domingo, 24 de fevereiro de 2013

Diário do reino da austeridade



Vou por uma semana à Europa, a um dos epicentros da sua crise – a Espanha. 
Me lembro do dia em que o Zapatero cedeu às pressões do Obama – que o constrangeu, declarando publicamente, antes do primeiro ministro espanhol assinar o pacote, que havia lhe transmitido suas apreensões (forma de chamar “pressões”) – e assinou o pacote econômico de austeridade. A Espanha vinha de um período de modernização acelerada desde a unificação monetária europeia. Junto com Portugal e Grécia, tinha sido beneficiada pela unificação, incluída a cláusula social, que favorecia os países menos desenvolvidos.

Até ali, as férias europeias viam uma interminável procissão dos Mercedes Benz vindos da Alemanha para passar as ferias nas praias do sul da Espanha, onde reinavam soberanamente do alto do poder do seu marco. 

Na Espanha esse processo era acompanhado com a redemocratização, produzindo a euforia do “destape”, em que a repressão política, que se estendia aos costumes e às artes, davam lugar à liberação das energias reprimidas durante a longa noite do franquismo. A musica, o cinema, as editoras floresceram como nunca, ir à Espanha era uma delicia.

A social-democracia espanhola embarcou alegremente na onda do neoliberalismo, com Felipe Gonzalez e reorganizou sua economia confiando no dinamismo do mercado e na força do euro.

A crise no centro do capitalismo atingiu justamente os países do sul, os mais fragilizados – incluindo a Itália e não poupando nenhum país, na realidade. As noticias que chegam da Espanha são todas arrasadoras. Ter mais da metade dos jovens desempregados, a recessão, que já dura três anos, não tem ainda hora para acabar. 

Uma vez mais a crise pegou os social democratas no governo e, depois de resistir um tempo à pressão da União Europeia, do FMI, da Alemanha e dos EUA, Zapatero finalmente aderiu à onde de austeridade. Como aconteceu com todos os governos que foram por esse caminho, não apenas foram derrotados fragorosamente nas eleições, como, mesmo quando o governo da direita que os sucedeu sofreu o desgaste normal pelo aprofundamento da austeridade, não conseguiram capitalizar esse desgaste, porque o povo localiza neles os responsáveis por ter iniciado o processo recessivo.

A essa Espanha, a do epicentro da recessão, do desemprego, das mobilizações populares contra os intermináveis cortes nos recursos sociais por parte do governo, a ela vou por uma semana para seminário com movimentos sociais espanhóis com o tema Outro mundo está em marcha – Propostas reais da sociedade civil diante da crise global, levando as experiências lationamericanas.
Postado por Emir Sader às 16:24

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