Não há como escapar: A renúncia do Papa Bento XVI ocupou as manchetes no mundo inteiro. Impôs-se e sobreviveu ao carnaval... Até mesmo os céticos, que a princípio viram na repetição da notícia um certo tédio, logo mudaram de opinião.
Tomás de Aquino sou; está-me vizinho / À destra de Colónia o grande Alberto / A quem de aluno e irmão devo o carinho. // Se do mais todos ser desejas certo, / Na santa c´roa atenta cuidadoso, / A tua vista a voz me siga perto.
(Dante Alighieri, A Divina Comédia, Canto X, 97 – 102).
Logo, na Carta Apostólica "Tertio milennio adveniente" (1994), o Papa João Paulo IIconvidou a Igreja a "um irrenunciável exame de consciência, que deve envolver todas as componentes da Igreja, [e que] não pode deixar de haver a pergunta: quanto da mensagem conciliar passou para a vida, as instituições e o estilo da Igreja?".[6]
(Wikipedia)
"A igreja não deve tomar nas mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não deve tomar o lugar do Estado. Mas também não pode ficar à margem na luta pela Justiça."
(Papa Bento XVI)
(Papa Bento XVI)
Não há como escapar: A renúncia do Papa Bento XVI ocupou as manchetes no mundo inteiro. Impôs-se e sobreviveu ao carnaval... Até mesmo os céticos, que a princípio viram na repetição da notícia um certo tédio, logo mudaram de opinião. Marco Aurélio Nogueira, um deles, meu amigo do Face, foi mais longe: retratou-se. E acrescentou no dia seguinte ao da proclamada renúncia:
Se, nesse ano da graça de 2013, um papa quebra essa lógica, esse ritual, é porque há algo no céu além dos aviões de carreira. Pessoalmente, acho que todo mundo tem o direito de renunciar e por isso aplaudo sua ex-santidade. O problema é que quando um papa faz isso ele está mexendo com forças poderosas. Está na verdade sinalizando duas coisas que precisam ser consideradas:
1. Os papas já não estão mais tão próximos de Deus. Suas fraquezas não são mais compensadas.
2. A Igreja já não é mais (se é que alguma vez foi) um santuário imune aos humores humanos e aos tempos sociais. Tornou-se categoricamente uma empresa, em que o CEO pode ser mais ou menos conveniente, etc. A renúncia atual dramatiza isso.
1. Os papas já não estão mais tão próximos de Deus. Suas fraquezas não são mais compensadas.
2. A Igreja já não é mais (se é que alguma vez foi) um santuário imune aos humores humanos e aos tempos sociais. Tornou-se categoricamente uma empresa, em que o CEO pode ser mais ou menos conveniente, etc. A renúncia atual dramatiza isso.
Com efeito, inúmeras análises, no mundo inteiro apontaram essas e outras razões da renúncia de Bento XVI, chamado “O Inquisidor”, pelo seu papel durante 24 anos à frente do Congregação da Doutrina da Fé -http://pt.wikipedia.org/wiki/Congrega%C3%A7%C3%A3o_para_a_Doutrina_da_F%C3%A9-, na qual pontificou, em Roma, pela rigidez de suas posições doutrinárias. Esquecem-se de dizer que tudo o que fez foi em nome do Sumo Pontífice, a quem servia, o midiático porém tradicionalista João Paulo II.
A verdade é que Bento XVI passará para a História como o continuador, tanto de João Paulo II como dos que o precederam, até João XXIII, falecido em 1963, marcando o contraponto do aggiornamento da Igreja de Roma à Modernidade: Um retrocesso, em defesa da Tradição. Surpreendemente, porém, todos eles, sem exceção, e particularmente Bento XVI estão muito distantes do fundamentalismo religioso. Lembre-se que sua declaração mais polêmica , tomada como um libelo contra o Islam , feria, precisamente, a incapacidade desta religião em compatibilizar a razão e a fé.
Na verdade, a Igreja Católica, mesmo sendo um dos ramos do monoteísmo, cedo demonstrou uma inédita capacidade para compatilizar suas crenças e dogmas com a Filosofia, aqui tomada no sentido ocidental da palavra, como pioneira da Ciência e não apenas regras de conduta moral. Isto porque se consolidou como doutrina no coração e no auge do Império Romano, quando o helenismo já se consagrara como cultura e que as próprias ilhas gregas já há tempo haviam sido incorporadas à Roma (147 AC) E pelo fato de que acabou, com Constantino, incorporada ao Império, adotando-lhe vícios e virtudes. E em que consistia o helenismo, tão rechaçado pelos hebreus e, logo depois, os árabes? Muitas coisas, como sublinharam A.Toynbee no seu clássico “O Helenismo” e Miguel Spinelli, em “ Helenização e Recriação de Sentidos. A Filosofia na época da expansão do Cristianismo - Séculos, II, III e IV. Porto Alegre: Edipucrs, 2003”, mas nas quais se destaca a incansável tentativa de fazer da vida uma reprodução sensível da natureza e que veio a se refletir na arte, na Política e na nascente Filosofia.
