A onda de choque de um meteoro que explodiu sobre a Sibéria, na semana passada, de algum modo arrancou o telhado de uma fábrica de tijolos e vidro, mas deixou uma fachada de vidro próxima intocada.
Andrew E. Kramer
Andrew E. Kramer
Janelas quebradas são vistas em centro esportivo da cidade de Tcheliabinsk, Rússia. A onda de choque provocada pela explosão de meteoro na região feriu mais de mil pessoas
Em alguns edifícios nesta cidade, a primeira comunidade urbana moderna a sentir o ar de um contato imediato cósmico, todas as janelas explodiram nos andares superiores; em outros lugares, foram os pisos inferiores.
Mais estranhamente, relatos surgiram na imprensa local no fim de semana de um fenômeno estranho: por trás de janelas ilesas de apartamentos, jarros de vidro teriam explodido em cacos, pratos racharam, aparelhos eletrônicos deixaram de funcionar. Balcões sacudiram. Um homem disse que uma garrafa quebrou na sua mão.
Anna V. Popova estava em casa com sua filha quando viu o clarão, então ouviu explosões e descobriu que os vidros de sua sacada fechada quebraram para dentro; seu vizinho, com janelas idênticas, escapou sem danos.
"Muita gente sofreu, não apenas nós", disse Popova, mas acrescentando que os danos às propriedades parecem ter sido aleatórios. "Quem supostamente devemos culpar por isso? Ninguém, é claro."
Os cientistas acreditam que a rocha espacial que penetrou na atmosfera na manhã da última sexta-feira (15) e explodiu em pedaços aqui foi a maior a entrar na atmosfera desde 1908, e que também foi incomum na escala de seus efeitos: mais de 1.200 pessoas feridas e grandes danos a propriedades.
De fato, o evento está fornecendo a primeira indicação do tipo de prejuízos estruturais e infraestruturais que os meteoros podem provocar em uma sociedade altamente industrializada. Cientistas da Nasa disseram que um meteoro desse tamanho atinge a Terra aproximadamente uma vez a cada cem anos.
Os vidros quebrados causaram grande parte dos danos e ferimentos aqui em Chelyabinsk, uma ampla cidade industrial de aproximadamente 1 milhão de habitantes.
Mapa mostra cidade onde explosão de meteoro causou quebra de vidraças e deixou feridos
O que quebrou os vidros, dizem os cientistas, foi tanto a explosão provocada pela fragmentação do meteoro quanto as ondas de pressão criadas pela sua desaceleração. Essas ondas de baixa frequência –chamadas infrassom– às vezes são detectadas por sensores de detonações nucleares da Guerra Fria em locais remotos do Oceano Pacífico ou do Alasca, segundo especialistas em meteoros.
As ondas podem refletir nos prédios e se tornarem mais fortes em alguns lugares do que em outros; elas podem ressoar nos vidros. O que explica por que garrafas e pratos podem quebrar dentro de cozinhas não danificadas, como se esmagados por uma mão invisível do próprio meteoro.
"Uma onda de choque é como uma bola", disse Alexander Y. Dudorov, diretor do departamento de física teórica da Universidade Estadual de Chelyabinsk, em uma entrevista. "Atire uma bola em um sala e ela rebaterá de uma parede para outra."
A Rússia mobilizou 24 mil funcionários de emergência para inspecionar estradas, ferrovias, hospitais, fábricas e instalações militares. A maioria não foi danificada, incluindo 122 locais identificados como particularmente críticos, incluindo usinas nucleares, barragens e fábricas de produtos químicos, além de uma plataforma de lançamento espacial chamada Strela.
Também no domingo, a agência de inspeção de segurança do consumidor da Rússia, a Rospotrebnadzor, divulgou uma declaração dizendo que a água no Lago Chebarkul, onde apareceu um buraco no gelo na sexta-feira, não está radioativa.
Não se sabe por que a agência divulgou esse resultado apenas no domingo, ou se testes foram realizados para tranquilizar a população ou devido a alguma incerteza oficial a respeito do que aconteceu na sexta-feira. De qualquer modo, a agência disse que um laboratório móvel foi discretamente enviado para testar o lago, mas não descobriu césio 137 ou estrôncio 90, isótopos criados por explosões nucleares.
Ondas de infrassom não foram anteriormente estudadas em paisagem urbana, disse Richard P. Binzel, um professor de ciência planetária do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e autor de um livro de ensino sobre asteroides e meteoritos, em uma entrevista por telefone. Mas ele notou que a aparente aleatoriedade dos danos é consistente com a forma como essas ondas funcionam.
"Uma onda de choque pode vir de uma direção em particular, e se você estiver de frente para essa direção você estará mais suscetível", disse Binzel.
"Um prédio pode servir de escudo para outro, ou você pode ter uma rua melhor alinhada com o canal da onda, seja de forma afortunada ou desafortunada."
Peter Brown, um professor de física da Universidade do Oeste de Ontário, escreveu por e-mail que uma onda de infrassom "é muito eficiente para viajar longas distâncias", e que "janelas, estruturas ou mesmo jarras de vidro suscetíveis a ressoar nessa frequência poderiam ser um fator nos danos aparentemente aleatórios em locais altamente díspares".
Brown estudou uma explosão semelhante, apesar de menor, de um meteoro sobre o Oceano Pacífico em 8 de outubro de 2009, que também provocou ondas de baixa frequência, apesar de remotas demais para afetar lares ou indústrias.
Mas elas foram registradas por uma rede de sensores de infrassom criada para monitorar o cumprimento da proibição internacional a testes nucleares, segundo Brown.
Alekdander V. Anusiyev, o porta-voz do governador da região de Chelyabinsk, caracterizou os danos aqui como sem um padrão discernível. "É impossível dizer que mais vidro quebrou em uma parte da cidade do que em outra", ele disse. "Vidro quebrou por toda parte."
O teto da fábrica de zinco que caiu era reforçado com vigas de aço e apoiado em pilares de concreto que agora estão quebrados, com barras retorcidas salientes apontando para cima. As janelas de uma casa vizinha explodiram com tamanha força que os batentes foram arrancados junto com elas.
Mas a poucos metros de distância, na rua Sverdlovsky, o cosmo aparentemente poupou uma concessionária da Hyundai aparentemente vulnerável, um cubo de vidro de três andares com os modelos em exibição em seu interior. Nenhum vidro quebrou.
"As pessoas podem considerar 15 de fevereiro como seu segundo aniversário", disse o governador de Chelyabinsk, Mikhail Yurevich, aos repórteres, referindo-se ao dia que a cidade foi atingida pelo meteoro. "Deus desviou o perigo."
Ellen Barry, em Moscou (Rússia), contribuiu com reportagem
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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