Cinco Estrelas: o movimento que quer 'limpar' a Itália
Para além da ideologia pura, todos parecem compartilhar o mesmo princípio de ação: mudar a Itália limpando sua casta política. Nesta entrevista exclusiva à Carta Maior, Alessandro Di Battista, membro do movimento 5 Estrelas, de Beppe Grillo, e hoje deputado por Roma, explica o que este partido fará agora que chega ao parlamento: 25,5% dos votos na Câmara de Deputados e 23,7% no Senado. A reportagem é de Eduardo Febbro, direto de Roma.
Eduardo Febbro
Roma – A juventude e a força que emanam de Alessandro di Battista é proporcional ao resultado que o movimento contestatório Cinco Estrelas obteve nas urnas ao final das eleições legislativas e regionais que deixaram a Itália às portas da ingovernabilidade: 25,5% dos votos na Câmara de Deputados e 23,7% no Senado.
Cinco Estrelas é um fenômeno particular: nem realmente de esquerda, nem realmente de direita, populista e cidadão, com matizes nacionalistas, articulado e construído em torno da ideia de rede, seja a da internet, seja a formada entre cidadãos na própria rua, o movimento do comediante genovês Beppe Grillo introduziu uma variável curiosa na política europeia.
Está contra as elites e o euro sem por isso esgrimir um discurso de cunho esquerdista. Ao mesmo tampo, ao denunciar a corrupção e os abusos do sistema político nacional, Cinco Estrelas atraiu eleitores jovens e menos jovens, uma certa parcela da esquerda e também da direita.
Para além da ideologia pura, todos parecem compartilhar o mesmo princípio de ação: mudar a Itália limpando sua casta política. Nesta entrevista exclusiva à Carta Maior, Alessandro Di Battista, membro do movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo e hoje deputado por Roma, explica o que este partido fará agora que tem o poder nas mãos.
Carta Maior – Depois de Grécia e França, a Itália entra no clube dos países que contam com movimentos dissidentes que ganham sua legitimidade nas urnas com muita folga.
Alessandro Di Battista – Para nós é muito prazeroso porque demonstramos a todos os partidos corruptos da Itália que somos cidadãos bem organizados, informados e preparados. Graças a uma rede de internet entramos agora no Parlamento para mudar por fim este país. A Itália é um país muito bom, belíssimo, mas nos últimos anos foi violada por um sistema criminoso e mafioso representados pelos partidos.
CM – O Cinco Estrelas chegou ao estrelato mediante o contato com as pessoas e a internet. Passaram longe da televisão. É, a sua maneira, o primeiro partido completamente digital.AB – Não só com a internet, mas também com uma rede de cidadãos que utilizou a rede internet e os contatos no território fazendo campanha eleitoral nos mercados, nos bairros populares, na rua e nas praças. Demonstramos que para colocar as instituições de pé não necessitamos de dinheiro público. Demonstramos que nós, cidadãos, podemos tomar nosso país. Isso nos dá uma satisfação imensa.
CM – A imprensa mundial define Cinco Estrelas como um movimento “anti-sistema”. Essa definição é correta?
AB – Você acha que é anti-sistema dizer que os condenados não têm direito de estar dentro do Parlamento? Para nós não é anti-sistema, mas algo perfeitamente lógico. O problema está em que o sistema é corrupto e permite a pessoas que violaram a lei entrar no Parlamento e decidir em meu lugar aproveitando-se das instituições. Isso não pode ser assim e não vai ocorrer mais. Nós somos como um desinfetante. Entramos, abrimos o parlamento como se fosse uma lata de atum e ensinamos a todo o povo da Itália que ele tem sentir orgulho de ser italiano. Caralho! Nós não somos em nada uma organização de esquerda. Pensamos que as ideias devem ser logicas e não ideológicas. Aqui no Cinco Estrelas há pessoas que vêm da esquerda, outras da direita, mas são sobretudo cidadãos lindos e honestos.
Por isso nos interessa muito o que ocorre na América Latina. Pensamos que temos que copiar muitas ideias alternativas que a América Latina tem desenvolvido nos últimos anos. Precisamos ver o que pode funcionar aqui dessas coisas que estão sendo feitas lá, para que a Itália volte a ser um país normal. Felizmente, o povo italiano não é como a classe dirigente que vem administrando o país nos últimos anos. Somos muito melhores. Os movimentos populares latino-americanos conseguem validar seus direitos. Queremos o mesmo para a Itália. Nós somos os pioneiros nesta corrente. Sempre que falam da Itália, se referem à máfia, à bunga bunga, a Berlusconi, que é uma vergonha nacional. Mas agora se começará a falar da Itália de outra maneira graças ao movimento Cinco Estrelas.
CM – Da rua e dos mercados ao poder. O que farão agora? Oposição sistemática, destruir, pactuar com os demais partidos?
AB – Somos um grupo de cidadãos organizados que pode governar melhor que os políticos profissionais. Não vamos bombardear um país que não nos fez nada, mas sim vamos obstruir com toda nossa força. Somos um movimento que está contra a guerra, as armas e os exércitos. Mas se as propostas que um futuro governo apresentar forem boas, estamos dispostos a sentar e discutir. O que nos interessa, acima de tudo, é o bem da coletividade. Nós somos uma comunidade, cada pessoa vale por uma e dá o que tem, mas se somos uma rede vamos valer tanto como o infinito.
