramel e Harold Thibault
Pela primeira vez, a acusação foi feita em Pequim e aponta para a responsabilidade de estatais e funcionários públicos locais nesse comércio tão próspero. Recebida para o caso em questão pela embaixada da Dinamarca, a ONG britânica Environmental Investigation Agency (EIA) apresentou na quinta-feira (29) os resultados de sua longa pesquisa: “China, o apetite pela destruição”.
O apetite só tem aumentado nos últimos anos para satisfazer o consumo das novas classes médias, bem como a demanda de uma indústria da madeira voltada para a exportação e cada vez mais solicitada pelas grandes marcas estrangeiras de móveis e da construção civil.
A China se tornou a maior importadora, consumidora e exportadora de madeira do planeta. Mas a exploração de suas florestas atende a menos de 40% de suas necessidades. “Em resposta a graves inundações em 1998, a China adotou um plano de preservação de suas florestas naturais. Ao mesmo tempo ela lançou um amplo programa de reflorestamento ao qual dedicou US$ 31 bilhões em dez anos”, lembram os autores do estudo.
A diferença entre a disponibilidade local de madeira e a demanda só se aprofundou. Em 2011, a China importou 180 milhões de metros cúbicos e de produtos derivados, 28% a mais que em 2010 e 300% a mais que em 2000, segundo estatísticas oficiais. Um terço da madeira colocada à venda no mundo em 2011 foi comprada pela China no ano passado. Fazendo total vista grossa para sua proveniência, afirma a EIA.
Diferentemente dos Estados Unidos, da União Europeia e, mais recentemente, da Austráia, que, sob pressão da opinião pública, adotaram legislações que proíbem as importações ilegais de madeira, as autoridades chinesas têm se recusado até o momento ir por esse caminho. Somente foram assinados acordos bilaterais com os Estados Unidos, a Europa, a Indonésia e Mianmar sem que seu alcance tenha sido demonstrado ainda.
Depois de analisar os dados disponíveis sobre o comércio ilegal de 36 países nos quais as operadoras chinesas se abastecem, a EIA concluiu que cerca de 10% das toras e da serragem importada são de origem fraudulenta. Isso representa um “faturamento” de US$ 3,7 bilhões. Um montante certamente subestimado, pois as toras representam menos da metade do mercado de madeira na China.
Empresas públicas muitas vezes controladas por governos provinciais têm um papel estratégico nesse comércio, afirma a ONG, que cita os casos de importações de toras da Indonésia e de Moçambique, em princípio proibida pela legislação desses países. Em Mianmar, na Papua-Nova-Guiné, nas Ilhas Salomão, entre outras, o relatório descreve redes de corrupção em países com governo instável.
O tráfico particularmente lucrativo de pau-rosa – uma espécie classificada pela Convenção do Comércio Internacional de Espécies Protegidas – está estendendo suas ramificações para Madagáscar, Mianmar, Tailândia, Vietnã e Belize para satisfazer a mania dos ricos por reproduções de móveis das dinastias Qing e Ming. As importações dessa espécie passaram de 66 mil metros cúbicos em 2005 para 565 mil metros cúbicos em 2011.
Uma parte do relatório também é dedicada à Rússia, maior fornecedora de madeira da China. A Sibéria e a região do Grande Leste se tornaram um dos principais centros de comércio ilegal. As toras tiradas das zonas florestais protegidas são encaminhadas para a China com licenças falsas de exportação, detalham os pesquisadores da EIA, que relatam declarações de funcionários da Lonjiang Shanglian Import e Export Company sobre as práticas  de corrupção e as ligações com o crime organizado “para garantir o abastecimento”.
O futuro de grande parte das florestas naturais do mundo está nas mãos da China, conclui a ONG britânica, pedindo às autoridades chinesas que “instaurem uma legislação clara proibindo a importação de madeira ilegal”
Questionado pelo “Le Monde”, o ministério chinês das Relações Exteriores respondeu através de um de seus porta-vozes: “A posição da China é clara. Somos firmemente contra e combatemos a exploração e o comércio ilegal de madeira. Nós nos esforçamos para estabelecer uma relação onde todos saem ganhando, uma gestão estratégica sustentável dos recursos florestais através da cooperação e trabalhamos para enfrentar o desmatamento em meio ao desenvolvimento econômico”.
Tradutor: Lana Lim

Nenhum comentário:

Postar um comentário