Designa-se por período helenístico (do grego, hellenizein – "falar grego", "viver como os gregos") o período da história da Grécia e de parte do Oriente Médio compreendido entre a morte de Alexandre o Grande em 323 a.C. e a anexação da península grega e ilhas por Roma em 146 a.C.. Caracterizou-se pela difusão da civilização grega numa vasta área que se estendia do mar Mediterrâneo oriental à Ásia Central. De modo geral, o helenismo foi a concretização de um ideal de Alexandre: o de levar e difundir a cultura grega aos territórios que conquistava. Foi naquele período que as ciências particulares tiveram seu primeiro e grande desenvolvimento. Foi o tempo de Euclides e Arquimedes. O helenismo marcou um período de transição para o domínio e apogeu de Roma.
Com efeito, há um casamento entre a cultura helênica e a fé cristã que fará com que a Igreja de Roma procure, sempre, na Filosofia Clássica, de Platão e Aristóteles, um fundamento teológico consistente, mais além das práticas e ritos da religião. Este não é , nem nunca foi ou será, um caminho reto, mas marcado pelas vacilações , retrocessos e contradições, principalmente depois da institucionalização da Igreja por Constantino e seus intentos de fazer da fé católica o fundamento moral do Grande Império. Às vezes os avanços se dão no campo da doutrina. Outras, no campo dos ofícios. Outras, conjugados nos famosos Concílios, como o de Nicéia, em 325 DC, sob a orientação de Constantino, soberano em Constantinopla, onde sediou-se o sínodo; o de Trento (1545-1563) e o do Vaticano II (1961-1965).
Doutrinariamente, dois grandes nomes resplandecem no catolicismo: Santo Agostinho (354-430), no Século IV, que consubstanciará o longo reinado espiritual da Igreja na Idade Média, e Santo Tomaz de Aquino (1225-1274) , que dá os primeiros passos à adequação da doutrina aos tempos modernos que se anunciam, vindo a ser aceito como doutrina oficial da Igreja pelo Papa Leão XIII, no século XIX, bem evidenciando a lentidão do processo de adaptação da Igreja à Modernidade:
Seu maior mérito foi a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do mundo, introduzindo o aristotelismo, sendo redescoberto na Idade Média, na Escolástica anterior, compaginou um e outro, de forma a obter uma sólida base filosófica para a teologia e retificando o materialismo de Aristóteles. Em suas duas summae, sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua época: a Summa theologiae e a Summa contra gentiles.
A partir dele, a Igreja tem uma Teologia (fundada na revelação) e uma Filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundem numa síntese definitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus. Sustentou que a filosofia não pode ser substituída pela teologia e que ambas não se opõem. Afirmou que não pode haver contradição entre fé e razão.
Mas tanto Santo Agostinho, como Santo Tomaz, dois grandes intelectuais da Igreja, ficaram distantes dos Ofícios. Tiveram tempo e , talvez, mais liberdade, para suas elucubrações teológicas.
Bento XVI tem o perfil deles e até se diz que sua obra deverá ser melhor absorvida quando lida, tal como o foram suas conferências em Roma, sempre mais assistidas do que suas bênçãos. É um intelectual respeitável, embora conservador. Poderia ter sido um grande reformador da Doutrina da Igreja, à luz das grandes transformações dos últimos séculos e dos costumes nas últimas décadas. A Igreja de Roma necessita urgentemente de um grande filósofo, ou perecerá para o fundamentalismo elementar, ao qual o “evangelismo” contemporâneo vai se ajustando, por ignorância ou mero interesse. Mas, voluntária ou involuntariamente, Bento XVI foi guindado ao Vaticano e da cadeira de Pedro jamais conseguiria realizar tal obra. Isto é obra para quem está longe do Poder... Quem sabe, agora, ao final de seus anos e no recolhimento a que se dedicará não poderá, ainda, cumprir o algum papel? Quem sabe, até, não estaria aí o segredo de sua renúncia, tão surpreendente.
(*) Economista IPEA, Prof. Unb – www.paulotimm.com.br – paulotimm@hotmail.com
Fonte: O Autor, por e-mail - Autorizada Publicação INF. BRASIL/ALEMANHA - Com cumprimentos Paulo Timm - Torres/RS
Contato: paulotimm@gmail.com
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