CM – O que os une realmente se se trata de lógica e não de ideologia? O ódio à classe política, o desprezo, o cansaço...
AB – Nada disso, O que nos une é a vontade de mudar esse país e fazer da Itália uma nação mais democrática. É claro que a classe de dirigentes que nos governou até agora nos dá nojo. Tem que ir para suas casas. Que se vão todos! Nas próximas eleições vamos limpar o parlamento de uma vez por todas.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Cinco Estrelas é um fenômeno particular: nem realmente de esquerda, nem realmente de direita, populista e cidadão, com matizes nacionalistas, articulado e construído em torno da ideia de rede, seja a da internet, seja a formada entre cidadãos na própria rua, o movimento do comediante genovês Beppe Grillo introduziu uma variável curiosa na política europeia.
Está contra as elites e o euro sem por isso esgrimir um discurso de cunho esquerdista. Ao mesmo tampo, ao denunciar a corrupção e os abusos do sistema político nacional, Cinco Estrelas atraiu eleitores jovens e menos jovens, uma certa parcela da esquerda e também da direita.
Para além da ideologia pura, todos parecem compartilhar o mesmo princípio de ação: mudar a Itália limpando sua casta política. Nesta entrevista exclusiva à Carta Maior, Alessandro Di Battista, membro do movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo e hoje deputado por Roma, explica o que este partido fará agora que tem o poder nas mãos.
Carta Maior – Depois de Grécia e França, a Itália entra no clube dos países que contam com movimentos dissidentes que ganham sua legitimidade nas urnas com muita folga.
Alessandro Di Battista – Para nós é muito prazeroso porque demonstramos a todos os partidos corruptos da Itália que somos cidadãos bem organizados, informados e preparados. Graças a uma rede de internet entramos agora no Parlamento para mudar por fim este país. A Itália é um país muito bom, belíssimo, mas nos últimos anos foi violada por um sistema criminoso e mafioso representados pelos partidos.
CM – O Cinco Estrelas chegou ao estrelato mediante o contato com as pessoas e a internet. Passaram longe da televisão. É, a sua maneira, o primeiro partido completamente digital.AB – Não só com a internet, mas também com uma rede de cidadãos que utilizou a rede internet e os contatos no território fazendo campanha eleitoral nos mercados, nos bairros populares, na rua e nas praças. Demonstramos que para colocar as instituições de pé não necessitamos de dinheiro público. Demonstramos que nós, cidadãos, podemos tomar nosso país. Isso nos dá uma satisfação imensa.
CM – A imprensa mundial define Cinco Estrelas como um movimento “anti-sistema”. Essa definição é correta?
AB – Você acha que é anti-sistema dizer que os condenados não têm direito de estar dentro do Parlamento? Para nós não é anti-sistema, mas algo perfeitamente lógico. O problema está em que o sistema é corrupto e permite a pessoas que violaram a lei entrar no Parlamento e decidir em meu lugar aproveitando-se das instituições. Isso não pode ser assim e não vai ocorrer mais. Nós somos como um desinfetante. Entramos, abrimos o parlamento como se fosse uma lata de atum e ensinamos a todo o povo da Itália que ele tem sentir orgulho de ser italiano. Caralho! Nós não somos em nada uma organização de esquerda. Pensamos que as ideias devem ser logicas e não ideológicas. Aqui no Cinco Estrelas há pessoas que vêm da esquerda, outras da direita, mas são sobretudo cidadãos lindos e honestos.
Por isso nos interessa muito o que ocorre na América Latina. Pensamos que temos que copiar muitas ideias alternativas que a América Latina tem desenvolvido nos últimos anos. Precisamos ver o que pode funcionar aqui dessas coisas que estão sendo feitas lá, para que a Itália volte a ser um país normal. Felizmente, o povo italiano não é como a classe dirigente que vem administrando o país nos últimos anos. Somos muito melhores. Os movimentos populares latino-americanos conseguem validar seus direitos. Queremos o mesmo para a Itália. Nós somos os pioneiros nesta corrente. Sempre que falam da Itália, se referem à máfia, à bunga bunga, a Berlusconi, que é uma vergonha nacional. Mas agora se começará a falar da Itália de outra maneira graças ao movimento Cinco Estrelas.
CM – Da rua e dos mercados ao poder. O que farão agora? Oposição sistemática, destruir, pactuar com os demais partidos?
AB – Somos um grupo de cidadãos organizados que pode governar melhor que os políticos profissionais. Não vamos bombardear um país que não nos fez nada, mas sim vamos obstruir com toda nossa força. Somos um movimento que está contra a guerra, as armas e os exércitos. Mas se as propostas que um futuro governo apresentar forem boas, estamos dispostos a sentar e discutir. O que nos interessa, acima de tudo, é o bem da coletividade. Nós somos uma comunidade, cada pessoa vale por uma e dá o que tem, mas se somos uma rede vamos valer tanto como o infinito.
CM – O que os une realmente se se trata de lógica e não de ideologia? O ódio à classe política, o desprezo, o cansaço...
AB – Nada disso, O que nos une é a vontade de mudar esse país e fazer da Itália uma nação mais democrática. É claro que a classe de dirigentes que nos governou até agora nos dá nojo. Tem que ir para suas casas. Que se vão todos! Nas próximas eleições vamos limpar o parlamento de uma vez por todas.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Nenhum comentário:
Postar um comentário